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Tatuagens e os seus significados

As linhas traçadas pelos tatuadores ressignificam partes de muitos corpos marcados por cicatrizes ou revelam histórias que provocar reflexão na vidas das pessoas

Os primeiros registros de marcas de tatuagens na pele do homem são tão antigos quanto os primeiros registros do ser humano sobre a Terra. Através de reconstruções históricas e pesquisas, é possível saber que essas marcas tinham significados importantes, marcando ritos de passagem, fechando o corpo contra males e doenças e até mesmo prestando homenagens ao deus divino.

O professor do curso de comunicação da UFMG, Carlos Mendonça, reforça o papel cultural e simbólico que as tatuagens desempenham na sociedade atual, se comportando de diversas maneiras e podendo pertencer a diversos grupos: “A tatuagem é um valor simbólico que acompanha a sociedade há muito tempo, a cada momento ela se liga a algum aspecto. Pessoas religiosas que tatuam seus emblemas no corpo, de certa forma protegendo os seus corpos e também prestando uma homenagem, pessoas homenageando um ente amado e até mesmo representações da cultura pop estão presentes nas tatuagens."

Atualmente, as tatuagens também são compreendidas como uma forma de expressão artística, mas não deixaram de ter o poder de marcar momentos delicados. Raquel Gauthier, 24 anos, é tatuadora há três anos e especialista em tatuagens para cobrir cicatrizes. De pequenas a grandes cicatrizes, ela trabalha cobrindo elas com uma arte, e assim, conseguindo ressignificar a vida dos clientes, que muitas vezes passaram por acidentes e traumas. “Eu recebo muitas histórias de pessoas que nunca mostraram uma região do corpo, nunca foram pra praia, nunca usaram um shorts. Algumas cicatrizes fazem com que a gente deixe de amar uma parte do nosso corpo e isso não é justo com nós mesmos.” Afirma a tatuadora 

E para além de uma forma de superar traumas, as tatuagens também tem o poder de homenagear ao mesmo tempo em que gritam em forma de protesto. Gustavo Henrique Oliveira, 25 anos, é morador da cidade de Brumadinho e em 2019 perdeu a tia, Lecilda de Oliveira, no rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão. 

O jovem fechou o braço direito com uma tatuagem milimetricamente planejada para homenagear as vítimas do rompimento, a cidade e, também, sua tia. Por se tratar de um assunto delicado, todos os elementos da tatuagem tem algum significado, desde a igreja, o sorriso da tia, o número de vidas perdidas e o letreiro da cidade, local onde os cidadãos iam para orar pelos desaparecidos. “Eu grito pro mundo inteiro sobre Brumadinho, para que outras pessoas não tenham que sofrer o que a gente sofreu aqui”, afirma Gustavo.

Equipe: Bruna Gomes (produção); Imagens: Samuel do Vale; Márcia Botelho (edição de imagens); Naiana Andrade (edição de conteúdo)