Universidade quer voar mais longe com nova aeronave

Café populariza filosofia

Iniciativa de professor da Fafich promove discussões filosóficas em shopping no centro de Belo Horizonte

A filosofia, que nasceu na rua, no espaço da ágora, há muito se afastou de suas origens. Hoje é matéria de iniciados, discurso acessível apenas àqueles que dominam seus códigos. Os encontros do Café Philo, iniciativa do professor de filosofia da Fafich, Rodrigo Duarte, pretendem mudar essa realidade. O projeto conta com o apoio da Livraria da Travessa e acontece no Beco das Artes, no Bahia Shopping. 

A série de discussões segue tendência que surgiu na Europa, há uma década, e em São Paulo, quatro anos atrás. Na UFMG, diz Duarte, é uma iniciativa para além de seus muros. "A escolha do shopping não podia ser melhor, já que nosso objetivo é a participação de pessoas que não tenham contato com o meio acadêmico", conta. 

Os encontros são mensais e abertos ao público. A última palestra, no dia 15 de setembro, foi realizada pela professora da Ufop, Guiomar Gra-mont. A idealizadora do Café Filosófico da Livraria Cultura em São Paulo, professora Olgária Matos, afirma que esses cafés servem como espaços públicos alternativos, em que médicos, psicólogos e engenheiros podem discutir e aprender filosofia. "E mais que isso, a reunião é um exercício da cidadania", acrescenta. 

Duarte revela que, no início, ficou um pouco temeroso. "Não sabia se a idéia iria vingar", diz. Segundo a coordenadora de Jornalismo da UFMG na TV Universitária, Myrian Chrysthus, que cobriu o evento para um programa piloto da emissora, o Café Philo já é um sucesso por forçar as pessoas a abandonarem seu mundo, saírem de suas casas, enfrentar trânsito para conversarem e discutirem questões filosóficas. "Um verdadeiro exemplo de civilidade", resume. 

Quando Filosofia e Literatura se misturam 

Como diferenciar ciência e ficção, mito e realidade, filosofia e literatura, num momento em que todas essas definições deixam de ser estanques e se tornam móveis, flexíveis, discutíveis? Foi com essa pergunta que a professora Guiomar Gramont iniciou sua palestra no Café Philo, no dia 15 de setembro. 

Gramont criticou o esvaziamento da arte na filosofia. Segundo ela, a filosofia e a literatura são conhecimentos imbricados. "Em livros de escritores como Machado de Assis ou Thommas Mann, há discussão de teses muitas vezes mais complexas do que aquelas que se encontram nos textos filosóficos" argumenta. Para ela, não há diferenças entre o discurso poético de Zarathustra, de Nietzsche, e o de um poema como Les Fleurs du Mal, de Baudelaire. "A metáfora não é um privilégio dos poetas. Os filósofos também se utilizam delas para exprimirem seu pensamento", afirmou. 

Gramont comparou ainda a obra do escritor russo Dostoiévski com o filósofo Kierkegaard. Enquanto este pretende criar paradigmas para uma compreensão universal da existência humana, o autor de Irmãos Karamázov produz uma universalidade não intencional em suas personagens.

Alexandra Leite