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Trabalho em excesso aumenta risco de morte, conclui estudo da OMS

Professora da UFMG Ada Ávila Assunção comenta pesquisa que mostra aumento de óbitos por AVC e doenças cardíacas em todo o mundo por jornadas de 55 horas ou mais; pandemia pode agravar o quadro

Pesquisadora destacou que excesso de trabalho atinge tanto trabalhadores em home office quanto em atividades presenciais
Pesquisadora destacou que excesso de trabalho atinge tanto trabalhadores em home office quanto em atividades presenciais Pexels

O excesso de trabalho pode aumentar o risco de morte. É o que diz um estudo recente da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Publicada na revista Environment International, a pesquisa apontou que, na comparação com uma jornada de 35 a 40 horas, trabalhar 55 horas ou mais por semana eleva em 35% as chances de derrame e em 17% as de morrer de doença do coração.

A estimativa mundial das Organizações é que, em 2016, 398 mil pessoas tenham morrido de AVC e 347 mil de doença cardíaca por terem dedicado mais de 55 horas semanais ao trabalho. 72% das vítimas eram homens. Os números são resultados da análise de dados de 194 países, oriundos de centenas de estudos com centenas de milhares de participantes. A OMS alerta que a pandemia pode agravar o quadro, já que, de acordo com a própria Organização, muitas pessoas estão trabalhando mais, tanto em home office quanto presencialmente.

Quem conversou sobre o estudo e outras questões relacionadas no programa Conexões desta terça, 1, foi a professora titular do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG, com doutorado e mestrado em Saúde Pública e publicações e pesquisas sobre trabalho, emprego e saúde, Ada Ávila Assunção.

A pesquisadora chamou atenção para o fato de que o excesso de trabalho vem de antes da pandemia, apesar da emergência sanitária global agravar o quadro, e frisou que o problema não atinge só as pessoas em home office, mas também os que estão em atividade presencial, que representam grande parcela dos trabalhadores brasileiros, além dos informais, que são os mais vulneráveis. Como exemplo, a docente citou os motoristas de aplicativo que chegam a trabalhar 20 horas diárias. Ela detalhou também como a pesquisa foi feita a partir de uma metodologia rigorosa, compilando dados de estudos feitos em quase 200 países.

Assunção ainda sublinhou que trabalhar mais de 41 horas semanais já é danoso. De acordo com a professora, a ideia de que o corpo humano é inesgotável, com origens na Revolução Industrial e que chega ao seu ápice nos dias de hoje, é contrária ao funcionamento normal do organismo, uma vez que o descanso é fundamental para a regulação das funções corporais. A professora explicou como o excesso de atividade laboral atua no sistema nervoso.

“A pessoa laborando mais de 41 horas por semana fica sob um estado de ativação contínua do sistema nervoso, é como se ela não desligasse. Essa situação libera continuamente hormônios do estresse que desregulam o sistema cardiovascular e ele não consegue voltar ao estado que nós chamamos de fisiológico, o que vai levar à angina e ao infarto”, detalhou.

Além disso, a pós-doutora acrescentou que muitas pessoas, para compensar a tensão laboral, recorrem a comportamentos nocivos ao sistema cardiovascular também fora do trabalho, como o consumo de bebida alcóolica e tabaco. A docente defendeu ser fundamental que essa questão seja vista não como um problema individual, mas social, que é agravado pela atual tendência de desmantelamento das proteções do trabalhador. Por isso, é necessária uma abordagem sistêmica para alterarmos o cenário.

O estudo completo da OMS e OIT publicado na revista Environment International, em inglês, pode ser acessado neste link.

Produção: Alessandra Dantas e Flora Quaresma, sob orientação de Luiza Glória
Publicação: Alessandra Dantas