PRPq coordenou ação que habilitou laboratórios a diagnosticar a Covid-19
Articulação de proposta encaminhada à Sesu que resultou no recebimento de R$ 21,5 milhões para o enfrentamento da pandemia também teve participação da Pró-reitoria de Pesquisa
No dia 19 de março, ainda no início do regime de trabalho remoto estabelecido como estratégia para conter o avanço da pandemia do novo coronavírus, um grupo de 30 pesquisadores de laboratórios da UFMG reuniu-se virtualmente para discutir a possibilidade de oferecer suporte ao governo de Minas Gerais para o diagnóstico da Covid-19. Começava ali um trabalho de mapeamento da capacidade técnica da UFMG e de articulação coordenado pela Pró-reitoria de Pesquisa (PRPq), em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde (SES), que resultou na habilitação de oito laboratórios, que juntos se disponibilizaram a contribuir com a produção de 1,6 mil testes diários.
De acordo com o pró-reitor de Pesquisa, Mario Montenegro Campos, antes dessa articulação, a UFMG já recebia demandas pontuais de hospitais e serviços de saúde. “Mas eram ações isoladas que estavam descoordenadas. O papel da PRPq foi o de contribuir para que esse processo passasse a ser feito de forma organizada em nome da UFMG”, diz ele, lembrando que a Universidade ajudou a Fundação Ezequiel Dias (Funed) a reduzir a fila de amostras à espera de análise, que, segundo estimativas, superava, naquele momento, cinco mil unidades, e encurtar o tempo de divulgação dos resultados, que variava de sete a 15 dias.
Três instalações de pesquisa da UFMG começaram a fazer testes no início de abril: o CT-Vacinas, localizado no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-Tec), o Laboratório de Vírus e o INCT Dengue, os dois últimos no ICB. Segundo o pró-reitor, para possibilitar o início imediato dos trabalhos, esses laboratórios puseram à disposição os insumos e kits que haviam adquirido para as suas próprias pesquisas. O material é suficiente para gerar 3,4 mil testes. “O objetivo foi agilizar o atendimento à demanda inicial enquanto a remessa da Secretaria Estadual de Saúde não é entregue”, afirma Campos.
Ainda em abril, foi a vez do Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico (Nupad) da Faculdade de Medicina se incorporar à força-tarefa. Por último, já neste mês de maio, quatro outras estruturas de pesquisa deverão estar habilitadas a realizar os testes: o Laboratório de RNA de Interferência (ICB) e o Laboratório Institucional de Pesquisa em Biomarcadores (Linbio), da Faculdade de Farmácia, além dos laboratórios Aquacen e de Virologia, ambos da Escola de Veterinária – os dois últimos se juntaram para atender às demandas.
“Os laboratórios da UFMG, que originalmente são de pesquisa, passaram também a fazer análises”, observa o professor. Mario Campos lembra, ainda, que a UFMG acabou criando “uma estrutura que não existia”. “A equipe desenvolveu, por exemplo, uma logística que inclui a busca das amostras do vírus, o recebimento delas no ICB e as adaptações físicas e de fluxo dos laboratórios. O mais importante, no entanto, é que estabelecemos um fórum dinâmico de interação dos pesquisadores que tem possibilitado comunicação ágil e cooperação em todos os níveis – da cessão de insumos ao compartilhamento de atualizações de protocolos de testes e dos mais recentes resultados científicos sobre a Covid-19”, relata o pró-reitor.
Além disso, Campos destaca que a Reitoria aportou recursos para equipar e pôr em operação o Laboratório de Biossegurança NB3 do ICB, que adota padrões de segurança para lidar com patógenos de risco biológico da classe 3. Esses micro-organismos proporcionam elevado risco individual e podem causar doenças potencialmente fatais como resultado de exposição por inalação. Na mesma unidade, um laboratório multiusuário que funciona no Departamento de Microbiologia foi transformado em laboratório NB2, com prática NB3, ou seja, dotado de capela laminar com certificação e paramentação típicas desse tipo de ambiente de pesquisa.
