Institucional

UFMG vai atuar na destinação sustentável de produtos apreendidos pela Receita Federal

Cigarros, bebidas, roupas e TVs box ilegais passarão a ter novos usos; acordo de cooperação técnica foi assinado na sede do órgão em Belo Horizonte

Superintendente da Receita Federal em Minas Gerais,  Michel Lopes Teodoro, e a reitora da UFMG assinaram acordo
Superintendente da Receita Federal em MG, Michel Lopes Teodoro, e a reitora Sandra Goulart assinaram acordo Foto: Jebs Lima | UFMG

A UFMG e a Superintendência da Receita Federal em Minas Gerais oficializaram acordo de cooperação técnica para a destinação sustentável de mercadorias ilegais apreendidas pelo fisco, por meio da reciclagem, recuperação e reutilização desses produtos. O acordo foi assinado pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida e pelo superintendente regional do órgão, Michel Lopes Teodoro, na tarde desta quarta-feira, 29 de maio, no Memorial da Receita Federal em Belo Horizonte.

Durante a solenidade, a reitora informou que parte do material têxtil apreendido – roupas falsificadas, por exemplo – deverá ser encaminhado para o curso de design de moda e transformado em itens como colchas, que serão doadas para a população do Rio Grande do Sul, atingida pelas enchentes neste mês de maio. Além disso, a ideia é que TVs box ilegais (aparelhos conectados à televisão que dão acesso a conteúdos de streaming e canais por assinatura) sejam adaptadas como computadores para estudantes da UFMG sem acesso a PCs.

“É uma enorme satisfação, com orgulho imenso deste trabalho feito pela Receita Federal, trabalharmos juntos neste projeto que tem muito impacto para a nossa sociedade, não apenas para a população mineira, mas de todo o nosso país”, declarou a reitora. Ela enfatizou o compromisso social da Universidade, para além da formação de pessoas e o desenvolvimento de pesquisas de ponta, ao contribuir também com outra instituição pública. “É para a sociedade que nós trabalhamos”, disse.  

Segundo o superintendente da Receita, a instituição gastava grande montante de dinheiro público para incinerar mercadorias apreendidas. “Agora, com essas parcerias que vêm crescendo, nós, como servidores públicos, pegamos o item, usamos todo o conhecimento teórico e prático das instituições parceiras e devolvemos isso para a sociedade”, afirmou.

Outras universidades, a exemplo da Universidade Federal de Lavras (Ufla), já colaboram com ações de destinação sustentável de outras superintendências regionais do órgão no estado: bebidas alcoólicas apreendidas servem de matéria-prima para a fabricação de álcool gel e etílico, e o tabaco extraído de cigarros é transformado em adubo orgânico, por exemplo. Cigarros respondem por 50% das apreensões feitas em Minas.

Teodoro também lembrou que a UFMG e a Receita são parceiras em outras iniciativas, como a participação de estudantes da universidade vinculados ao Núcleo de Apoio Fiscal e Contábil (NAF) que atuam na assessoria à população durante o período de declaração do imposto de renda. Ele mencionou, ainda, que o edifício onde a Receita Federal está atualmente instalada, na avenida Olegário Maciel, sediou a Faculdade de Farmácia antes da transferência para o campus Pampulha.

Do vinho para a geleia

Geleia produzida no Departamento de Alimentos da Faculdade de Farmácia com vinho apreendido
Geleia produzida no Departamento de Alimentos da Faculdade de Farmácia com vinho apreendido Foto: Jebs Lima | UFMG

Na UFMG, vinhos apreendidos pela Receita Federal já estão sendo transformados em geleia no Departamento de Alimentos da Faculdade de Farmácia. “Nós temos um projeto de extensão, o Grupo de Apoio aos Produtores de Alimentos (Gapa). A nossa ideia é testar formulações possíveis de uso desse vinho e trabalhar com comunidades para que elas produzam essas geleias. Pretendemos fazer a transferência de conhecimento da tecnologia que estamos elaborando”, antecipou a professora Verônica Alvarenga. 

“Nós trouxemos hoje a formulação final testada junto com os alunos do projeto de extensão. Avaliamos a estabilidade, se a produção é viável, e a ideia é depois transferir todo esse conhecimento para comunidades que possam dar uma destinação sustentável para esses vinhos, com retorno para a sociedade”, acrescentou a professora Flávia Custódio. 

Ana Paola dos Reis, professora do curso de design de moda: possibilidades de transformação
Ana Paola dos Reis, do curso de design de modaFoto: Jebs Lima | UFMG

Na Escola de Belas Artes, além do objetivo imediato, de ajudar a população gaúcha, a intenção é investigar possibilidades de transformação de materiais têxteis apreendidos, que geralmente precisam passar pelo processo de descaracterização visual das marcas falsificadas. “Nós já levantamos uma série de hipóteses para utilização desse material, seja para uso no contexto da universidade, voltado para o Hospital Veterinário, ou no desenvolvimento de produtos de inovação pelo processo têxtil”, contou a professora do curso de Design de Moda, Ana Paola dos Reis.

Inclusão digital
O professor do Departamento de Engenharia Eletrônica da UFMG, Alexandre Mesquita, estuda novas possibilidades de adaptação das TVs box apreendidas. “O uso principal da Receita Federal tem sido transformá-las em minicomputadores para doar a escolas. Neste momento, estamos focados em agregar valor a eles, com um programa de tutoria personalizada para crianças e adolescentes terem uma espécie de professor particular com esse equipamento. Temos também um professor interessado em usá-los na criação de semáforos inteligentes, para dar avisos a pessoas que estão atravessando a rua”, detalhou. 

O campus da UFMG em Montes Claros, no Norte de Minas, também vai trabalhar na destinação sustentável de produtos apreendidos pela Receita Federal, mais especificamente com cigarros que devem ser aproveitados para a produção de adubo.

“Um dos pontos importantes desse projeto é não permitir o descarte de uma mercadoria na natureza ou a destruição de um bem apreendido, mas transformá-los em outros produtos que serão utilizados pela sociedade. Isso é sustentabilidade e se insere na meta que a Universidade tem traçado nos últimos anos de ser cada vez mais sustentável", destacou o vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira. Ele lembrou que o processo de transformação dos produtos contribui para a formação e o aprendizado dos alunos. “O estudante ganha em cidadania e conhecimento, a sociedade também se beneficia disso, e a UFMG desempenha seu papel social”, finalizou.

Alessandra Ribeiro