Veneno no saleiro

Não é só ciência

Tese analisa experiência informacional de grupo de estudantes que visitou o Museu de Ciências Morfológicas

Quais significados surgem de uma excursão escolar ao museu? Para além de diversificar a forma com que um conteúdo é aplicado fora de sala de aula, a experiência pode levar os estudantes a reflexões sobre a própria subjetividade. Partindo disso, a pedagoga Patrícia Carla Oliveira Carneiro Silva desenvolveu a tese Público escolar no Museu de Ciências Morfológicas da UFMG: uma investigação acerca dessa experiência informacional, defendida em agosto na Escola de Ciência da Informação. 

O desejo de Patrícia de pesquisar a experiência de alunos da educação básica no Museu de Ciências Morfológicas da UFMG (MCM) surgiu quando visitou o espaço pela primeira vez: “Tive a grata surpresa de conhecer mais o corpo humano, e isso me fez refletir sobre a minha própria vida, a igualdade, a perfeição da natureza e a nossa capacidade de transformação. Como pedagoga, pensei também que a visita, para um aluno de educação básica, provoca outras reflexões, e quis investigar quais são elas”. 

A experiência informacional, conceito-chave da pesquisa realizada por Patrícia, baseia-se na vivência dos indivíduos diante da informação e nos sentidos diferenciados que repercutem a partir de um encontro. “O contato com o acervo do museu, que é um ambiente informacional, provoca sensações que não estavam previstas, a experiência se apodera de nós e pode nos transformar”, explica a autora, lastreada em teorias que discutem o potencial que uma experiência tem para gerar mudanças na subjetividade. 

A pesquisa fundamenta-se no chamado Interacionismo Simbólico para compreender os significados criados pelos estudantes a partir da experiência de visita. Foram escolhidas cinco escolas, públicas e privadas, localizadas em áreas distintas de Belo Horizonte e da Região Metropolitana, que encaminharam turmas de segunda série do ensino médio ou do oitavo ano do ensino fundamental ao MCM no primeiro semestre de 2017. Essas visitas foram acompanhadas por Patrícia Carla. 

Além de observar o comportamento e a interação dos jovens com o museu, a pesquisadora realizou grupos focais e entrevistas semiestruturadas com os adolescentes, visando tomar conhecimento das expectativas e dos sentidos que emergiram com a visita, e conversou com os professores e monitores que acompanharam os alunos. Passados cinco meses, a autora da tese voltou a conversar com os estudantes para identificar os desdobramentos e impactos que a ida ao museu causou na vida de cada um. 

Bancada com peças do acervo do MCM: sensações não previstas
Bancada com peças do MCM: sensações não previstas Eber Faioli/UFMG

Percepções
Os depoimentos colhidos revelaram a Patrícia Carla que a experiência da visita ultrapassou o contato com o fato científico, que era o propósito inicial da atividade programada pelos professores. Assim, além de ser um ambiente ao qual a escola pode recorrer para aprofundar o conteúdo de biologia e promover atividades práticas, o MCM estimula reflexões subjetivas em seus visitantes. A pesquisadora elenca nove significados atribuídos pelos estudantes após a visita: brevidade da vida, reconhecimento de si, não preconceito, religiosidade, violência na comunidade, aborto, aporte para o aprendizado escolar, escolha profissional e hábitos de vida e de saúde. 

O estudo do imaginário foi uma das chaves usadas pela pesquisadora para acessar a subjetividade dos entrevistados. Ao pedir para os estudantes citarem imagens que representassem o MCM, o professor, o monitor e a experiência da visita, Patrícia conseguiu perceber que a experiência informacional foi simbolizada de forma muito positiva. “Pude notar que o desenvolvimento da experiência, as vivências com os pares, os monitores e professores foram bem positivas e contribuíram para que o significado mais subjetivo pudesse emergir da visita. Por meio da afetividade, os estudantes traçaram vínculos mais duradouros com o que foi visto no museu”, conclui Patrícia Carla. 

Tese: Público escolar no Museu de Ciências Morfológicas da UFMG: Uma investigação acerca dessa experiência informacional
Autora: Patrícia Carla Oliveira Carneiro Silva
Orientador: Cláudio Paixão Anastácio de Paula
Coorientador: René Lommez Gomes
Defesa: 24 de agosto de 2018 no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação

Dalila Coelho