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Política na América Latina: uma nova Constituição para o Chile e um novo presidente na Bolívia

Professora Adriane Aparecida Vidal Costa, do Departamento de História da UFMG, falou sobre o assunto no programa Conexões

Manifestantes na Praça Itália, no centro de Santiago, local emblemático para o “Estallido Social”.
Manifestantes na Praça Itália, no centro de Santiago, local emblemático para o “Estallido Social”. Carlos Vera/Colectivo2+ / Fotos públicas / CC BY-NC 2.

No dia 25 de outubro de 2020, a população do Chile decidiu, por ampla maioria, que o país deverá trocar seu principal conjunto de leis. Outra notícia importante neste mês de outubro, na América Latina, foi a eleição de Luis Arce à presidência da Bolívia. Arce é filiado ao mesmo partido do ex-presidente Evo Morales. 

Para discutir as implicações desses eventos políticos recentes da América Latina e como eles se relacionam com o Brasil, o Conexões conversou, na sexta, dia 30, com a professora Adriane Aparecida Vidal Costa, do Departamento de História. 

Chile: uma nova constituição

Um ano passado dos protestos que tomaram conta da capital Santiago, 79,21% dos eleitores chilenos que participaram do plebiscito votaram pela redação de uma nova Constituição, que vai substituir a carta vigente desde a ditadura comandada por Augusto Pinochet, entre os anos de 1973 e 1990. No mês de abril de 2021, haverá uma nova eleição para escolher os integrantes do organismo responsável por redigir essa Constituição. Um elemento a ser destacado é o fato de que o organismo responsável por definir a nova Constituição terá de ser formado por 50% de mulheres e 50% de homens. Também haverá um cota de assentos reservados para os povos indígenas, embora o Congresso chileno ainda não tenha definido quantos e como serão eleitos.

É importante lembrar que os protestos no Chile, em 2019, começaram devido um aumento nas tarifas no metrô, e, mesmo que a maioria apoiasse manifestações pacíficas, a resposta policial fez com que nascesse um “estallido social”, ou surto social generalizado, com pessoas encapuzadas depredando espaços na cidade, delegacias e tendo como consequência o incêndio de duas igrejas e a morte de pelo menos 20 pessoas. “A resposta do governo, do atual presidente chileno, Sebastián Piñera, foi extremamente violenta. Logo foi declarado estado de exceção com toque de recolher em muitas cidades do país. A partir de então, o governo assumiu o discurso crescentemente autoritário, colocou nas ruas as forças de repressão, e o presidente declarou que o “o Chile estava em Guerra”. Claro que a população em protesto rapidamente vinculou tudo isso aos tempos da ditadura, o que acirrou ainda mais os ânimos no país”, relata a professora Adriane Aparecida Vidal Costa.

Sobre os aprendizados do reflexo do processo democrático no país vizinho para a nação brasileira, o grande desafio é aprender a “conjugar ao mesmo tempo democracia, desenvolvimento econômico e justiça social”, conclui a professora do Departamento de História.

Eleições na Bolívia

As eleições presidenciais na Bolívia foram realizadas no dia 18 de outubro, e o vencedor, Luis Arce, obteve 53% dos votos, contra 30% do ex-presidente Carlos Mesa. Arce pertence ao MAS, partido ao qual também está ligado o ex-presidente Evo Morales. Para a professora Adriana Vidal, a retirada do ex-presidente, que foi concebida, para muitos bolivianos, como um golpe articulado com o exército e outras forças políticas, pode ter favorecido a vitória de Arce já no primeiro turno, com mais de 20% de vantagem sobre o segundo colocado. Junta-se a isso a recessão do governo interino, que esteve envolvido em vários escândalos de corrupção, a falta de força política de Jeanine Añez, com os movimentos indígenas, e a posição moderada de Arce, que foi ministro da economia no governo de Evo Morales. 

Embora seja difícil conjecturar quais serão as reações da gestão brasileira a essa nova eleição, Adriana Vidal comenta sobre como fica a relação da Bolívia com o Brasil . “A Bolívia irá manter uma relação bastante pragmática com o Brasil. De acordo com especialistas em relações internacionais, não haverá qualquer retaliação do apoio dado por Bolsonaro à oposição”, tranquiliza a professora. 

Ouça a conversa com Luíza Glória

Produção: Tiago de Holanda
Publicação: Isadora Oliveira, sob orientação de Luíza Glória