Institucional

UFMG e Merck inauguram hub de nanotecnologia no BH-TEC

Estrutura servirá de forma transversal às diferentes iniciativas de pesquisa e desenvolvimento na área; articulação será feita pela CTIT

Juliana Crepalde, coordenadora executiva do CTIT, e os demais membros do painel: Paulo Beirão, William Rospendowski, Marco Crocco, Fabio Demetrio e Jorge Duarte
Juliana Crepalde, coordenadora executiva do CTIT, detalha a natureza e o escopo do 'hub' para o público e demais membros do painel de inauguração: Paulo Beirão, William Rospendowski, Marco Crocco, Fabio Demetrio e Jorge Duarte Foto: Foca Lisboa | UFMG

O termo “hub”, no campo da ciência, da tecnologia e da inovação, é usado para designar estruturas – que podem até ser físicas, mas são sobretudo virtuais – que instituições estabelecem para fomentar ações em comum. O foco é gerar um eixo concentrador que seja, ao mesmo tempo, um canal de fluxo (tal como um hub, equipamento de informática do qual o nome foi emprestado) capaz de dar suporte ao desenvolvimento de projetos inovadores e à aceleração do seu crescimento, por meio de acesso dinamizado a contatos, investidores, mentores e fornecedores. 

Ainda que simplificada, a explicação ajuda a entender a aliança estratégica firmada na tarde desta quinta-feira, 1º de junho, entre a UFMG e a Merck, indústria química, farmacêutica e de ciências biológicas alemã que é referência internacional em seus campos de atuação.

Em cerimônia realizada no auditório do Centro de Atividades Didáticas 2 (CAD 2), as instituições inauguraram um hub de inovação sediado no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC), instituição da qual a UFMG é sócia-fundadora. Especificamente, o objetivo do hub é acelerar o desenvolvimento de novas aplicações no campo da nanotecnologia, em que a UFMG é uma das grandes forças nacionais. Fruto de parceria público-privada de formato inédito no país, o hub servirá à comunidade acadêmica, à indústria e a eventuais startups e empreendedores.

“A nanotecnologia é o controle dos materiais na escala atômica e molecular, para a obtenção de novas propriedades que os tornem mais eficientes e, consequentemente, ambiental e economicamente viáveis. Ela já é vista, por exemplo, nos dispositivos eletrônicos, em cosméticos, em tecidos e em painéis solares”, explica o físico Ado Jorio de Vasconcelos, professor do Instituto de Ciências Exatas (ICEx). Um dos mais citados pesquisadores do mundo, Ado Jorio trabalha justamente com pesquisa e desenvolvimento de instrumentação científica em óptica para o estudo de nanoestruturas, com aplicações em novos materiais e biomedicina. Ele ministrou uma palestra no fim do painel de lançamento da aliança.

O pesquisador descreve as expectativas de expansão da atuação nesse setor, com a nova instalação. “Com as pesquisas científicas viabilizadas por projetos como esse, temos esperança de utilizar essa tecnologia no desenvolvimento de soluções inovadoras, como novos dispositivos que possibilitem melhor aproveitamento energético, métodos para intervenções biomédicas menos invasivas ou diagnósticos ultrarrápidos com uso de biossensores, que detectam a presença de patógenos em alimentos ou a evolução de doenças neurodegenerativas”, lista.

Segundo a Merck, a atuação do hub deve se dar nas áreas de "sistemas de entrega nanocontrolados", "nanossensores ou dispositivos vestíveis" e "soluções mais sustentáveis também baseadas em nano". Conforme material disponibilizado à imprensa, será oferecida a prototipagem de projetos aplicáveis a todos os setores interessados, com especial destaque para as áreas de saúde humana e animal, de alimentos e bebidas e de agricultura, campo em que tem crescido a utilização da nanotecnologia.

