Ensino

Teses das áreas de Parasitologia, Química e Ciência Política são premiadas pela UFMG

Trabalhos tratam, respectivamente, de armadilha para captura de mosquito da malária, de tecnologia de produção de novos biocombustíveis e do impacto do governo de coalizão na gestão municipal

O pró-reitor de Pós-graduação, Fábio Alves, e a pró-reitora adjunta, Silvia Alencar, fizeram o anúncio dos vencedores em cerimônia virtual
O pró-reitor de Pós-graduação, Fábio Alves, e a pró-reitora adjunta, Silvia Alencar, fizeram o anúncio dos vencedores em cerimônia virtual Raphaella Dias / UFMG

Elis Paula de Almeida Batista, do Programa de Pós-graduação em Parasitologia do ICB, Cristiane Almeida Scaldaferri, da Química, e Fernando Meireles, da Ciência Política, receberam o Grande Prêmio de Teses UFMG 2020. Os vencedores foram anunciados na manhã desta sexta-feira, 23, em cerimônia virtual. A premiação integra a programação do último dia da 29ª Semana do Conhecimento UFMG.

Os autores dos melhores trabalhos de doutorado defendidos em 2019 foram escolhidos por comissão instituída pela Câmara de Pós-graduação entre as 62 teses indicadas por seus respectivos programas – reconhecidas com o Prêmio UFMG de Teses – agrupadas em três grandes campos do conhecimento. Elis concorreu na área de Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e Ciências da Saúde, Cristiane foi a vencedora da área de Ciências Exatas e da Terra e Engenharias, e o trabalho de Meireles foi o principal destaque do grupo de Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Linguística, Letras e Artes.

Durante a cerimônia, a reitora Sandra Regina Goulart Almeida afirmou que o Prêmio UFMG de Teses é resultado de uma herança institucional deixada pelas gerações anteriores. “Esse prêmio foi criado em 2006 e simboliza o empenho daqueles que ajudaram a construir o nosso sistema de pós-graduação. O prêmio é uma homenagem a eles”, registrou ela, citando em seguida o escritor português José Saramago (Prêmio Nobel de Literatura e Doutor Honoris Causa da UFMG), segundo o qual o conhecimento une cada um consigo mesmo e todos com todos. “Cada um tem sua responsabilidade nesse legado”, completou a reitora.

Arma contra a malária

Na tese Armadilha BG-malária para monitoramento de anofelinos neotropicais e afro-tropicais: otimização e avaliação da aplicabilidade como ferramenta complementar de controle da malária, Elis de Almeida Batista estudou o uso de uma armadilha para monitorar e controlar a população dos mosquitos anofelinos, vetores dessa doença que é endêmica no Brasil e na África.

Em testes feitos em Manaus, capital do Estado do Amazonas, e em  Ifakara, na Tanzânia, a pesquisadora comparou o uso da BG-malária com o método de captura humana – considerado o padrão-ouro, mas que precisa ser substituído, já que expõe o coletor à picada do mosquito  – e com outra armadilha, a BG-Sentinel, muito usada no mundo todo para apreender outras espécies de mosquito, incluindo vetores de outras doenças. “A BG-malária capturou duas vezes mais mosquitos que a BG-Sentinel e um número similar de mosquitos na comparação com o método da atração humana. Ou seja, ela demonstrou grande potencial para substituir o ser humano nesse trabalho”, analisou Elisa.

A segunda parte do trabalho traz resultados sobre o uso da armadilha como instrumento de controle por meio do sistema push-pull, formado por um elemento repelente e outro atraente. “Quando repelidos em um ambiente, os insetos são atraídos, capturados e removidos, reduzindo, assim, a sua população”, explica a pesquisadora. O elemento push (repelente) usado foi o inseticida transflutrina, impregnado em uma faixa de sisal instalada no beiral de uma residência. O pull (atraente) foi a própria armadilha com dióxido de carbono.

“Os resultados mostram que o dispositivo é eficiente para capturar diferentes espécies de anofelinos em diversos locais. É viável como ferramenta complementar de controle associada ao sistema push-pull”, diz a pesquisadora, concluindo que o estudo fornece “elementos úteis para considerar a incorporação dessa armadilha em programas de monitoramento e controle da malária no Brasil e em outros lugares”.

Elisa de Almeida Batista foi orientada pelo professor Álvaro Eduardo Eiras e coorientada pelos professores Kelly da Silva Paixão e Fredros Oketch Okumu. No vídeo a seguir, ela dá detalhes da pesquisa:

Uma nova geração de biocombustíveis

Cristiane Almeida Scaldaferri trabalhou no desenvolvimento de tecnologias para a produção de novos bicombustíveis, como o bioquerosene de aviação, para substituir o querosene de origem fóssil, e o diesel verde, alternativa ao diesel de petróleo. “São produtos à base de hidrocarbonetos, não oxigenados, característica que os difere do etanol e do biodiesel”, afirma.

