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Pesquisa viaja pelas narrativas do cinema

Dissertação da Belas-Artes mostra como se deu a evolução da linguagem cinematográfica neste século

Uma análise da narrativa cinematográfica desde os primórdios da sétima arte, no início do século, até os filmes produzidos com tecnologia digital dos anos 90. Este foi o tema da dissertação de mestrado Montagem Cinematográfica e a Lógica das Imagens, defendida pela professora de cinema da Uemg Maria de Fátima Augusto, na Escola de Belas-Artes, em dezembro passado.

Para desenvolver seu trabalho, Maria de Fátima baseou-se principalmente em dois livros do filósofo Gilles Deleuze (Cinema I - A Imagem-Movimento e Cinema II - A Imagem-Ação) sobre a teoria da montagem - que, neste caso, significa narrativa. Ao mesmo tempo, Fátima analisou a evolução da linguagem, desde o nascimento do cinema, traçando um paralelo com a teoria de Deleuze. 

As primeiras formas narrativas datam das décadas de 10 e 20 e ocorrem simultaneamente em quatro países: nos Estados Unidos, com a escola clássica ou linear de David W. Griffith; na França, com o impressionismo de Abel Gance; na União Soviética, com Sergei Einsenstein e a escola dialética; e na Alemanha, com o expressionismo de Fritz Lang e Murnau. "Até o surgimento dessas correntes, o que predominava era a câmera fixa, que correspondia mais ou menos aos atos de teatro separados uns dos outros por cartelas em que se lia o título do quadro seguinte", explica Maria de Fátima. 

Das quatro escolas pioneiras da narrativa cinematográfica, a que se sobressaiu foi a montagem americana, porque se preocupava apenas em contar uma história de forma linear - a imagemação, segundo o filósofo. 

"Nas palavras de Deleuze, a narrativa concebida por Griffith dá ritmo à ação, abreviando a duração dos planos à medida que o final se aproxima", diz a pesquisadora. Esse tipo de montagem, acrescenta, acabou por influenciar a produção cinematográfica durante 50 anos, como uma espécie de estrutura básica da narrativa.

Revolução

Nos anos 40, uma revolução marcaria a montagem cinematográfica: primeiro, com Cidadão Kane, de Orson Welles, e, depois da Segunda Guerra Mundial, com o neo-realismo italiano. Em Cidadão Kane, Welles utiliza o passado e o presente para mostrar ao espectador quem foi o protagonista do filme. É o que Deleuze denomina de imagem cristal.

No neo-realismo italiano, os personagens estão mais preocupados com a realidade que os cerca e buscam a ação, como no filme Ladrões de Bicicleta, de Vittorio De Sica, em que pai e filho procuram pela bicicleta furtada para poderem trabalhar. 

Com o advento do videocassete e do computador, a partir dos anos 70, o cinema começa a criar imagens híbridas, revolucionando a forma de narrar um filme. O inglês Peter Greenway é apontado pela professora Maria de Fátima como o mais criativo cineasta contemporâneo no uso de imagens híbridas. Nos filmes Última Tempestade e O Livro de Cabeceira, Greenway sobrepõe imagens e sons na mesma tela para ilustrar histórias passadas dos personagens - similar à imagem cristal de Orson Welles. 

Já a narrativa circular representa, segundo Maria de Fátima, a última forma original de montagem cinematográfica. Ela foi utilizada nos filmes Tempo de Violência, de Quentin Tarantino, e Antes da Chuva, do macedônio Milcho Manchevisky. Ambos terminam a película do mesmo ponto onde começaram. 

"Por causa dessa característica, algumas seqüências são bifurcadas, ou seja, dão margem para o espectador escolher um caminho que o leve à compreensão da história. Essa narrativa também é um exemplo de que não é necessário se prender à tecnologia para criar novas montagens", conclui a autora da dissertação.

Marco Antônio Corteleti