Um bem-sucedido programa preventivo desenvolvido pela Faculdade de Farmácia está ajudando a diminuir os efeitos devastadores da ação das drogas sobre a rotina de trabalho nas organizações. Graças ao projeto Drogas de Abuso no Ambiente de Trabalho, o Departamento de Toxicologia conseguiu reduzir de oito para três a média mensal de acidentes no trabalho provocados pelo consumo abusivo de drogas, inclusive o álcool. Iniciado há um ano e meio, o programa beneficia funcionários de oito empresas dos setores de calçados, construção civil e siderurgia de Minas Gerais. 

De acordo com o coordenador do projeto, professor Carlos Alberto Tagliati, cerca de 20% dos funcionários destas empresas apresentaram sinais de droga nos exames laboratoriais realizados há um ano. A cocaína e seus derivados, diz o coordenador, foi a droga mais encontrada nas análises de urina até o momento. 

Numa das indústrias pesquisadas, o índice constatado chegou a 30%. Tagliati espera para este ano uma redução de 50% em relação aos números 1998. 

Os aspectos mais importantes da ação contra as drogas nas empresas são a prevenção e a educação, que constituem a fase inicial do programa. "Além de palestras, vídeos, distribuição de cartilhas e folhetos, a Faculdade de Farmácia oferece cursos para pessoal de Recursos Humanos, médicos do trabalho e supervisores encarregados de aplicar nas empresas o conteúdo de nossas atividades", explica Tagliati. Outro objetivo das empresas ao investir primeiro na prevenção do uso de drogas, segundo o coordenador, é evitar o alto custo financeiro dos exames toxicológicos e do tratamento dos funcionários dependentes. 

São os supervisores, de acordo com o professor, os primeiros a notar comportamentos indicadores de um possível abuso de drogas entre funcionários. 

"Excesso de faltas ao trabalho, idas constantes ao cafezinho ou ao banheiro, produtividade baixa e aumento do número de acidentes no trabalho são sinais do envolvimento do empregado com drogas", diz .

Coleta de urina

A eficácia do programa de prevenção atinge cerca de 80% dos funcionários, segundo Tagliati. Como forma de melhorar ainda mais este índice, a empresa determina a coleta de urina sem aviso prévio aos funcionários e envia o material para o Laboratório de Toxicologia da Faculdade de Farmácia. Para diagnosticar o consumo de drogas nos finais de semana, as coletas são sempre feitas às segundas-feiras. Tagliati explica que o número elevado de empregados e o alto custo do serviço impedem que os exames sejam realizados com a totalidade dos funcionários das empresas. A solução nesses casos, diz, é recorrer ao sorteio, a menos que o supervisor suspeite de algum empregado e o indique para a coleta. 

Quando o empregado admite ter problemas com drogas pesadas ou álcool, a empresa pode pagar todo o tratamento (em hospitais e clínicas) ou dividir o custo com o próprio funcionário. A empresa, nesse caso, também incentiva a realização de reuniões dos Narcóticos Anônimos (NA) ou dos Alcóolicos Anônimos (AA) dentro das suas dependências, para evitar recaídas. 

Tagliati afirma que a tentativa de recuperação do empregado é viável tanto pelo lado social quanto pelo econômico: "Uma pesquisa recente, nos Estados Unidos, provou que o investimento feito pelas empresas para eliminar o vício dos seus funcionários tem retorno garantido no período de um ano". Segundo o professor, gasta-se mais tempo e fica bem mais oneroso treinar outro trabalhador do que recuperar o funcionário dependente. "A empresa também melhora a sua imagem ao exercer uma função social", acrescenta. 

O projeto Drogas de Abuso no Ambiente de Trabalho é estendido a 13 escolas da rede pública de Belo Horizonte desde 1997. São feitas palestras aos professores e pais de alunos encarregados do trabalho de educação e prevenção entre os estudantes. O Departamento de Toxicologia também faz análises de drogas para hospitais e clínicas psiquiátricas.