Programa Participa UFMG, de apoio às comunidades atingidas pelo desastre de Mariana, define agenda de ações conjuntas
A primeira reunião do programa Participa UFMG Mariana/Rio Doce – que apoia comunidades atingidas pelo rompimento da barragem de minério na cidade mineira –foi realizada na manhã desta quarta, 30, no campus Pampulha. Organizado pela Pró-reitoria de Extensão, o evento contou com a participação de 28 docentes, servidores técnico administrativos e estudantes de pós-graduação, representantes dos 53 grupos de extensão e pesquisa cadastrados no programa e que já vêm desenvolvendo ações nas regiões de Mariana e do Rio Doce.
O objetivo do Participa UFMG é articular grupos da UFMG envolvidos com mapeamento, diagnóstico e soluções para os danos e possível reconstrução das áreas atingidas, além de estimular o desenvolvimento de ações interinstitucionais continuadas.
A vice-reitora da UFMG, Sandra Goulart Almeida, agradeceu a adesão e o envolvimento dos grupos em resposta à chamada pública aberta pelo Participa e disse que a expectativa é que "o engajamento de tantos agentes, incluindo os servidores técnico-administrativos, tenha grande efeito multiplicador e ponha em ação a dimensão pública da Universidade".
A pró-reitora de Extensão, Benigna Maria de Oliveira, destacou a importância de a UFMG se manifestar a respeito dessa tragédia de maneira mais ampla, não descolada de uma política institucional. Ela exaltou o trabalho em rede desenvolvido pela Proex, em áreas como saúde mental, juventude e cidades, que seguem a mesma lógica do Participa UFMG.
Participaram também da abertura a pró-reitora de Pesquisa, Adelina Martha dos Reis, e a pró-reitora adjunta de Extensão, Claudia Mayorga [foto], que apresentou a proposta de elaboração do Observatório Interinstitucional da Tragédia Mariana/Rio Doce, composto inicialmente pela UFMG, pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). “Essa ideia foi proposta pelo reitor Jaime Ramírez, como forma de divulgar e deixar totalmente disponíveis as informações, produções, reflexões e posições que estão sendo construídas ao longo do processo”, disse Claudia Mayorga.
Outra proposta é ampliar a parceria interinstitucional. Segundo a pró-reitora adjunta, a UFMG já foi procurada pelo Ministério da Cultura – interessado em colaborar nas temáticas vinculadas a cultura e patrimônio histórico e imaterial da região –, pelo Ministério Público Federal, pela Unifesp e outras instituições brasileiras e estrangeiras.
O encontro desta manhã definiu também uma agenda de trabalho e a realização de nova reunião no início de maio. Em junho, haverá um seminário, organizado pelo Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (Ieat) em parceria com a UFMG e a Ufop, que vai discutir a legislação brasileira sobre construção de barragens, as técnicas usadas no Brasil e no mundo, atuação dos órgãos de fiscalização e a situação atual em Minas Gerais e no país. Existem no Brasil 401 barragens de rejeitos enquadradas na Política Nacional de Segurança de Barragens, sendo 317 delas em território mineiro.
O encontro também mostrou que, entre os grupos da UFMG, há várias ações em andamento, na região de Mariana e Rio Doce, entre as quais o ciclo de debates do Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais (Gesta), que acontece amanhã, 31, a partir das 13h30, na Fafich, campus Pampulha. Mesa-redonda sobre “o desastre e suas consequências seis meses depois”, também organizada pelo Gesta – em parceria com a Fiocruz e outras instituições –, será realizada no dia 5 de maio, em Mariana.
‘Desastre tecnológico’
Vários professores nomearam o incidente como um “desastre tecnológico” provocado por negligência da empresa responsável, que derramou sobre a região cerca de 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos de lama (62 bilhões de litros, quantidade suficiente para encher 24.800 piscinas olímpicas) da exploração de minério de ferro.
A professora Maria Rita Scotti Muzzi, do Departamento de Botânica do ICB, explicou que a recuperação do solo de Bento Rodrigues vai exigir o desenvolvimento de novas tecnologias, pois a lama derramada é pobre em material orgânico, cheia de sedimentos e impede o nascimento de plantas e vegetação. “O solo está ressecado, e criou-se uma capa onde nada nasce. A terra ficará infértil por um período entre 30 e 50 anos, de acordo com relatório divulgado pela Embrapa”, disse.
Claudia Mayorga encerrou o encontro chamando a atenção para as intervenções “qualificadas de pessoas que estão envolvidas com o assunto há muito tempo”. Ela ressaltou que há ações emergenciais, mas também um esforço de reconstrução bem mais estrutural, “que certamente será pauta de uma agenda política, de discussão e de trabalho muito mais ampla. Além disso, temos necessidade de ampliar o diálogo com a população atingida e seus representantes, fortalecendo nossa conexão com os movimentos que unem as pessoas atingidas por essa tragédia”, concluiu a pró-reitora adjunta de Extensão.