Artilharia pesada contra o zika

Os donos do cocar (e da língua)

Livros de professor da Fale reúnem materiais de documentação e registro do idioma Tenetehára, falado por indígenas do Maranhão

Na língua Tenetehára, os Guajajaras, que habitam, entre outras terras, o Vale do Rio Pindaré, no Maranhão, são “os donos e aqueles que carregam o cocar”. Pesquisa desenvolvida há mais de 10 anos pelo professor Fábio Bonfim, da Faculdade de Letras, em colaboração com outros pesquisadores e lideranças da própria etnia, vem ajudando esse povo a também se apropriar de sua língua, o Tenetehára, fortemente ameaçada de extinção pela pressão imposta pelo idioma português.

Os estudos resultaram nos livros Interpretação de textos e ­atividades gramaticais na língua Guajajára e Coletânea de narrativas guajajáras. “Trata-se de um apurado material de documentação e registro da língua e da literatura Tenetehára [pertencente à família linguística tupi-guarani, tronco tupi], que será de grande valia para o trabalho de educação escolar nas aldeias”, explica Fábio Bonfim.

O professor contou com a colaboração de quatro pesquisadores: as professoras Marina e Cíntia Guajajara, lideranças da aldeia Lagoa Quieta, na Terra Indígena Araribóia, o professor Quesler Fagundes Camargos, do Departamento de Educação Intercultural da Universidade Federal de Rondônia (Unir), e o pesquisador Ricardo Campos Castro, pós-doutorando em linguística na Universidade de Campinas (Unicamp).

O volume de literatura cobre aspectos da cosmologia e do imaginário do povo Guajajara e reúne estórias sobre a criação da lua, do fogo e da luz, entre outros temas do imaginário indígena. O outro volume aborda elementos da estrutura gramatical da língua e se subdivide em exercícios práticos e atividades de leitura e escrita. “Com esse material, acreditamos que os Tenetehára Guajajára terão maior controle social das relações linguísticas, interculturais, econômicas e políticas, além de acesso a instrumentos que lhes possibilitem dominar a modalidade escrita de sua língua nativa”, avalia o pesquisador.

Idas e vindas
Fábio Bonfim conta que começou a desenvolver a pesquisa em 2005, no âmbito do Programa de Pós-graduação em Estudos Linguísticos (Poslin), e os livros são fruto de um trabalho intenso marcado por suas viagens e de outros pesquisadores às terras indígenas, no Maranhão, e pela vinda à UFMG, no período de 2012 a 2016, de professores indígenas para a produção dos materiais no Laboratório de Línguas Indígenas e Africanas (Laliafro), durante as oficinas de revitalização linguística. Entre os professores que participaram do trabalho de supervisão dos volumes, estão Cíntia, Moisés, Luiz ­Carlos, Zezico, ­Raimundo Alves de Lima, Marcilene e Danúbia, todos da etnia Guajajara.

Volume de literatura aborda cosmologia e imaginário Guajajara
Volume de literatura aborda cosmologia e imaginário Guajajara Reprodução

O livro contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Fundação OAK.

Dissertações, teses e artigos científicos elaborados sobre a ­língua Tenetehára estão disponíveis no site do professor Fábio Bonfim e no portal do Laboratório de Línguas Africanas da Fale.

Obras: Interpretação de textos e atividades gramaticais na língua Guajajára e Coletânea de narrativas guajajáras
Coordenação: Fábio Bonfim Duarte
Organização: Cíntia e Marina Guajajara, Quesler Fagundes Camargos e Ricardo Campos Castro
Diagramação: Sília Moan
Edição: Fale/UFMG
Acesso: Os interessados podem enviar mensagem ao professor Fábio Bonfim (fbonfim@terra.com.br) solicitando os volumes em formato pdf

Isabella Lisboa