UFMG celebra cultura, tradição e modernidade de Minas Gerais
Evento teve conferência sobre a influência da Semana de 22 na cultura mineira e lançamento de livro de ensaios; à tarde, professores falam da relação do estado com as serras
Em evento que celebrou os 300 anos de Minas Gerais nesta quinta-feira, 10, professores, pesquisadores e autoridades exaltaram as riquezas e a diversidade do estado, além da participação da UFMG na construção da história de Minas Gerais. A Universidade foi lembrada pela sua atuação na produção de conhecimentos e tecnologias que ajudaram, ao longo dos anos, no desenvolvimento do estado.
Na abertura do evento, o presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, deputado Agostinho Patrus, afirmou que a UFMG está marcada na história do estado porque produz conhecimento e forma pessoas "que honram Minas Gerais onde quer que estejam”.
O professor e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), Paulo Sérgio Lacerda Beirão, afirmou que os 300 anos do estado geram uma reflexão que demonstra a urgência de construir uma Minas mais cordial, menos desigual e fundada na solidariedade e nos valores de verdade pregados pela ciência. Segundo Beirão, aí reside a importância de que instituições como a UFMG e a Fapemig continuem participando ativamente da vida social de Minas Gerais.
“Vivemos hoje uma profunda crise moral com consequências profundas na sociedade e na economia. Precisamos reestruturar nossa economia com base no conhecimento, na ciência, na tecnologia e na inovação, mas sem negligenciar o papel das ciências humanas, que nos possibilitam refletir sobre nós mesmos, nossos valores, nossa cultura e nossa identidade. A sociedade mineira já manifestou que reconhece e valoriza a ciência”, disse Beirão, que é docente vinculado ao Instituto de Ciências Biológicas da UFMG.
Semana de Arte Moderna e as Gerais
Durante a conferência Minas Mundo – cosmopolitização da cultura brasileira?, o professor de sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) André Botelho, um dos coordenadores do projeto Minas Mundo, citou a Semana de Arte Moderna de 1922 como “um movimento artístico que, além de criticar a estética parnasiana, funcionou como ponto de partida para novos ideais de cultura, sociedade e política mais amplos”.
Ao abordar as influências da Semana de Arte Moderna na cultura e na arte mineiras, o professor destacou a necessidade de reconhecer que "o modernismo se impôs como um ponto de vista do qual se pode avaliar tanto a cultura mineira quanto a brasileira. Vivemos em um momento de tentativa de controle cultural que exige um gesto a favor do cosmopolitismo”, concluiu.
'Enigma em constante construção'
O evento de comemoração dos 300 anos de Minas Gerais contou com o lançamento do livro Orbe e encruzilhada – Minas Gerais 300 anos, organizado pelo professor José Newton Coelho Meneses, do Departamento de História da Fafich, diretor do Centro de Estudos Mineiros da UFMG. Publicada pela Editora UFMG, a obra reúne 14 ensaios sobre questões consideradas fundamentais na construção do estado.
“O livro tem caráter interdisciplinar porque a compreensão dessa Minas indecifrável é estimulante. Partimos de problemas da contemporaneidade, questões que são comemoradas, evidenciadas e que convidam à reflexão desde 1720. Admitimos a quase impossibilidade de abarcarmos todas as pesquisas importantes que já foram feitas sobre a construção de Minas, mas o livro traz a ideia de uma Minas em constante construção”, explicou Meneses.
O professor acrescentou que a economia diversificada desde a fundação do estado, a sua natureza, as ideias revoltosas e inconfidências, as letras, os espaços e a territorialidade são alguns dos temas abordados nos ensaios. “Nosso estado pode ser decodificado em sua diversidade se caminharmos em suas múltiplas temporalidades. Minas é um claro enigma, e cada autor encontrou uma Minas Gerais específica ao escrever o seu ensaio. O livro apresenta sínteses de uma cultura mineira que ultrapassa fronteiras, de uma Minas de imperfeições, de realidades duras e doídas, de promessas e esperanças."
A reitora Sandra Regina Goulart Almeida recorreu a Santo Agostinho para destacar a importância de celebrar a história de Minas Gerais. “Santo Agostinho dizia que o passado não existe mais, o futuro ainda não chegou e o presente torna-se passado a cada instante. Ele nos lembrava que existem três presentes: o das coisas passadas, que são as nossas memórias, o presente do presente, que é o nosso olhar atual, e o presente das coisas futuras, que é a nossa esperança – no nosso caso, o que desejamos para o nosso estado. O espírito de Minas se construiu ao longo dos anos, e esse livro busca essa reflexão e o entendimento de que, em Minas, tudo é possível", sentenciou.
No fim da manhã, o Ars Nova – Coral da UFMG apresentou dois coros virtuais inéditos com peças dos compositores mineiros José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita e Carlos Alberto Pinto Fonseca.
Minas e a paisagem
O evento, que está sendo transmitido pelo canal da Coordenadoria de Assuntos Comunitários no YouTube, tem continuidade nesta tarde, a partir das 14h, com discussões abrigadas no tema Minas e as serras. Quatro professores da UFMG de diferentes áreas discutirão as várias facetas de Minas Gerais, considerando a relação com as suas serras. Verona Campos Segantini, da EBA, vai apresentar Patrimônio e paisagem cultural da serra de São José. O professor Bernardo Machado Gontijo, do Instituto de Geociências (IGC), fará a exposição 300 anos de Minas: uma história que passa pelo Espinhaço. Mariana de Oliveira Lacerda, também do IGC, apresentará A paisagem diamantina e o fazer garimpeiro: o silêncio como esquecimento. Em sua participação, José Newton Coelho Meneses, da Fafich, abordará o tema Narrar as serras e suas riquezas.
As atividades do evento Cultura, modernidade e tradição: Minas Gerais 300 anos integram o calendário de comemorações do aniversário de fundação da capitania de Minas Gerais. A agenda foi organizada pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), com curadoria da UFMG. A programação, iniciada em março de 2020, também envolve o Tribunal de Justiça, o Ministério Público, o Tribunal de Contas e a Defensoria Pública de Minas Gerais.