‘Tríplice hélice’
“A UFMG está na vanguarda da produção de conhecimento em nanotecnologia”, demarca a reitora da UFMG, Sandra Regina Goulart Almeida. “Temos um Centro de Tecnologia em Nanomateriais e Grafeno (CTNano), instalado em nosso parque tecnológico, que é referência no país. A parceria com a Merck, empresa de excelência na área de saúde, certamente vai incrementar esse potencial. Por meio dela, esperamos que nossas inovações cheguem mais rapidamente à sociedade”, projetou a reitora.

Sandra Regina Goulart Almeida, reitora da UFMG
Sandra Goulart: mudança de patamarFoto: Foca Lisboa | UFMG

No breve pronunciamento que fez na cerimônia de instalação, Sandra Goulart destacou a coincidência de, no dia anterior, ter sido publicada uma matéria no jornal Valor Econômico sobre as dificuldades e, ao mesmo tempo, sobre as potencialidades da relação entre as três instâncias da chamada “tríplice hélice” da inovação, formada pela iniciativa privada, pelo poder público e pelas instituições de pesquisa. Denominado Falta de articulação afeta parcerias com universidades, o artigo demarca, ao mesmo tempo, os avanços de aproximação ocorridos nos últimos anos, os quais são ilustrados pela aliança estratégica recém-firmado entre a Merck e a UFMG.

“O fato é que estamos mudando de patamar. No artigo, afirma-se que hoje as empresas reconhecem o trabalho científico da academia brasileira, valorizado internacionalmente, fala-se que as universidades sabem que o setor privado também é o berço central e essencial da inovação; e que tanto um lado quando o outro percebem, no governo que assumiu há menos de seis meses, vontade de recuperar a base financeira e os programas de fomento à pesquisa”, afirmou a reitora.

“Eu sou integrante da Comissão de Ciência, Tecnologia e Inovação, e os debates que fizemos, no ano passado, eram bastante pessimistas. Já os deste ano estão dando um outro norte. Estamos com um governo recém-eleito, mas que já mostrou a importância que dá à ciência, com a liberação do FNDCT [Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] e a recomposição do orçamento das universidades e institutos federais”, lembrou a reitora.

Fábio Demetrio, representante da Merck no evento
Fabio Demetrio, representante da Merck: modelo flexívelFoto: Foca Lisboa | UFMG

Área prioritária
“No Brasil, a nanotecnologia é uma das áreas prioritárias para desenvolvimento tecnológico pelo Governo Federal”, lembra Fabio Demetrio, líder de ciência e soluções para laboratórios da Merck Life Science do Brasil. A “Life Science” é a divisão da empresa que atua na descoberta e no desenvolvimento de medicamentos e no campo de diagnósticos, com clientes sobretudo nas áreas de biotecnologia e farmácia. “Apostamos na capacitação de pesquisadores e na colaboração entre indústria e universidade com o intuito de impulsionar o desenvolvimento de tecnologias inovadoras que poderão impactar a vida e a saúde por meio da ciência”, afirma.

Segundo Fabio Demetrio, a participação da Merck na aliança poderá se dar de diferentes formas, que vão da oferta de know-how diretamente a pesquisadores à oferta de cursos teórico-práticos para clientes, pesquisadores e estudantes, passando pela oferta de serviços, equipamentos e materiais. “O modelo é muito flexível”, destacou ele, em conversa com o Portal UFMG. “Queremos participar ativamente, mas com aportes que sejam de fato práticos e façam a diferença lá na frente”, disse.

Marco Aurélio Crocco, presidente do BH-TEC
Marco Crocco, presidente do BH-TEC: 'buscar ser quem mais transfere'Foto: Foca Lisboa | UFMG

Transformar patente em nota fiscal
O evento de instalação do hub teve um painel com representantes das diferentes instâncias da cadeia produtiva da inovação do país, como as agências de fomento, os ambientes promotores de inovação, as instituições que disponibilizam capital de risco e a iniciativa privada – representada, ali, pela própria Merck. Nesse painel, Marco Aurélio Crocco, presidente do BH-TEC, falou sobre o papel do parque tecnológico na articulação da tríplice hélice. “A nossa função no BH-TEC é transformar patente em nota fiscal”, sintetizou. Segundo ele, já se buscou, no universo científico, ser “quem mais publica”, para em seguida se buscar ser “quem mais patenteia”; o passo seguinte, defendeu, é tentar ser “quem mais transfere” a tecnologia.

