Pesquisa e Inovação

Transplante de fezes é opção eficaz de tratamento contra infecção intestinal grave

Resultados preliminares de pesquisa mostram que excrementos dos brasileiros são ricos em bactérias benéficas ao organismo; taxa de cura dos procedimentos realizados no HC chega a 90%

Transplante de fezes: infusão de solução composta por substrato fecal, por meio de uma colonoscopia convencional, pode ser usada no tratamento da infecção por Clostridioides difficile
Infusão de solução composta por substrato fecal, por meio de colonoscopia convencional, pode ser usada no tratamento da infecção por 'Clostridioides difficile'Foto: Assessoria de Comunicação do HC-UFMG/Ebserh

Resultados preliminares de pesquisa realizada pelo Instituto Alfa de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da UFMG/Ebserh, em parceria com a companhia de biotecnologia norte-americana Rebiotix Inc., evidenciam que as amostras de fezes de brasileiros sadios, em comparação com as dos norte-americanos também sadios, contém cerca de 30% a mais de firmicutes, um filo de bactérias que faz parte da microbiota intestinal e atua em sinergismo no organismo dos indivíduos. O resultado da pesquisa mostra um potencial protetor contra infecções intestinais graves causadas por Clostridioides difficle e contra doenças como a retocolite e a doença de Crohn.  

O estudo, que analisou amostras fecais de 49 brasileiros e 17 norte-americanos, é o primeiro do tipo no Brasil e utilizou a técnica chamada shot gun para avaliar o DNA da microbiota intestinal. As análises comprovaram que as fezes dos brasileiros podem ser usadas no tratamento da infecção pelo Clostridioides difficile, que é um problema de saúde pública mundial. 

"Os resultados preliminares mostram que as fezes dos brasileiros têm um caráter protetor maior, em razão de maior proporção do filo firmicutes, o que vai ao encontro dos resultados obtidos pelo Centro de Transplante de Microbiota Fecal do HC nos últimos anos", explica o coordenador do Centro, o gastroenterologista e professor Eduardo Vilela. 

A pesquisa faz parte de uma modalidade terapêutica instituída em 2017 por pesquisadores do Centro de Transplante de Microbiota Fecal do Hospital das Clínicas da UFMG/Ebserh, o único do país, que consiste no transplante de fezes entre pessoas saudáveis e doentes para o tratamento da infecção recorrente pelo Clostridioides difficle e para o restabelecimento da microbiota. Onze transplantes já foram realizados, e a taxa de cura é superior a 90%. Uma das vantagens é a recuperação rápida dos pacientes submetidos ao procedimento.   

O transplante
Para o transplante de fezes, as amostras fecais são preparadas e processadas por equipe formada por médicos e biomédicos do HC. O material fica armazenado em um ultrafreezer à temperatura de -80°C, o que garante sua viabilidade em longo prazo. O tratamento funciona com base na infusão de uma solução composta por esse substrato fecal por meio de colonoscopia convencional. 

Para que novos transplantes sejam realizados em maior escala, o Hospital das Clínicas da UFMG/Ebserh está recrutando homens e mulheres, entre 18 e 50 anos, que desejem doar suas fezes. Os voluntários passarão por entrevista por telefone e exame físico e laboratorial para excluir qualquer patógeno infeccioso. Interessados podem entrar em contato pelo endereço de e-mail transplantedefezeshcufmg@gmail.com 

O Hospital das Clínicas da UFMG/Ebserh é o primeiro do país a contar com um Centro de Transplante de Microbiota Fecal. O biobanco de fezes do hospital é respaldado pelas orientações dos órgãos internacionais e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Com Assessoria de Comunicação do HC-UFMG/Ebserh