Institucional

Universidades da América do Sul avançam na construção de programa de cooperação

Discussões foram aprofundadas nesta semana em encontros nos ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia e Inovação, que contaram com a participação da reitora Sandra Goulart

O ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, a reitora Sandra Goulart e outros dirigentes em reunião com a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos
O ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, a reitora Sandra Goulart e outros dirigentes em reunião com a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos Foto: Rodrigo Cabral | Ascom MCTI

A implantação de um abrangente programa de cooperação e mobilidade entre países e universidades da América do Sul foi pauta de encontros entre ministros, reitores e o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, nesta semana, em Brasília. As articulações são lideradas pela Associação das Universidades do Grupo Montevidéu (AUGM), que até o mês passado era presidida pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida.

Nesta quinta-feira, dia 13, Sandra Goulart participou, na sede do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCT), da cerimônia de assinatura de um protocolo de intenções que visa à criação de programa de mobilidade de estudantes de pós-graduação na América Latina. A iniciativa será implementada pela AUGM, pelo MCTI e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “É um processo que deverá ser puxado pelo Brasil, que tem um sistema universitário muito robusto. E, aos poucos, terá seu escopo ampliado com a adesão de outros países. Esse é um tema que interessa muito ao ex-presidente Mujica, que procurou a AUGM para discutir um programa de mobilidade e integração”, afirma a reitora.

Na reunião no MCTI, que formalizou o protocolo de intenções, Mujica lembrou as lutas históricas pela integração da América Latina e defendeu a adoção de políticas e ações conjuntas entre os países que ajudem a transformar a vida e a reduzir as desigualdades sociais no continente. “Somos brasileiros aqui, somos argentinos lá, mas somos desta América. Temos de pensar por todos e para todos. Temos de transformar nosso sentimento de pátria em um sentimento de continente”, afirmou.

A integração latino-americana via universidades também está sendo debatida no Ministério da Educação. Também nesta quinta-feira, os reitores das instituições que integram a AUGM e Pepe Mujica se reuniram com o ministro Camilo Santana. “Foi uma reunião de informes sobre o processo no âmbito do MEC, uma vez que a AUGM e a Capes já haviam assinado um protocolo em maio. AUGM, Andifes e Capes pretendem construir um grande programa que contemple cooperação científica, extensão e mobilidade de professores e estudantes de pós-graduação”, explica Sandra Goulart. Ela afirma que a AUGM terá papel preponderante nessa construção, já que tem “um histórico de 32 anos em iniciativas de integração de universidades no continente”. Ainda de acordo com a reitora, o processo avança em “um momento muito importante”, uma vez que o Brasil se prepara para sediar a Conferência Regional de Educação Superior (CRES +5) da Unesco, em março de 2024.

Camilo Santana, Sandra Goulart e Pepe Mujica: integração puxada pelo Brasil
Camilo Santana, Sandra Goulart e Pepe Mujica: integração capitaneada pelo Brasil Foto: Arquivo pessoal

Conselho de Ciência e Tecnologia
Na quarta-feira, dia 12, a reitora Sandra Goulart participou da cerimônia de retomada do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, vinculado à Presidência da República e coordenado pelo MCTI. Sandra Goulart, que já compunha a instância como integrante suplente, passou a titular. Seu mandato termina no fim do ano. A vaga de titular era ocupada pelo ex-ministro Alysson Paolinelli, que morreu no mês passado. Além da reitora da UFMG, a Andifes é representada no órgão pelo presidente da entidade, Ricardo Fonseca (UFPR), e pelos reitores Emanuel Tourinho (UFPA) e Dácio Mateus (UFABC).

A cerimônia também marcou a entrega das medalhas da Ordem Nacional do Mérito Científico a entidades e pesquisadores, incluindo a médica sanitarista Adele Benzaken e o infectologista Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda. Os dois cientistas tiveram a honraria revogada pelo governo Bolsonaro em 2021. Outros 21 cientistas que renunciaram à indicação em solidariedade a Benzaken e Lacerda também foram agraciados, como o presidente da Fapemig, Paulo Sérgio Lacerda Beirão, que é professor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG. Também foi assinado o decreto de convocação da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. “Teremos uma nova conferência depois de 13 anos. Era um evento muito aguardado pela comunidade científica”, afirma Sandra Goulart. 

Reitora defende cooperação horizontalizada

Uma cooperação internacional projetada em bases comuns e igualitárias, de caráter horizontalizado e solidário, foi defendida pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida em sua participação na mesa-redonda Mobilidade estudantil: uma etapa fundamental para a integração regional da juventude latino-americana, realizada na tarde desta quinta-feira, dia 13, em Brasília, no âmbito da programação da 59ª edição do Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Para a reitora da UFMG, a experiência da AUGM no campo da integração regional pauta-se por esses princípios. “Como universidades, aprendemos muito ao longo desses 30 anos com o Sul, com nossos companheiros [países] do [Hemisfério] Sul. Aprendemos, no plano acadêmico, como criar um espaço comum de experiência e intercâmbio, com mobilidade de estudantes, professores, servidores, com ações integradas no campo do ensino, da pesquisa, da extensão e em áreas temáticas que são prioritárias para nossas instituições e nossos países, como ciência e tecnologia, direitos humanos, cultura, extensão universitária e autonomia universitária”, disse Sandra Goulart, ao fazer uma radiografia das ações empreendidas.

Desafios e valores que unem
Se no plano acadêmico a cooperação registrou avanços consideráveis, os desafios no âmbito político ainda são gigantescos, na avaliação de Sandra Goulart. “Temos um enorme trabalho pela frente. Nesses 30 anos, nossas sociedades mudaram profundamente, mas também permaneceram profundamente imutáveis em muitos sentidos. Por mais que nossas sociedades tenham mudado, por mais que nossos países tenham se reinventado, em todo esse tempo sempre houve essencialmente um desafio: a superação da macroestrutura herdada de tempos passados, que ainda hoje paira sobre o nosso presente – desigual e injusto –, fazendo-nos sempre adiar a chegada do futuro pelo qual todos ansiamos, uma sociedade mais justa e equânime”, argumentou.

No encerramento de sua fala, a reitora defendeu uma integração pautada nos valores que unem as instituições latino-americanas: educação superior como bem público social, direito universal e dever do Estado, autonomia universitária e liberdade de cátedra, respeito à diversidade e à valorização da interculturalidade.  Ela conferiu à integração um status de utopia ao citar o escritor uruguaio Eduardo Galeano: “A utopia está no horizonte. Eu ando dois passos, ela se afasta dois passos, e o horizonte se estende por mais dez passos. Então, para que serve a utopia? Para isso, ela serve para caminhar”. 

Sandra Goulart compartilhou suas ideias sobre o tema em uma mesa formada pelos reitores Osvaldo Corrales e Ricardo Arin, respectivamente, presidente e vice-presidente da AUGM, Amanda Harumy, secretária executiva da Organização Continental Latino-americana e Caribenha dos Estudantes (Oclae), Bruna Chaves Brelaz, presidente da UNE, Vinícius Soares, presidente da Associação Nacional dos Pós-graduandos (ANPG), e Jade Beatriz, presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes).

Ainda na quinta-feira, a reitora participou da programação noturna do Congresso da UNE, que teve a presença de José Mujica e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Com Assessoria de Comunicação do MCTI