As repercussões na UFMG das medidas econômicas do governo

"Chegamos ao fundo do poço"

Manifesto das sociedades científicas denuncia fechamento do CNPq e fim do financiamento à pesquisa

A pós 47 anos de política científica e tecnológica, parece que chegamos ao fundo do poço. Por um ato unilateral, o presidente do CNPq decidiu, na prática, encerrar as atividades da agência. Além dos efeitos concretos que tal medida acarretará, esta tem um caráter simbólico muito importante.

A Portaria sinaliza a falência do financiamento público à Ciência e Tecnologia e escancara a completa ausência de prioridade do setor, sempre alardeada pelo governo federal.

Já começam a ser anunciadas, ainda oficiosamente, novos impactos sobre outros programas e agências. Sobre o Pronex, sobre a Capes, sobre as universidades e institutos de pesquisa.

Frente a essa situação, a comunidade científica brasileira e aqueles que compreendem a importância do setor para o desenvolvimento e a soberania do País, não podem se calar.

Desde logo afirmamos que não se trata de reação corporativa, ao arrepio da emergência que se abate sobre País face à crise internacional. No entanto, não admitimos a responsabilidade de assumirmos o ônus do desastre de uma política econômica de cuja construção e operação sempre estivemos afastados.

Nosso protesto nasce, em primeiro lugar, da necessidade imperiosa de defender a continuidade do apoio público à C&T, que foi capaz de construir um patrimônio invejável em termos institucionais e de recursos humanos. Mas, além disso, nosso protesto se eleva contra a falsa idéia de que se pode levar o metabolismo da ciência e da tecnologia a um ritmo de hibernação e, depois, reanimá-lo sem que isto provoque prejuízos graves.

A situação que se desenha para o financiamento público de C&T no Brasil anuncia a destruição desse patrimônio. Que não pertence ao governo. Que não nos pertence, mas sim aos que virão. É uma obrigação passá-lo a esses, fortalecido e efetivo, do mesmo modo que os que nos antecederam puderam nos entregar.

Não à destruição do parque científico e tecnológico brasileiro!

Publicado no Jornal da Ciência, de 21 de outubro