Protesto contra a Stock Car no Mineirão ganha novos apoiadores
Ato neste sábado teve adesão de torcedores e reuniu representantes de correntes políticas distintas
Cerca de 200 pessoas participaram de uma manifestação em frente ao Mineirão, na manhã deste sábado, contra a realização da corrida automobilística Stock Car, com etapa prevista no próximo mês de agosto no entorno do estádio e nas imediações da UFMG. O evento pode afetar diretamente o Hospital Veterinário, o Biotério Central, o Centro Esportivo Universitário (CEU), o Centro de Treinamento Esportivo (CTE), entre outras instalações da Universidade, além dos impactos na rotina das 60 mil pessoas que frequentam o campus Pampulha.
O ato reuniu professores, servidores e estudantes da Universidade, representantes de associações de moradores de bairros da região da Pampulha, ambientalistas, parlamentares de diferentes campos ideológicos e cidadãos que apoiam os movimentos #StockCarNaUFMGNão e #StockCarNaPampulhaNão.
A concentração começou às 9h na portaria do CEU. Depois de se unirem de mãos dadas em frente ao estádio, os participantes distribuíram panfletos a torcedores do Cruzeiro que estavam aglomerados para comprar ingressos para a partida final do Campeonato Mineiro neste domingo, 7 de abril, contra o Atlético. Em seguida, os manifestantes se reuniram para tirar uma foto na esplanada do Mineirão.
O bombeiro hidráulico Mateus Brito estava na fila para comprar o bilhete do clássico e resolveu se juntar ao protesto. “Eu não sabia da manifestação, mas a Stock Car era uma coisa que eu não apoiava, de qualquer forma. Não traz benefício para o público, quem está promovendo faz somente para lucrar, e nós não vamos ganhar nada com isso”, disse.
O analista de sistemas Leonardo Almeida, morador da região da Pampulha, disse não ser contrário ao evento esportivo, mas defendeu que a prova seja realizada em outro local da capital mineira. Ele foi com a esposa e os filhos para participar da manifestação e contou já ter assistido a uma prova da Stock Car em Curvelo, na região central de Minas Gerais. “A corrida provoca muito ruído, intenso e prolongado. Eu concordo que ela seja realizada em um local mais afastado, e há lugares melhores para fazer isso em Belo Horizonte do que um local urbano, como aqui na Pampulha, onde vai gerar tumulto, em termos de quantidade de pessoas, por mais que seja durante um período específico”, argumentou.
Outro morador da Pampulha, o médico veterinário Rodrigo Novaes Viegas, ex-aluno de mestrado da UFMG, que também participou da manifestação com a família, tem opinião semelhante. “Não somos contra a Stock Car, mas não faz sentido fazerem isso aqui na Pampulha, em volta do Mineirão. Poderiam fazer em outro lugar, com estudo de impacto ambiental”, sugeriu.
“Existem lugares muito mais adequados do que em volta do Mineirão, que fica perto de bairros residenciais, com hospitais e o biotério da UFMG próximos. Isso vai causar não só impacto ambiental, mas para todos os moradores, também”, completou a estudante de Relações Internacionais da PUC Minas Clara Lisboa Viegas.
Patrimônio de BH
O protesto contou com o apoio de 11 associações, que representam moradores não só de bairros da Pampulha, como São Luís, São José, Bandeirantes, Ouro Preto e Planalto, mas também de outras regiões da cidade, a exemplo de Mangabeiras, Santa Teresa, Buritis, Nova Floresta e Silveira. Em manifesto, essas entidades indicam os impactos ambientais e os prejuízos para a mobilidade, para a segurança e para o patrimônio cultural da região.
“Os moradores do bairro Bandeirantes e da região entendem que a Pampulha é um patrimônio ambiental, cultural e urbanístico de todos os belo-horizontinos. Essa é uma área de lazer que deve ser preservada para os atuais frequentadores e para as futuras gerações”, enfatizou Paula Lisboa, representante da Associação Pró-interesses do Bairro Bandeirantes (Appib).
A cantora Cinara Maria Alves Gomes veio do bairro Camargos, na região Oeste da capital, para participar da manifestação, acompanhada da sobrinha, Beatriz Barbosa Gomes, de 12 anos. “Estou aqui porque sou uma cidadã belo-horizontina e vejo que o clima da cidade mudou muito em razão do corte de árvores, da mudança da biodiversidade urbana. É um absurdo o que está acontecendo: em 2013, já houve corte de árvores no entorno do Mineirão, e agora novamente, por causa de dinheiro, de várias coisas que não estão de acordo com o que a população quer”, reclamou Cinara.
“Eu vim com minha tia e minha mãe porque eu também não concordo com tudo que está acontecendo, não só por causa do desmatamento e das mudanças climáticas, mas também porque isso vai afetar o trânsito e o biotério da UFMG. Isso é errado porque vai prejudicar a cidade inteira”, lembrou Beatriz.
Presença política
Parlamentares de diferentes campos ideológicos marcaram presença no protesto deste sábado contra a realização da Stock Car no entorno do Mineirão. O vereador Sérgio Fernando (MDB), presidente da CPI da Lagoa da Pampulha na Câmara Municipal de Belo Horizonte, frisou que não se opõe à corrida, mas disse ser totalmente contrário à realização nos arredores do estádio. “Esse espaço não está preparado para receber esse evento. Nós já temos um dano ambiental caracterizado, com o corte das árvores, e teremos mais danos ambientais, como os impactos que isso vai trazer para toda a área da UFMG, em especial para o Hospital Veterinário, sem contar todos os transtornos que as obras vão causar nessa região, como a questão do trânsito”, declarou.
A deputada federal Célia Xacriabá (PSOL), por sua vez, disse estar engajada na mobilização contra a realização da corrida da Stock Car na Pampulha desde o início, na tentativa de impedir o corte de árvores. “O que mais nos assusta é que vivemos uma profunda crise climática e estamos às vésperas da COP 30 [30ª Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas] no Brasil”, lembrou. “A Stock Car não é maior do que todo o processo de preservação ambiental, do que os trabalhos de pesquisa na UFMG, do que os centros de atenção aos idosos que estão aqui perto e serão impactados. A nossa corrida é para barrar a crise climática, para a qual não temos mais tempo”, destacou.
O ato também contou com a participação de representantes do Sindicato dos Trabalhadores nas Instituições Federais de Ensino (Sindifes), do Sindicato dos Professores de Universidades Federais de Belo Horizonte, Montes Claros e Ouro Branco (Apubh) e do projeto Pomar BH, que fez distribuição de mudas de árvores para o público.
Novas manifestações contra a realização da Stock Car no entorno do Mineirão estão agendadas para a próxima semana. Na terça-feira, 9 de abril, às 11h, haverá uma audiência pública na Praça de Serviços do campus Pampulha e na quinta-feira, dia 11, às 17h, um ato em frente à portaria da UFMG na Avenida Antônio Carlos. As duas atividades são promovidas pelo Sindifes, pela Apubh e pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE).