Política ambiental do governo Bolsonaro afasta investidores internacionais
Pesquisador da UFMG aponta consequências da agenda ambiental do governo federal na economia e nas relações exteriores do país
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em junho deste ano a destruição da floresta amazônica cresceu cerca de 10% em relação ao mesmo mês de 2019, apesar de o ano passado inteiro ter registrado a maior área derrubada em uma década. O crescimento constante do desmatamento no Brasil tem aumentado a desconfiança internacional em relação à gestão ambiental no governo Bolsonaro. Na última semana, representantes de fundos de investimento e pensão estrangeiros se reuniram com ministros e o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, e pressionaram o governo pela redução do desmatamento. Empresários brasileiros também realizaram uma reunião com o suplente de Bolsonaro relatando ter recebido menos investimentos em 2020 por causa da piora da imagem internacional do Brasil quanto à Floresta Amazônica.
Em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, o professor do Departamento de Ciências Econômicas e pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da UFMG, Edson Domingues explicou por que o descaso com a preservação ambiental resulta na retirada de investimentos no país. “Os grandes fundos de investimento estrangeiro têm normas de funcionamento, em que um dos condicionantes para se investir em determinados países exige que eles cumpram com acordos de preservação do meio ambiente e redução do desmatamento, por exemplo. Quando identifica-se em um país o não cumprimento das normas ambientais, esses investimentos começam a ser reduzidos proporcionalmente e é isso que vem acontecendo com o Brasil, principalmente nos últimos 2 anos”, analisa o pesquisador.
Domingues alerta que a diminuição de investimentos no país pode afetar diversas camadas da sociedade: “Essa redução de investimentos e de compras externas gera uma série de impactos na produção desses setores econômicos. Menos produção causa menos contratação de trabalhadores, o que reduz o emprego e gera menos compras de insumos agrícolas e industriais, atingindo todos os setores da indústria. No final, afeta até a arrecadação de impostos, que são atrelados a produção”, ressalta o professor, que considera a perspectiva preocupante “numa situação atual em que o Brasil, que já vinha enfrentando uma crise econômica, precisaria de uma grande quantidade de investimentos para crescer e se recuperar das consequências da pandemia”.
Troca de ministros não resolve o problema
Na última semana, um grupo de procuradores do Ministério Público Federal (MPF) pediu que a Justiça afastasse do cargo o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. O MPF acusa o ministro de promover “a desestruturação de políticas ambientais e o esvaziamento de preceitos legais mediante o favorecimento de interesses que não possuem qualquer relação com a finalidade da pasta” ocupada por Salles. Por sua vez, o Ministério do Meio Ambiente disse, em nota, que a ação dos procuradores “traz posições com evidente viés político-ideológico em clara tentativa de interferir em políticas” do governo federal.
Para o professor Edson Domingues, as atitudes do ministro no comando da pasta refletem a política ambiental do próprio governo federal. “O ministro personifica agenda de política ambiental do governo Bolsonaro, que é marcada pela permissividade com o desmatamento na Amazônia. Trocar os encarregados e manter a agenda é totalmente irrelevante para os investidores internacionais, que querem observar a redução do desmatamento de forma crível e verificada. Hoje em dia esses dados são facilmente aferidos por imagens de satélite, então os discursos propagandistas do governo não são efetivos caso não sejam acompanhados de mudanças efetivas na gestão ambiental e o país vai continuar sofrendo as consequências internacionais dessa política”, concluiu.