UFMG promove novas audiências para debater implementação do processo seletivo seriado
Primeiro dos três encontros será nesta quarta, no campus Saúde; a ideia é que o sistema, com aplicação anual de exames durante o ensino médio, coexista com o atual modelo de entrada
Nos próximos dias, a UFMG realizará mais três audiências públicas para a discussão de seus processos seletivos para a graduação. Abertos à comunidade de servidores e estudantes, os encontros farão avançar o debate sobre a possibilidade de a Universidade adotar, a partir do próximo ano, o processo seletivo seriado, que consiste na aplicação de exames ao fim de cada uma das três séries do ensino médio. A primeira audiência foi realizada no mês passado, no campus Montes Claros.
A proposta prevê o processo seriado como forma alternativa de seleção, e a ideia é que ela conviva com a modalidade atual, que utiliza o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Sistema de Seleção Unificada (Sisu). O processo seletivo seriado realizado paralelamente ao Enem/Sisu já é adotado por 14 universidades públicas: oito federais e seis estaduais – e está sendo debatido por várias outras.
Serão duas audiências em novembro e uma em dezembro. A primeira ocorre já nesta quarta-feira, 22 de novembro, às 14h, no Salão Nobre da Faculdade de Medicina, no campus Saúde; a segunda ocorrerá na quarta-feira seguinte, 29, também às 14h, no auditório da Reitoria, no campus Pampulha; a terceira está marcada para o dia 5 de dezembro, terça-feira, às 14h, também na Reitoria. Detalhe importante: esse terceiro encontro é focado nos professores e gestores das escolas de educação básica.
Convocação da escola básica para o debate
A expectativa é que a última das três audiências conte com presença significativa de professores e gestores das escolas de educação básica do estado, para que o debate possa ser qualificado pela percepção de quem atua no dia a dia da realidade escolar. A Pró-reitoria de Graduação (Prograd), que organiza as audiências, criou um formulário para a inscrição de membros das comunidades das escolas nessa atividade.
De acordo com os estudos já realizados na UFMG sobre o assunto – e a experiência de outras instituições que adotam a modalidade –, o processo seletivo seriado deverá propiciar maior interação e articulação da UFMG com as escolas de ensino médio, possibilitando que a Universidade forneça referências para essas escolas. “A intenção é valorizar uma aprendizagem contextualizada e interdisciplinar, contribuindo para uma formação crítica e cidadã dos estudantes da educação básica”, afirma o pró-reitor de Graduação, Bruno Otávio Soares Teixeira.
Segundo ele, com o processo seletivo próprio, os professores da UFMG conhecerão melhor os estudantes que chegarão à Universidade, porque os avaliarão anualmente ao elaborar e corrigir as suas provas de cada ano. “Ao mesmo tempo, fortalece-se, na instituição, um processo formativo sobre avaliação, que tem potencial para contribuir com a qualidade da oferta dos próprios cursos de graduação”, afirma o pró-reitor, para quem a UFMG ainda terá mais condições de contribuir para o contínuo aprimoramento do Enem e com o seu banco de questões.
O caminho até aqui
Até 2013, a UFMG preparava e aplicava seus próprios vestibulares; a partir de 2011, a primeira etapa foi substituída pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em 2014, a Universidade aderiu ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), mantendo como exceção os cursos que demandam processos seletivos específicos, como os do campo das artes e três licenciaturas específicas: Formação Intercultural de Educadores Indígenas (Fiei), Licenciatura em Educação no Campo (Lecampo) e Letras-Libras.
Em 2019, foi criada comissão para analisar os efeitos da adesão da UFMG ao Enem/Sisu, cujos trabalhos foram concluídos em 2021. Em 2023, dois grupos de trabalho foram instituídos: um para estudar experiências de processos seletivos seriados de outras instituições e elaborar diretrizes para o processo seriado de ingresso nos cursos de graduação ora em discussão e outro que se atém à avaliação do Vestibular de Habilidades.
“A UFMG busca formas de adaptar seu processo seletivo às novas necessidades da sociedade, e essas alternativas devem refletir sua relevância para a educação, com base em visão ampliada, que inclui a educação básica”, afirmou a reitora Sandra Regina Goulart Almeida logo que as discussões sobre o processo seriado foram deflagradas na Universidade. “Assim como todos os processos, a seleção de nossos estudantes deve ser guiada pelos valores da UFMG, como equidade, relevância e excelência. Também devemos reforçar nosso compromisso com a redução das desigualdades educacionais”, disse o vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira na oportunidade.
No âmbito dessas reflexões, o tema do processo seletivo seriado foi debatido em reunião estendida da Câmara de Graduação em 1º de junho deste ano, que teve a participação de titulares e suplentes, coordenadores de colegiados de curso e de Núcleos Docentes Estruturantes (NDEs), chefes de departamento, diretores de unidades acadêmicas e gestores de diversos setores da Administração Central. Em seguida, em 22 de junho, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) aprovou a realização das audiências para a avaliação dos processos seletivos de graduação da UFMG e a discussão sobre a possibilidade de se implementar o processo seletivo seriado.
Se, após todas as discussões, a proposta for aprovada, o novo sistema deve ser posto em curso a partir de dezembro de 2024, para alunos do primeiro ano do ensino médio – consequentemente, os primeiros estudantes selecionados por meio do novo sistema ingressariam na Universidade no primeiro período letivo de 2027. O percentual de vagas destinado a cada processo seletivo foi analisado pelo GT e será discutido nas audiências; também está sendo considerada a manutenção do respeito integral à Lei de Cotas.
“Quanto ao formato da avaliação, o foco deverá ser a formação geral básica do ensino médio – Linguagens, Matemática, Ciências Humanas e Ciências da Natureza – numa perspectiva de formação crítica e cidadã”, antecipou Maria Flores, pró-reitora adjunta de Graduação, na audiência em Montes Claros. “Vale destacar, no entanto, que esse processo passará por ajustes ao longo do tempo, de acordo com as demandas que surgirem”, explica.
Segundo Flores, estudos demonstram que alunos que ingressam na graduação por meio de processos seletivos seriados têm mais chances de permanência na universidade em comparação com os que ingressam por meio de outro processo seletivo. “Um estudante que se dedica, durante três anos, a organizar o ingresso na educação superior tende a fazer isso de maneira mais racional e planejada”, conclui.