Tecnologia inédita de combate à acne desenvolvida pela UFMG chega ao mercado
Linha de cosméticos à base de nióbio é fruto de parceria com startup nascida na Universidade e laboratório sediado em Minas
Esforço iniciado há 18 anos nos laboratórios do Departamento de Química do ICEx/UFMG gerou resultados que se traduzem em benefícios diretos para a sociedade. Um grupo de pesquisadores descobriu novas propriedades do nióbio, metal abundante em Minas Gerais, e desenvolveu um ingrediente ativo que é eficaz no cuidado da pele por meio do combate à acne.
Uma vez patenteada a nanotecnologia, a empresa Nanonib, gerada como spinoff na UFMG, criou uma plataforma molecular de síntese de química fina para produção do ingrediente ativo, nomeado BlueActive. Esse produto é utilizado pela Yeva Laboratoires na composição de cinco itens da linha Acnano BlueActive – gel-creme de uso diário, creme de uso intensivo, gel de limpeza, espuma de limpeza e tônico para controle da oleosidade. Eles estão sendo comercializados desde o mês passado no site da Yeva e em farmácias e drogarias.
A nanopartícula de nióbio foi aprovada pela Anvisa para utilização em cosméticos. Os estudos apresentados à agência incluíram testes com 30 pessoas durante 30 dias, sob supervisão de dermatologista: os efeitos foram nítidos na redução do quadro de acne (83% de resultado positivo), com melhora da textura da pele, diminuição dos poros e sem qualquer toxicidade. Além disso, ficou comprovado que ele não penetra na pele, o que afasta a hipótese de acúmulo de nióbio no organismo. Nenhum participante relatou sensação de desconforto.
O BlueActive tem ação eficaz no controle da microbiota da pele, inibindo a proliferação da Cutibacterium acnes e outros microrganismos associados à inflamação da acne – doença que ocorre quando as glândulas sebáceas, secretoras de óleo, inflamam-se ou são infectadas, o que provoca cravos, espinhas e cistos, entre outras manifestações.
Ação microbiológica
O nióbio é usado há décadas na produção de aço, que se torna mais resistente e leve na presença do metal, e mais recentemente passou a ser usado também em baterias para automóveis. Em 2006, o professor Luiz Carlos Oliveira visitou a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) e foi apresentado ao óxido de nióbio. “Partimos então, eu e um grupo de pesquisadores, para estudar os fundamentos da molécula: estrutura, propriedades, afinidades, entre outros”, relata Oliveira.
“Nosso primeiro objetivo foi degradar moléculas poluentes em água. Nesse processo, constatamos que o óxido de nióbio funcionava contra a bactéria causadora da cárie e, também, que não cresciam fungos nas placas de Petri [recipientes usados em laboratório para fazer crescer microrganismos] que continham o material. “Essas descobertas revelaram ação microbiológica do nióbio, inclusive contra o vírus da covid-19”, explica o professor. Os estudos geraram grande número de artigos, dissertações e teses.
Quando a pesquisa chegou ao grau adequado de robustez, os resultados foram encaminhados à CTIT, a Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica da UFMG, que solicitou registro da patente ao INPI, órgão do governo federal responsável pelos assuntos relativos à propriedade industrial. Luiz Oliveira afirma que as nanopartículas são formadas de modo controlado – aí está o segredo do processo – e se aglomeram para formar uma classe de compostos reativos (polioxometalatos), as moléculas com ação microbiológica. “As moléculas são versáteis, podem ligar-se a outras e absorvem luz solar, o que dá a elas a capacidade de eliminar microrganismos”, explica o professor. Cínthia de Castro e Jadson Belchior, também docentes do Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas da UFMG, lideraram, junto com Oliveira, toda a pesquisa relacionada ao nióbio.
Projetos bem-sucedidos
A reitora Sandra Regina Goulart Almeida comemora a chegada ao mercado de mais um produto derivado de pesquisa realizada na Universidade. “O novo cosmético é a realização de um dos objetivos centrais da instituição, que é gerar benefícios para as pessoas. E sabemos que o ingrediente ativo pode compor ainda outros produtos. O Acnano se junta a outros projetos bem-sucedidos de transferência de tecnologia, em áreas como a própria química, as ciências biológicas e as exatas”, diz. Sandra Goulart exalta o papel fundamental da alocação de recursos por parte de agências de apoio à pesquisa – no caso desse produto, notadamente a Fapemig, vinculada ao governo de Minas Gerais, e a Finep, agência do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Criada em 2019 por professores e pesquisadores formados na UFMG, a Nanonib realiza a síntese de compostos de nióbio, que podem ter aplicações variadas. O sócio e diretor executivo da empresa, Joel Passos, ressalta que se trata de produto cosmético de alta tecnologia. “É uma molécula inédita, o primeiro ingrediente ativo à base de nióbio na área da saúde”, salienta Passos, que teve formação acadêmica na UFMG, do mestrado ao pós-doutoramento.
O diretor da Nanonib lembra também que o aprimoramento do tratamento da acne deve ter papel relevante no cuidado com a saúde mental de adolescentes. Segundo dados do Ministério da Saúde, a acne afeta 80% dos brasileiros de 15 a 25 anos de idade. “Há estudos científicos que mostram que a acne é responsável por incidência significativa de problemas de autoestima dos jovens – sobretudo em tempos de superexposição da imagem nas redes sociais –, que podem levar, no limite, ao suicídio”, ele diz.
Segundo o IQVIA, líder global em informações e análises na área da saúde, o mercado do combate à acne no Brasil apresenta evolução constante – em 2002, teve valor estimado de R$ 3,1 bilhões, e a previsão é que chegue a R$ 4,5 bilhões em 2028.
CEO da Yeva Laboratoires, Alessandro Carvalho Tamietti comemora o lançamento da linha de cosméticos, reforçando que “o grande diferencial do ativo nanotecnológico é o alto índice de sua eficácia no controle da acne com excelente tolerância e segurança plena para o uso tópico”.
Outras linhas de aplicação cosmética das descobertas dos pesquisadores da UFMG estão sendo desenvolvidas pela Yeva, empresa sediada em Itaúna, no Centro-Oeste de Minas Gerais.