Pesquisa e Inovação

Professoras da UFMG integram projeto internacional sobre Kant

Iniciativa reúne oito universidades da Europa, Brasil e Argentina; abordagem na América do Sul é considerada inovadora

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Junto ao busto de Kant, na Fafich, a partir da esquerda: Patricia Kauark-Leite, Heiner F. Klemme (Alemanha), Giorgia Cechinatto, Virginia Figueiredo e Guido de Almeida (UFRJ) 
Acervo das pesquisadoras

A produção acadêmica sobre o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) na América do Sul tem despertado cada vez mais interesse de pesquisadores e universidades europeias. Eles são atraídos, por exemplo, pela capacidade de aliar a abordagem hermenêutica dos europeus à filosofia analítica dos norte-americanos. Esse interesse e a constatação de que cresce exponencialmente a relevância da participação dos sul-americanos no debate internacional sobre o pensamento kantiano motivaram a criação do projeto Kant in South America (Kantinsa), que reúne quatro universidades europeias e quatro sul-americanas, entre as quais, a UFMG.

O projeto, financiado pela União Europeia e pela Fapemig, foi iniciado em 2018 e terá duração de quatro anos. O Brasil e a Argentina já começaram a receber os pesquisadores europeus; os sul-americanos irão à Europa a partir de 2020. Os pesquisadores se reúnem em seminários, cursos e outras atividades de intercâmbio.

As professoras da UFMG envolvidas no projeto são Giorgia Cechinatto, Patricia Kauark-Leite e Virginia Figueiredo, todas vinculadas ao Departamento de Filosofia. Além da UFMG, integram o Kantinsa a Universidade Federal de Santa Catarina, Universidad de Buenos Aires, Conicet (Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas), Università di Catania, London School of Economics and Political Science, MLU Halle-Wittenberg e Universidade de Lisboa.

‘Críticas’ fundamentais
Immanuel Kant foi um dos pensadores mais importantes do Iluminismo – apostou na racionalidade para abrir os caminhos da evolução da humanidade. Dedicou-se sobretudo a pensar questões relativas à epistemologia, à ciência, à ética, à estética, à história e ao direito. Três de suas obras fundamentais foram a Crítica da razão pura, em que tratou do que se pode conhecer, a Crítica da razão prática (o que se deve fazer), e a Crítica da faculdade de julgar (o que é permitido esperar).

“Kant promoveu na Filosofia uma revolução que ele mesmo comparou com a de Copérnico, que deslocou para o sol o centro do sistema solar. Ele deslocou as principais questões metafísicas para o sujeito, que é ao mesmo tempo um agente moral e um agente do conhecimento objetivo do mundo”, explica Patricia Kauark-Leite. Segundo ela, há uma forte tendência contemporânea a pensar os maiores problemas da atualidade sob a ótica da filosofia kantiana.

Enquanto os europeus tendem a tratar a filosofia e a história da filosofia de forma predominantemente historiográfica, os americanos preferem usar a filosofia da linguagem para entender os problemas atuais. De acordo com Partricia Kauark-Leite, pode-se dizer que, no Brasil, a recepção kantiana distribuiu-se, de modo não excludente, entre essas duas tradições. "Aqui, não só convivem essas duas tradições, chamadas vulgarmente de 'Continental' e 'Analítica anglófona'), como algumas vezes elas se combinam. É essa novidade que os estrangeiros desejam conhecer melhor”, diz..

Patricia investiga as interações entre a filosofia kantiana e a análise filosófica sobre mecânica quântica. Em 2012, ela recebeu o Prêmio Louis Liard, concedido pela Academia de Ciências Morais e Políticas da França, pelo livro Théorie quantique et philosophie transcendantale: dialogues possibles (Paris: Hermann, 2012).  Trienal, o prêmio recompensa uma obra publicada em língua francesa por tratar uma questão de filosofia ou de educação empregando métodos racionais ou experimentais e pela precisão de resultados. 

Virginia Figueiredo foca suas pesquisas na estética e filosofia da arte, aproximando noções contemporâneas da arte ao universo kantiano, e Giorgia Cechinatto concentra seus estudos nas relações de Kant com herdeiros de sua tradição, como Friedrich Hegel (1770-1831) e Johann Gottlieb Fichte (1762-1814).