Institucional

UFMG receberá R$ 30 milhões da PBH para realizar testes clínicos da vacina contra a covid-19

Termo de cooperação deverá ser assinado nos próximos dias; recursos garantem continuidade das pesquisas neste ano

Pesquisadores do CTVacinas, onde é desenvolvido o imunizante Spintec
Pesquisadores do CTVacinas, onde é desenvolvido o imunizante Spintec, considerado promissor no combate às novas variantes do coronavírusReprodução / TV UFMG

A Prefeitura de Belo Horizonte vai repassar R$ 30 milhões para que a UFMG consiga avançar da fase pré-clínica para as etapas 1 e 2 dos testes clínicos da vacina Spintec, desenvolvida no CTVacinas contra a covid-19. Nos próximos dias, PBH e Universidade assinarão termo de cooperação para oficializar o aporte dos recursos. A primeira parcela, estimada em R$ 6 milhões, deverá ser liberada já no mês de maio. As outras serão transferidas até dezembro, conforme proposta apresentada pela UFMG e aceita pela Prefeitura.

A Spintec é uma das três vacinas em estágio mais avançado no Brasil. O suporte financeiro oferecido pela Prefeitura da capital mineira vai assegurar a continuidade das pesquisas. “Foi com grande alívio que recebi essa notícia do próprio prefeito Alexandre Kalil. Havia o risco de que a pesquisa parasse, e esse recurso garantirá a execução do projeto ao menos até o fim do ano”, projeta a reitora Sandra Regina Goulart Almeida.

A plataforma tecnológica usada no desenvolvimento dessa candidata vacinal consiste na combinação de diferentes proteínas para formar uma única, artificial. Esse composto, chamado de "quimera", é injetado no organismo em duas doses e induz à resposta imune. Por não usar exclusivamente a proteína S, na qual se dá a maioria das mutações, as chances de sucesso desse imunizante no combate às novas variantes são bastante elevadas.

Quando inoculado em camundongos juntamente com um adjuvante vacinal já testado em humanos, o composto foi capaz de induzir resposta adequada nos animais imunizados. Em camundongos geneticamente modificados para servirem como modelo para a covid-19, a formulação induziu 100% de proteção. No momento, estão sendo realizados ensaios de tolerabilidade e imunogenicidade em primatas não humanos, destinados, respectivamente, a detectar possíveis efeitos colaterais e a confirmar a geração de anticorpos nas células de defesa.

O objetivo central do projeto que será financiado com recursos da Prefeitura de BH é viabilizar os estudos de fase clínica 1 e 2 em adultos saudáveis sem exposição prévia à covid-19. Essas etapas são requisitos necessários para os ensaios de fase 3 e aprovação pela Anvisa. O esforço vai incluir a produção da proteína quimérica, o preparo da documentação para registro do produto e os procedimentos para execução dos testes pré-clínicos de segurança e tolerabilidade e dos experimentos clínicos.

Após os testes com os primatas, os pesquisadores esperam ser autorizados a iniciar os experimentos clínicos em humanos, que serão divididos em três fases. As fases 1 e 2 deverão ser realizadas ainda este ano, e a fase 3, no início de 2022. Caso os testes confirmem a segurança e a eficácia da vacina, o imunizante deverá chegar ao mercado ainda em 2022.

Aplicação dos recursos
Os recursos da Prefeitura serão usados no pagamento de despesas de custeio relacionadas à manutenção e experimentos com os animais, na compra de reagentes (para avaliação da resposta imune, produção e formulação das vacinas), na produção de lotes de teste para análise da Anvisa, na supervisão dos ensaios, no preparo da documentação de pedido de registro, na execução dos testes pré-clínicos e nas duas etapas dos ensaios clínicos.

Uma das coordenadoras dos estudos, a professora Ana Paula Fernandes, do CTVacinas, sustenta que é estratégico investir em produtos brasileiros, apesar de já existir um leque de imunizantes disponíveis ou em desenvolvimento em várias partes do mundo. “Não sabemos a duração da imunidade, é preciso atestar a segurança de algumas vacinas, talvez precisemos obter produtos específicos para faixas etárias distintas e encontramos dificuldades para importar e produzir insumos no Brasil. Além disso, estamos descobrindo variantes que devem exigir outros tipos de vacinas. Por tudo isso, não podemos deixar de investir em vacinas nacionais. Elas são fundamentais para garantir uma imunização massiva", argumenta a professora.

Continuidade em 2022
Além do recurso da PBH, a UFMG já tem garantidos R$ 3 milhões em emendas parlamentares das deputadas estaduais Laura Serrano (Novo) e Beatriz Cerqueira (PT). De acordo com a reitora Sandra Goulart, novos aportes serão necessários no início de 2022 para a execução da etapa 3. “É uma fase mais complexa, multicêntrica, que envolverá alguns milhares de voluntários. Por isso, precisaremos continuar buscando recursos. Todo apoio financeiro que conseguirmos é essencial neste momento. Já temos um compromisso do deputado Agostinho Patrus [presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais] e dos demais parlamentares estaduais de que a Assembleia apoiará o restante da pesquisa, incluindo aporte no acordo da Vale com o Estado pelos danos causados em Brumadinho. E também estamos fazendo gestões junto aos parlamentares da bancada federal e ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações”, informa a reitora.

Na avaliação de Sandra Goulart, o apoio dessas instâncias governamentais é fundamental para compensar as próprias dificuldades orçamentárias enfrentadas pela UFMG. “Não teríamos condições de executar um projeto dessa envergadura sem esse suporte. Vivemos um momento crítico, principalmente depois do corte imposto, na semana passada, ao nosso orçamento, que deverá ser superior a 25% neste ano”, lamenta a reitora.