De acordo com Cristiane Scaldaferri, essa nova geração de combustíveis apresenta vantagens em relação aos tradicionais. “Eles são mais compatíveis com os combustíveis fósseis em termos de características físico-químicas, o que possibilita seu uso em maior quantidade na mistura com os fósseis, sem necessidade de modificações nos atuais motores. Isso possibilita preservar a infraestrutura existente na indústria do petróleo e nas refinarias”, explica.

Em seu estudo, orientado pela professora Vânya Márcia Duarte Pasa, a doutora em Química identificou rotas de produção de baixo custo usando matérias-primas e catalisadores baratos. “Empregamos o gás nitrogênio em vez de hidrogênio. O nitrogênio é um gás inerte de menor custo, é mais seguro e viabiliza a realização de um processo mais simples”, informa.

Cristiane também recorreu ao fosfato de nióbio como catalisador para conversão de matérias-primas. “É um material disponível. Os catalisadores convencionais são caros e importados”, destaca a pesquisadora. Ela investigou ainda o potencial do líquido da castanha de caju (abundante nas regiões Norte e Nordeste) como matéria-prima para a produção do diesel verde e da lignina, subproduto do papel e da celulose. “Não existe hoje um aproveitamento econômico para a lignina, que geralmente é queimada. Ela pode dar origem a um biocombustível de menor custo”, projeta a doutora. 

Assista ao vídeo em que Cristiane Scaldaferri dá detalhes da tese Síntese de bio-hidrocarbonetos via catálise heterogênea para a produção de bioquerosene de aviação e diesel verde.

Os efeitos da política de coalizão nas cidades

Partidos brasileiros quando ocupam ministérios em governos de coalizão conseguem levar mais recursos para as suas bases eleitorais. Esse é o argumento central da tese do cientista político Fernando Meireles, orientada por Carlos Ranulfo Félix de Melo e coorientada por Royce Carrol.

“Isso tem implicações profundas em questões como políticas públicas, aplicação de recursos e desigualdades regionais”, afirma Meireles. Segundo ele, a maioria dos prefeitos e prefeitas encontram profundas dificuldades para implantar políticas públicas demandadas por seus eleitores. “Não é simples construir uma ponte ou um posto de saúde ou reformar uma escola. Os gestores vivem às voltas com orçamentos engessados por causa de obrigações constitucionais e sofrem com a baixa arrecadação de impostos”, diz o doutor.

Diante dessa limitação, o prefeito se vê obrigado a buscar recursos no governo federal, e os partidos acabam funcionando como facilitadores nessa tarefa. “Se o prefeito é de um partido que comanda um ministério, é muito mais simples para ele obter informações sobre o acesso a esses recursos. E, por meio de deputados e senadores, ele entende como esse mecanismo de políticas públicas funciona e consegue ser atendido mais facilmente. Apesar de todas as mazelas, os partidos políticos cumprem papel fundamental ao ajudar gestores públicos municipais a acessar recursos federais.”

Fernando Meireles pondera, no entanto, que esse sistema tende a gerar desigualdades regionais e distorções, uma vez que moradores de muitas cidades poderão não usufruir de políticas públicas essenciais por conta da filiação partidária do seu prefeito. “Muitos prefeitos e parlamentares acabam mudando de partido para se reposicionarem nesse sistema”, constata o cientista político.

Também em vídeo, Meireles traça um panorama da pesquisa A política distributiva da coalizão

Menções honrosas

Três trabalhos – um de cada grande área – foram reconhecidos com menções honrosas no Prêmio UFMG de Teses.

No grupo de Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e Ciências da Saúde, o trabalho escolhido foi Estudo do papel do AVP, através da dosagem da copeptina, na resposta neuroendócrina ao estresse induzido pela hipoglicemia aguda em crianças e adolescentes, de autoria de Juliana Beaudette Drummond, com orientação de Antônio Ribeiro de Oliveira Júnior e coorientação de Beatriz Santana Soares Rocha. O trabalho foi desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-graduação em Neurociências.

Andreij de Carvalho Gadelha, do Programa de Pós-graduação em Física, é autor da tese Unraveling optoelectronic properties of 2D materials, orientada por Leonardo Cristiano Campos e coorientada por  Rodrigo Gribel Lacerda. Ela se destacou no grupo das Ciências Exatas, Ciências da Terra e Engenharias.

Autonomia, consentimento e direito penal: uma proposta de superação do modelo paternalista no tratamento dogmático das intervenções médicas, de autoria de Flávia Siqueira Cambraia, recebeu a menção honrosa no grupo de Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Linguística, Letras e Artes. Vinculada ao Programa de Pós-graduação em Direito, Flávia Cambraia foi orientada por Luiz Augusto Sanzo Brodt e coorientada por Luís Greco.

Assista aos três vídeos em que os autores agraciados com menções honrosas tratam dos fundamentos dos seus trabalhos:

Flávio de Almeida