UFMG Educativa veicula série sobre gênero na escola
Primeira reportagem discute se existe ou não uma ideologia de gênero e busca as origens dessa discussão
“Não à ideologia de gênero”. “Homem é homem, mulher é mulher”. “Com a ideologia de gênero, a escola agora não vai mais poder dizer que menino é menino e menina é menina”. Frases como essas amplamente compartilhadas nas redes sociais ganharam destaque no Brasil nos últimos anos principalmente na voz de lideranças religiosas, como bispos e pastores, e de políticos como o presidente Jair Bolsonaro e seus correligionários. Um discurso que ganhou tanta força que vem influenciando os rumos da política educacional no país. Mas, afinal, o que significa “ideologia de gênero”? Quais são as origens dessa expressão? E, existe ou não uma ideologia de gênero?
Para responder a essas e outras questões, o Jornal UFMG veicula, a partir de hoje, a série de reportagens Gênero: o que é da conta da escola? que analisa quais são os interesses por trás desse debate, como ele influencia nas estatísticas de violência contra mulheres e população e LGBT e qual é o papel das instituições de ensino e da família. A primeira reportagem da série veiculada nesta segunda-feira busca as origens e as controvérsias em torno dessa discussão.
As primeiras menções ao termo ideologia de gênero ocorreram no final da década de 1990, quando a Igreja Católica lança mão de um discurso que visa combater as teorias de gênero e o feminismo. O primeiro documento oficial em que esse termo é citado, segundo pesquisas, é uma nota da Conferência Episcopal do Peru, de 1998, que teve como tema “A ideologia de gênero – seus perigos e alcances”.
Essa reação da Igreja de ataque aos estudos de gênero ocorreu após a realização de uma Conferência da Organização das Nações Unidas, em 1995, que, ao discutir direitos humanos, trouxe a distinção entre a categoria sexo – estritamente vinculada à biologia humana - e a categoria gênero – uma questão cultural, influenciada por diversos fatores. Nessa época, pautas feministas como o direito reprodutivo e aborto ganharam projeção.
Logo, o discurso contra ideologia de gênero passou a ser defendido também por evangélicos e grupos laicos conservadores. Mas afinal, existe ou não uma ideologia de gênero? A reportagem ouviu especialistas ligados aos movimentos conservadores e também estudiosos de gênero para responder a essa questão.
(*Com produção de Paula Alkmim)
Reconheceu as vozes que abrem essa reportagem? Elas são do presidente Jair Bolsonaro, do pastor Silas Malafaia, do deputado federal por São Paulo e membro do Movimento Brasil Livre Kim Kataguiri e da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves. Mas por que o discurso contra a ideologia de gênero ganhou tanta força no Brasil nos últimos anos e como têm influenciado as políticas educacionais no país? Esse é o tema da reportagem de amanhã que será veiculada no Jornal UFMG, a partir de 12h30.
Para além das fontes citadas nessa reportagem, a UFMG Educativa também fez a pergunta “O que é ideologia de gênero? Existe ou não uma ideologia de gênero?” a outros especialistas. Ouça mais respostas:
- Professora da Faculdade de Educação da UFMG Adla Betsaida, doutora em educação: “Estudos de gênero seria o mais correto. A expressão ideologia de gênero é uma aberração.”
- Professor emérito da PUC de Goiás Jean-Marie Lambert, doutor em relações internacionais: “Ideologia é uma ideia que induz a certos comportamentos políticos. É óbvio que existe. O centro irradiador dessa ideologia é a ONU.”
- Psicanalista Letícia Lanz, transexual: “Terminologia ‘ideologia de gênero’ é totalmente inapropriada. Gênero é um fato, não uma ideia”
- Coordenador da ONG Corsa (Cidadania, Orgulho, Respeito, Solidariedade e Amor) organização dedicada a defesa dos direitos LGBT, Lua Ramires: “O termo ideologia é usado para mascarar uma tentativa conservadora de barrar a igualdade de gênero.”
- Professora sênior da Universidade Estadual de Londrina, Mary Neide: “É um conceito que não existe na ciência. Foi inventado por pessoas com pensamento conservador”