‘Correria sem igual’
Outra ação que exigiu empenho da Pró-reitoria de Pesquisa nesse período de trabalho remoto foi a preparação e o encaminhamento da proposta institucional da UFMG para uma chamada da Secretaria de Ensino Superior (Sesu) do Ministério da Educação, que previa o financiamento de ações de enfrentamento à Covid-19. A oportunidade se transformou em um grande desafio. O ofício da Sesu, recebido pela UFMG na noite do dia 18 de março, estabelecia que a proposta deveria ser enviada até o início da tarde do dia seguinte. “Foi uma correria sem igual”, define Mário Campos, cuja equipe trabalhou em sintonia com a da Pró-reitoria de Planejamento e com o gabinete da Reitoria.
De acordo o pró-reitor, a Reitoria articulou com as diretorias de unidades o envio de projetos para elaboração de uma proposta global da UFMG. Era necessário definir rapidamente as ações e indicar um plano de aplicação dos recursos. Ao mesmo tempo que as unidades acadêmicas eram contatadas, a própria PRPq fazia um levantamento de projetos que já estavam no radar da Universidade. A proposta foi consolidada em menos de 12 horas após a chegada do comunicado. Ao fim, um programa coeso, composto de sete ações prioritárias, foi submetido dentro do prazo, e a UFMG foi a instituição federal que recebeu o maior volume de recursos: R$ 21,5 milhões.
Em abril, conta Mario Campos, outras propostas foram recebidas e incorporadas, e a UFMG instituiu um comitê de especialistas para avaliar os projetos, segundo o escopo do financiamento da Sesu, e definir a aplicação do dinheiro. Ao todo, 25 ações receberão recursos. “Dois critérios principais foram estabelecidos: aderência total ao enfrentamento da Covid-19 e prazo de execução de seis meses”, informa o pró-reitor.
Os projetos que serão executados contemplam cinco eixos temáticos: Testes (ações relacionados a testes diagnósticos), Clínicos (ensaios com medicamentos para combater a doença), Insumos (produção de álcool em gel, máscaras e escudos faciais), Tecnologia (novas propostas de ventiladores, modelos epidemiológicos e observatório da Web) e Treinamento (para estudantes e profissionais da área de enfermagem e mudanças de práticas odontológicas provocadas pelo advento da infecção).
Lições
Em relação ao trabalho remoto, instituído pela UFMG na segunda quinzena de março, o professor Mario Campos afirma que sua equipe está bem adaptada e desenvolvendo as atividades com eficiência. “A DTI [Diretoria de Tecnologia de Inovação] criou uma boa estrutura de trabalho, com acesso ágil aos sistemas institucionais e demais recursos, como o redirecionamento de ramais. Fazemos tele e videoconferências com grande frequência e acompanhamos os trabalhos da equipe por meio de grupos de discussão”, explica o pró-reitor.
Mario Campos acredita que a pandemia do coronavírus deixa uma lição importante para a sociedade contemporânea. “O vírus, esse inimigo invisível, mudou as relações de trabalho, interpessoais e a própria vida das pessoas. Mas talvez o aprendizado mais importante esteja relacionado com a necessidade de investimento continuado e substancial em pesquisa por parte do Estado”, analisa ele, acrescentando que esse investimento também deve se dar no âmbito da educação científica das pessoas, “desde as mais tenras idades”, e contemplar a abertura de várias frentes de divulgação da pesquisa produzida na academia.
[Esta matéria abre série sobre as ações desenvolvidas por pró-reitorias e diretorias em meio à suspensão das atividades presenciais provocada pela pandemia do coronavírus. Nos próximos dias, serão focalizadas as pró-reitorias de Pós-graduação, Extensão, Graduação, Assuntos Estudantis, Planejamento, Administração e Recursos Humanos, além da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica e as diretorias de Ação Cultural e Relações Internacionais.]