Arte e Cultura

Um terço das oficinas do Festival de Verão trata do universo das deficiências

Entre os temas, a possibilidade de apreciar a dança sem o uso dos olhos e a criação de material didático para a musicalização de surdos

Em oficina, bailarinos produzem obra coreográfica para ser apreciada por outros sentidos, que não a visão
Em oficina, bailarinos produzem obra coreográfica para ser apreciada por outros sentidosFoto: Divulgação

Das dez oficinas oferecidas no 12º Festival de Verão da UFMG, ao menos três contemplam temáticas relacionadas com o universo das pessoas com deficiência. O evento será realizado na semana que antecede o carnaval, de 5 a 8 de fevereiro, em Belo Horizonte.

Na oficina Meios de comunicações utilizados com pessoas surdocegas, que será ministrada no Centro Cultural UFMG, a professora Eliane Ribeiro vai discutir as possibilidades de comunicação com surdocegos.  O público-alvo são intérpretes da Língua Brasileira de Sinais (Libras), familiares das pessoas com essa deficiência e estudantes e profissionais das áreas de educação e saúde.

Na oficina Olhando sem olhos, que será ministrada no Conservatório UFMG, a dançarina, coreógrafa e professora da Escola de Belas Artes Anamaria Fernandes vai compartilhar as metodologias que desenvolveu durante um projeto homônimo realizado no ano passado. Por meio dele, bailarinos produziram uma obra coreográfica que pode ser apreciada pelos espectadores sem o uso da visão.

“A ideia de deficiência remete à questão do déficit, da falta, do limite, mas, neste trabalho, partimos de outro princípio: o de que uma deficiência não é, em si, uma limitação, uma barreira, mas uma possibilidade de experimentar novas descobertas nos campos estético e humano”, explicou Anamaria, em depoimento editado em vídeo sobre o projeto.

Para a professora, o ponto forte da iniciativa é pensar a diferença como riqueza, e não como algo a ser tolerado. “A ideia é um espetáculo de dança em que o público não fará uso da visão. O que resta do movimento se retirarmos a sua visibilidade? Estamos trabalhando com os sentidos e com a ideia da presença do movimento”, adianta.

Oficina ensina a produzir material didático de musicalização para público não ouvinte
Oficina ensina a produzir material didático de musicalização para público não ouvinte Foto: Divulgação

Outra língua, outra didática
Ministrada pelo músico Flávio Teixeira Maia, que é intérprete de Libras, a oficina Criação de material didático para práticas de musicalização para surdos é destinada a estudantes e profissionais da música interessados em produzir conteúdo para o público não ouvinte. A atividade será realizada no Conservatório UFMG, e, assim como a oficina Olhando nos olhos, vai contar com uma mostra final, que será apresentada no dia 8, quinta-feira, às 17h, no próprio Conservatório.

O trabalho de Flávio Teixeira nessa área começou em 2014, quando ministrou a oficina Percepção musical para surdos no Festival de Verão. Na ocasião, o músico e seus alunos buscavam pesquisar os tipos de sons que o surdo percebe – e como ele os percebe. “A percepção ocorre basicamente pela vibração, mas não apenas, até porque há vários níveis de surdez”, explica, lembrando também haver a percepção visual do toque dos instrumentos.

“A partir daquele momento, passei a ministrar oficinas em escolas que trabalham com surdos e percebi a necessidade de um material didático para esse público. Os surdos têm como primeiro idioma a Libras, e não o Português. Um material didático em Português não é exatamente acessível aos surdos”, afirma.

O trabalho na oficina, conta o professor, será o de verbalizar os termos específicos da música, explorando-os nos campos visual e espacial, para, em seguida, estabelecer sinais de Libras para eles. “Como ainda não existe nenhum material didático nesse sentido, também não existem sinais para esses termos”, informa.

Oficina ensina meios de comunicações utilizados com surdocegos
Oficina ensina meios de comunicações utilizados com surdocegos Foto: Divulgação

As inscrições para as oficinas do Festival de Verão custam R$ 20 por atividade e podem ser feitas pelo site do evento. Inscrições também podem ser feitas no posto que a Fundep (Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa) mantém na Praça de Serviços do campus Pampulha, na loja 7. Lá, o atendimento ocorre de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. O telefone para informações é o (31) 3409-4220.

Atualizações sobre o Festival de Verão da UFMG também podem ser obtidas no Facebook, no Twitter e no Instagram. O Conservatório UFMG fica na Avenida Afonso Pena, 1.534, Centro. Já o Centro Cultural está localizado na Avenida Santos Dumont, 174, Centro, em frente à Praça Rui Barbosa.

Olhando sem olhos
Período: 6 a 8 de fevereiro, das 13h às 18h
Local: Centro Cultural UFMG, sala 2

Criação de material didático para práticas de musicalização para surdos
Período: 5 a 8 de fevereiro, das 13h às 17h
Local: Conservatório UFMG, sala 5

Meios de comunicações utilizados com pessoas surdocegas
Período: 5 a 8 de fevereiro, das 13h às 17h
Local: Centro Cultural UFMG, sala Ana Horta

Ewerton Martins Ribeiro