A UFMG conta com mais de 200 pedidos de patentes depositados no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) relacionados à área de nanotecnologia, conforme os dados mais atualizados da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT).

Do painel, ainda participaram Paulo Beirão, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), William Rospendowski, superintendente da área de inovação da Finep (empresa pública federal de fomento vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação), o economista Jorge Leonardo Duarte, gerente de negócios no BDMG e especialista em crédito para inovação, e Juliana Crepalde, coordenadora executiva da CTIT. 

Em sua participação no painel, Crepalde delimitou o escopo e a natureza do hub, em sua singularidade. “A aliança estratégica que estabelecemos com a Merck é um modelo novo para o país”, disse ela. “Desde a constituição do novo Marco Legal para a Ciência, Tecnologia e Inovação, a UFMG, por meio da CTIT, tem buscado utilizar suas oportunidades em sua extensão máxima, e essa aliança estratégica de agora vem nesse sentido”, enfatizou.

Juliana Crepalde, do CTIT
Juliana Crepalde, da CTIT: modelo novoFoto: Foca Lisboa | UFMG

O novo marco legal da área foi estabelecido por meio de emenda constitucional, em 2015, seguida de uma lei, de 2016, e um decreto, de fevereiro de 2018. “Por meio da ‘aliança estratégica’, nós aproveitamos diferentes grupos de excelência da Universidade, organizando capital intelectual, tecnologia e infraestrutura para constituir ambientes temáticos de inovação”, disse a coordenadora executiva do CTIT.

Juliana Crepalde explicou que a aliança com a Merck é singular tanto no aspecto administrativo, já que se estabelece não com uma unidade acadêmica específica, mas com uma unidade administrativa da Universidade, quanto no aspecto jurídico, por combinar diferentes instrumentos da legislação. Quanto à vinculação a uma unidade administrativa, e não a uma unidade acadêmica, a coordenadora explicou que ela se deu em razão da natureza plural da pesquisa que é realizada no campo da nanotecnologia. “A aliança foi firmada dessa forma porque a nanotecnologia, na UFMG, é um tema transversal. Temos vários grupos, em diferentes áreas do conhecimento, trabalhando com nanotecnologia. A CTIT entrou como partícipe da aliança justamente para que a UFMG possa ter esse olhar transversal, capaz de atingir as diferentes áreas de excelência da Universidade que atuam no tema”, afirmou.

As instituições
Líder em ciência e tecnologia fundada em 1668, a Merck – empresa de capital aberto – opera em cuidados com a saúde, ciências da vida e eletrônicos, campo em que é a líder mundial de mercado, e tecnologia em cristais líquidos. A empresa tem cerca de 60 mil funcionários. Em 2021, segundo informações da própria empresa, gerou vendas de 19,7 bilhões de euros em 66 países.

Núcleo de inovação da UFMG, a Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT), criada em 1997, atua para favorecer e fortalecer o sistema brasileiro de inovação. Partindo da gestão dos ativos de propriedade intelectual da UFMG, seu objetivo é fazer com que os avanços gerados pelas pesquisas desenvolvidas na Universidade cheguem à sociedade na forma de novos produtos, processos e serviços.

Parque tecnológico que tem como sócios-fundadores a UFMG, o Governo de Minas Gerais, a Prefeitura de Belo Horizonte, a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae), o BH-TEC abriga centros públicos e privados de pesquisa e desenvolvimento e empresas que se dedicam a investigar e produzir novas tecnologias.

Evento foi realizado no auditório do CAD 2
Evento foi realizado no auditório do CAD 2 Foto: Foca Lisboa | UFMG

Ewerton Martins Ribeiro