Pessoas

Série de vídeos destaca primeiros integrantes surdocegos da comunidade da UFMG

Reportagem lança mão de tradução em Libras, legendas e audiodescrição

Lara Gontijo e Aline Miguel conversam com apoio da língua de sinais tátil
Lara Gontijo e Aline Miguel conversam com apoio da língua de sinais tátil Imagem: TV UFMG

As estudantes Lara Gontijo e Aline Miguel e o professor Raniere Cordeiro chegaram à UFMG neste ano. Eles são surdocegos, com formas e graus diferentes de deficiência. Os primeiros surdocegos a integrar a comunidade acadêmica foram entrevistados pela equipe da TV UFMG.

Lara Gontijo cursa o mestrado em Educação na FaE e investiga o processo de escolarização de crianças surdocegas na rede de Minas Gerais. “A educação infantil ainda é pouco estruturada para pessoas nessa condição”, diz a pós-graduanda, que tem surdez profunda congênita e adquiriu retinose pigmentar, que foi aumentando gradativamente. “Fui perdendo minha visão periférica, condição típica da Síndrome de Usher. À noite, enxergo apenas clarões e preciso recorrer à língua de sinais tátil. Quando está claro, consigo, apenas com uma mão, e a distância de mais ou menos um metro e meio, focar no guia-intérprete e entender”, conta Lara na conversa com a TV UFMG.

Nas atividades acadêmicas dentro dos campi, ela recebe apoio do guia-intérprete Joe Costa, do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (NAI) da UFMG. Quando vai ao bandejão, Lara escreve no celular para perguntar o cardápio a um funcionário e recebe auxílio para se servir. Em seus deslocamentos no campus Pampulha, ela usa o carro adaptado posto à disposição pelo Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (NAI), que também fornece textos adaptados que podem ser ampliados no tablet ou no celular. “Consigo me locomover, me comunicar. Nós, surdocegos, temos capacidade criativa, de abstração e estratégia”, afirma Lara.

Professor de três disciplinas do curso de Letras-Libras da Faculdade de Letras, Raniere Cordeiro tem baixa visão e perdeu a visão periférica. Ele também tem surdez severa no ouvido direito. “A maioria das pessoas acredita que as pessoas surdocegas são totalmente cegas e totalmente surdas, mas isso é muito raro”, explica o docente, que tem encontrado pessoas cordiais e disponíveis na UFMG.

“Nenhuma instituição está totalmente preparada para receber pessoas com deficiências. Será sempre necessário um espaço para fomentar ações de acessibilidade e inclusão”, disse Raniere à TV UFMG. Ele salienta que a presença de um intérprete não garante, por si só, a inclusão. “A pessoa com deficiência é incluída quando reconhece o que está ao seu redor e se sente apta para se comunicar e ser compreendida.”

Aline Miguel tinha a Engenharia Química como primeira opção, mas foi aprovada para Engenharia Civil e se apaixonou já na primeira aula de desenho projetivo. Ela conta que ganhou seu primeiro aparelho auditivo aos seis anos e, então, aprendeu a se comunicar com ajuda de uma fonoaudióloga.

A estudante dispensa intérprete de Libras. "Preciso de leitura labial ou outro recurso”, diz a graduanda, que lança mão, por exemplo, de um microfone de lapela usado por um professor durante a aula (o som vai diretamente para o aparelho no ouvido). Ela também tem limitações relacionadas à visão periférica. “Nunca deixei de fazer aquilo que quero e sempre vejo o lado positivo das coisas”, disse Aline à reportagem.

Os vídeos, produzidos com apoio do NAI/UFMG, já estão publicados no canal da TV UFMG no YouTube. Assista às conversas com Lara Gontijo, Raniere Cordeiro e Aline Miguel.