Ensino

‘Universidades precisam assumir seu compromisso com a educação básica', propõe António Nóvoa

Reitor honorário da Universidade de Lisboa lançou desafio a dirigentes das Ifes sediadas em Minas reunidos na UFMG

Presidente do Foripes e reitor da UFLa, João Crysostono de Resende, reitora da UFMG, Sandra Goulart Almeida, Antonio Nóvoa e o secretário de educação da Capital, Charles Diniz
O presidente do Foripes e reitor da Ufla, João Chrysostomo de Resende, a reitora da UFMG, Sandra Goulart Almeida, António Nóvoa e o secretário de Educação de Belo Horizonte, Charles Diniz Foto: Foca Lisboa | UFMG

“O Brasil é o país que tem uma das melhores propostas sobre os rumos da educação básica e da formação de seus professores. E agora o momento é propício para se vencer o cansaço e dar o primeiro passo na construção de um caminho pragmático, criando condições para que o ideal transformador se realize”, afirmou o professor António Sampaio da Nóvoa, reitor honorário da Universidade de Lisboa durante reunião do Fórum das Instituições Públicas de Ensino Superior de Minas Gerais (Foripes), realizada ontem (quarta, 16), na Sala de Sessões da UFMG.

Na avaliação do especialista reconhecido mundialmente por suas contribuições para a formação de professores, são as instituições públicas de ensino superior que devem dar esse primeiro passo. Segundo Nóvoa, não somente as universidades brasileiras, mas as do mundo inteiro estão diante do momento decisivo "de assumir seu compromisso com a educação básica".

O professor admitiu que esse cenário o deixa “angustiado”, pois, com toda sua experiência, incluindo a de ocupante da Cátedra Unesco Futuros da Educação, criada na Universidade de Lisboa, e a de candidato à presidência de seu país, em 2016, sente que "as universidades estão fechadas em si mesmas, marcadas por discursos mercantilistas e de exaltação da produtividade. Com isso, estão perdendo a alma e sua razão de existir”.

António Nóvoa: autor de mais de 150 publicações – livros, capítulos e artigos – editadas em 12 países
António Nóvoa: "arriscar um futuro" Foto: Foca Lisboa | UFMG

Na avaliação de António Nóvoa, passada a pandemia, observa-se que muitas das aspirações e transformações propostas para quando chegasse o “novo normal” não se efetivaram. Mas ele acredita ainda ser possível "arriscar um futuro" em que a mudança se concretize. “Para isso, dois movimentos são essenciais: o primeiro é criar condições para valorização das iniciativas positivas, sejam as de grupos, projetos ou até mesmo as individuais, para que delas comece uma dinâmica transformadora e contagiante”, afirmou. O segundo gesto, segundo ele, diz respeito a uma "ação pública da universidade de compromisso com a ciência, com a tecnologia, com a pesquisa e com a geração de cultura científica das sociedades, na busca de aproximação com a educação básica”.

Escuta e valorização docente
O especialista, no entanto, reconhece que o grande desafio é descobrir como fazer essa dinâmica acontecer. “Temos ótimas ideias e iniciativas importantes e necessárias, como o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) e a Residência Pedagógica da Capes, mas ainda precisamos de um veículo institucional que possibilite a criação de um sistema, não somente de formação dos professores — o que já não seria pouco —, mas também de escuta e de valorização da atuação docente, enfim, um lugar para dar voz aos professores da educação básica e firmar novas dinâmicas profissionais”, propõe. 

Nóvoa acrescentou que se poucas escolas, conduzidas por universidades e institutos de ensino superior, se dispuserem a construir essa experiência, elas se tornarão referência para que outras acreditem na proposta.

Ação conjunta
Ele disse considerar que, para isso, três condições são essenciais: a iniciativa de aproximação com a educação básica tem de partir dos dirigentes das universidades para mobilizar o conjunto da comunidade acadêmica; devem participar nessa associação as secretarias municipais e estaduais de educação e tantas escolas quantas for possível; possibilitar que, nesse espaço de ações conjuntas, ocorra o que –estranhamente, segundo Nóvoa – não se vê nas formações de professores, ou seja, o professor de educação básica dar aulas na área de formação, e o professor universitário dar aulas na educação básica.

“As escolas devem ter total liberdade para experimentação, para assim contribuírem com as outras escolas formadoras de professores, numa dinâmica que saia da lógica tradicional dos estágios”, reiterou. 

Para o professor, as universidades têm legitimidade para começar uma iniciativa como essa e só precisam de coragem para dar o primeiro passo. O reitor honorário da Universidade de Lisboa concluiu sua participação na reunião com a manifestação do compromisso de colaborar com as instituições de ensino superior mineiras, caso decidam por alguma iniciativa na linha do que ele propõe. 

Sandra Regina Goulart Almeida:
Sandra Goulart: convite às demais instituições para iniciar ação conjuntaFoto: Foca Lisboa | UFMG

O desafio foi aceito pela reitora da UFMG, Sandra Regina Goulart Almeida, que estava acompanhada do pró-reitor de Graduação, Bruno Teixeira, e da pró-reitora adjunta, Maria José Flores, e de dirigentes de outras 11 das 19 instituições que compõem o Fórum.

“Em breve, enviaremos um relato dessa reunião para todos os membros do Foripes, estendendo o convite para que se juntem a nós nessa proposta de criar espaço para o fortalecimento da aproximação das instituições de ensino superior com a educação básica”, informou a reitora.

A reunião contou ainda com a participação do secretário municipal de Educação de Belo Horizonte, Charles Martins Diniz.

Teresa Sanches