Institucional

Simpósio discute projeções sobre contágio e perspectiva regional da Covid-19

Por videoconferência, professores também apresentaram estudos sobre subnotificação e necessidade de ampliar a testagem

Takahashi:
Takahashi: modelo matemático simplifica dimensão do fenômenoRaphaella Dias / UFMG

“A taxa de transmissão não é igual em todos os lugares do país, depende de especificidades culturais. Essas peculiaridades é que determinam os parâmetros que temos que diminuir com as medidas de isolamento." A avaliação foi feita pelo professor Ricardo Takahashi, do Departamento de Matemática, na segunda rodada do web simpósio A pandemia de Covid-19 e o isolamento social – reflexões e contribuições da UFMG, realizado na tarde desta quarta-feira, 29, pelo Comitê de Enfrentamento do Novo Coronavírus da UFMG, com o objetivo, entre outros, de avaliar as medidas de contenção do novo coronavírus.

Takahashi, que é assessor especial da Reitoria, explicou que o uso de modelos matemáticos para predizer os desdobramentos da pandemia serve para simplificar as dimensões do fenômeno, por meio de variáveis básicas. “A compreensão da evolução do fenômeno foge ao repertório mental natural do ser humano", justificou. 

De acordo com o matemático, as equações podem revelar estimativas confiáveis para orientar as decisões no contexto da pandemia. “Não é necessário testar todos os casos suspeitos, basta se ater a uma amostragem adequada. Assim, é possível estimar o número de casos por dia e gerar intervalos de confiança para as estimativas”, observou.

Mário Campos:
Mário Campos: esforço para atender demanda por testesRaphaella Dias / UFMG

Força-tarefa
O pró-reitor de Pesquisa, Mário Campos, destacou a colaboração de laboratórios da UFMG em resposta à demanda por realização de testes de Covid-19, já que a Fundação Ezequiel Dias (Funed), única instituição inicialmente responsável por essa tarefa, tendia, ainda no mês de março, a ficar sobrecarregada.

Sete laboratórios da universidade, segundo o pró-reitor, foram habilitados a trabalhar na realização de testes: os de Virologia e de RNA de Interferência, ambos do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), o do Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico (Nupad), da Faculdade de Medicina, o Aquacen, da Escola de Veterinária, o de Biomarcadores, da Faculdade de Farmácia, além dos laboratórios do INCT Dengue e do CT Vacinas. “Nesses casos, são utilizados recursos que já possuíamos, como insumos, reagentes e estrutura de pessoal, composta de estudantes de graduação e pós-graduação. O objetivo dessa força-tarefa foi o de zerar a fila de exames concentrada na Funed”, informou.

Estimativas
A transmissão do coronavírus em estados e capitais brasileiras foi objeto da apresentação do professor Flávio Figueiredo, do DCC. Ele descreveu a contribuição da plataforma Brasil I.O., que funciona como repositório de dados públicos disponibilizados em formato acessível. “A página apresenta uma estimativa do número básico de reprodução (R0), que diz respeito ao número de pessoas que um indivíduo infectado vai contaminar. Para conter uma doença, é importante que o R0 seja menor do que 1. Uma das formas de conseguir isso é o isolamento social”, descreveu.

O docente destacou, no entanto, que ainda que a taxa de infecção seja baixa, mortes continuarão a ser registradas. A página do Brasil  I.O. reúne dados e projeções atualizadas a cada dois dias.  

Subnotificação
De acordo com estudo desenvolvido por acadêmicos do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da UFMG, estima-se que, para cada caso confirmado de Covid-19 no Brasil, existam 7,7 pessoas com a doença. O trabalho foi apresentado durante o simpósio pelo professor Leonardo Costa Ribeiro.

“A ideia do trabalho é estimar o real número de infectados. Infelizmente, não há confiabilidade nos dados que chegam ao conhecimento de todos, devido à dificuldade na compra de testes, que são uma demanda mundial”. observou o docente. Segundo Ribeiro, são realizados no país 300 testes por milhão de habitantes, enquanto na Itália a proporção é de 15 mil por milhão. “Isso gera incerteza sobre qual a real situação de desenvolvimento da pandemia no Brasil e sobre decisões que devem ser tomadas, como as relativas aos momentos de afrouxar ou de enrijecer medidas de restrição”, argumenta.

O professor explica que o cálculo para estimar o nível de subnotificação no país levou em consideração indicadores como o percentual de ocupação de UTIs e o número de hospitalizações por síndrome respiratória aguda (SRAG). “Em março de 2019, ocorreram 3.305 internações no Brasil por SRAG. No mesmo mês, em 2020, foram 12.506”, informou.

Necessidade de leitos
Outro estudo levado a cabo no Cedeplar foi apresentado pela professora Mônica Viegas. No trabalho, ela e seus colegas analisaram a demanda e a oferta de leitos e equipamentos de ventilação assistida no Brasil, considerando o perfil etário de infecção, o risco etário de internação e as distâncias territoriais.

“No contexto da pandemia, o gestor precisa estar atento sobre em que medida a lógica regionalizada se traduz para o acesso dos pacientes”, afirmou a professora. Ela apresentou um mapa em que é mostrada a distância mínima média percorrida em cada região do país para se chegar ao leito UTI mais próximo. “Em algumas áreas do Norte e do Nordeste, as pessoas percorrem distâncias maiores. Em 8% dos municípios brasileiros, esse deslocamento supera 240 quilômetros. Essa realidade demanda logística de transporte aéreo”, exemplificou.

Na visão da professora, a heterogeneidade regional em relação à oferta de UTIs e às taxas de infecção impossibilita que seja adotada uma única forma de contenção da propagação do vírus. “É necessário, além de aumentar os leitos disponíveis, instituir uma central de regulação para organizar a fila de espera e a mobilidade dos profissionais”, sugere. Leia mais sobre o assunto.

Francisco Cardoso:
Francisco Cardoso: movimentos de ocupação e desocupação de leitos depende do porte dos hospitaisRaphaella Dias / UFMG

O pesquisador Francisco Cardoso, do Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (Nescon) da Faculdade de Medicina, falou sobre os estudos desenvolvidos no âmbito do órgão, em parceria com Escola de Engenharia, que resultaram na elaboração de uma tabela para orientação dos gestores. Segundo o professor, nos serviços de saúde, os movimentos de ocupação e desocupação dos leitos devem cumprir uma curva específica, dependendo do porte das instituições, para que nunca se recusem pacientes. “No caso de uma unidade com 100 leitos ou mais, a taxa de ocupação pode chegar a 85%. Em se tratando de uma instituição com apenas 20 leitos, o ideal é que somente a metade esteja ocupada”, comparou.

Audiência
O web simpósio A pandemia de Covid-19 e o isolamento social – reflexões e contribuições da UFMG foi transmitido pelo canal da Coordenadoria de Assuntos Comunitários (CAC) e registrou 3,9 mil acessos, com pico de 599 acessos simultâneos. A TV Assembleia também transmitiu o evento por meio de seus canais VHF, UHF e por assinatura.

Na primeira parte, foram abordadas as características do novo coronavírus, as evidências científicas sobre o isolamento social, as condições do sistema de saúde em Minas Gerais e em Belo Horizonte e as implicações psíquica, social, econômica, educacional e de mobilidade internacional da pandemia.

Matheus Espíndola