Pesquisa e Inovação

Terapia imunogênica busca reduzir dependência da cocaína

Trabalho foi apresentado durante a Semana de Iniciação Científica, que também abriu espaço para estudo que compara características clínicas e sociodemográficas de mulheres com câncer

Trabalho apresentado por Giuliana mostra comparação das características entre mulheres com câncer de mama e de colo de útero
Trabalho apresentado por Giuliana compara características de mulheres com câncer de mama com as de mulheres com câncer de colo de útero Reprodução | YouTube

Na manhã desta quarta, 21, doze trabalhos de relevância acadêmica pré-selecionados na 29ª Semana de Iniciação Científica (área de Ciências da Vida), uma das mostras que compõem a Semana do Conhecimento UFMG, foram apresentados no canal da Pró-reitoria de Pesquisa da UFMG no YouTube.

Por meio de resumo, pôster digital e videopitch, os estudantes tiveram a oportunidade de divulgar seus trabalhos de pesquisa à comunidade acadêmica, de forma interativa. Intitulado Avaliação in vivo de uma terapia imunogênica inédita para dependentes de cocaína, o trabalho apresentado por Nicole Font dos Santos, da Faculdade de Medicina, abordou o estudo feito com o intuito de diminuir os efeitos da droga no organismo.

Segundo a OMS, cerca de 269 milhões de pessoas consumiram drogas em 2018. No Brasil, a cocaína é a terceira droga ilícita mais consumida. O objetivo do trabalho foi avaliar, in vivo, a terapia imunogênica por meio da veiculação da V4N2, uma substância orgânica inédita, sintetizada em laboratórios do Departamento de Química.

“A técnica da imunoterapia consiste no estímulo à produção de anticorpos. A hipótese é de que, com esses anticorpos, seja possível impedir ou reduzir a passagem da droga até o sistema nervoso central fazendo que o indivíduo sinta seus efeitos de forma menos intensa ou não sinta nada. Assim, sua dependência seria atenuada”, explicou Nicole. O experimento se deu por meio de dois estudos feitos em camundongos machos, durante 60 dias.

“Uma das limitações do trabalho foi a ausência de padrões comparativos, por se tratar de uma substância inédita. Ainda assim, tivemos sucesso no desenvolvimento de uma formulação com atividade imunogênica, utilizando recipientes seguros”, ressaltou Nicole Font. 

O próximo passo do grupo, que é orientado pelo professor Frederico Duarte Garcia, é realizar um estudo confirmatório para entender o mecanismo de indução desses anticorpos e determinar o tempo de manutenção dessa memória imunológica.

Nicole Font, em sua apresentação:
Nicole Font, em sua apresentação
Reprodução | YouTube

Saúde da mulher
Também da Faculdade de Medicina, o trabalho apresentado por Giuliana Elena Saragiotto comparou as características clínicas e sociodemográficas de mulheres com câncer de mama e de mulheres com câncer de colo de útero que se submeteram a tratamento ambulatorial no Sistema Único de Saúde (SUS) em Minas Gerais. No Brasil, entre 2020 e 2022, é esperado o surgimento de 66 mil novos casos.

“Foi realizado um estudo transversal a partir da Base Nacional em Oncologia. A coorte foi desenvolvida por meio da técnica de pareamento probabilístico-determinístico dos sistemas de informações do SUS: Apacsia, SIH e SIM. Foram incluídas mulheres de 18 a 100 anos, residentes e submetidas a tratamento ambulatorial no período de 2008 a 2014. Todas as variáveis que analisamos apresentaram diferenças significativas entre os dois grupos, exceto no começo do tratamento”, revelou Giuliana.

Os resultados sugerem uma maior vulnerabilidade social em mulheres com câncer de colo de útero. “Apesar das diretrizes de rastreamento bem estabelecidas para ambos os cânceres, muitas mulheres são diagnosticadas em estágios avançados e, após o diagnóstico, outras barreiras são encontradas, como a demora para iniciar o tratamento e a necessidade de grandes deslocamentos. Esses achados demonstram a importância do aperfeiçoamento das políticas públicas na área de saúde da mulher e a necessidade de reduzir as barreiras enfrentadas por elas em relação ao tratamento das doenças, que são tipos de cânceres altamente preveníveis”, alerta.

Consistência
A banca examinadora avaliou os trabalhos após a apresentação. Segundo o professor Alfredo de Paula, os trabalhos foram muito consistentes, apesar das dificuldades impostas pela pandemia. “Houve um grande volume de trabalhos relevantes do ponto de vista técnico-científico e muito bem elaborados metodologicamente. Os alunos estavam preparados e demostraram muita desenvoltura. É perceptível a sintonia desses estudantes com nossos alunos de pós-graduação", avaliou.

As apresentações, na íntegra, estão disponíveis neste link. Ainda nesta quarta-feira estavam previstas apresentações de outros 32 trabalhos distribuídos pelas áreas de Ciências da Natureza, Humanidades, Tecnologias e Iniciação Científica Júnior. A programação completa da Semana do Conhecimento está disponível no site do evento.

Samuel Resende