Declaração inspiradora

A lona volta à tona

Historiadora lança livro sobre trajetória do circo e do teatro em Minas Gerais no século 19

O estudo sobre os espetáculos teatrais e circenses ajuda a descortinar a vida cultural de uma época e diz muito sobre a história de Minas Gerais e do Brasil no século 19, afirma a professora Regina Horta Duarte, do Departamento de História da UFMG.

A professora acaba de reeditar pela Fino Traço o livro Noites circenses, cuja primeira versão, de 1995, resultante de sua tese de doutorado em História, foi uma das primeiras publicações brasileiras sobre circo. “Na época era difícil obter a bibliografia, que praticamente só existia no exterior. A documentação sobre o tema, antes dispersa em arquivos e bibliotecas de várias cidades, encontra-se, hoje, em grande parte digitalizada e disponível on-line. Também foram inaugurados, desde então, muitos cursos de pós-graduação em artes cênicas pelo Brasil, que já geraram diversas publicações. Por isso, a segunda edição foi bastante enriquecida e reúne informações inéditas”, relata. 

De acordo com a autora, a história de Minas Gerais é influenciada pela educação e pelo poder transformador da arte. “No livro, discuto a arte como elemento de transformação. No século 19, falava-se muito de um ‘teatro civilizador’. Quando chegavam às cidades, os circos e as companhias de teatro marcavam a rotina das pessoas”, revela Regina Horta. 

Fontes

Duartes, Regina. Noites Circenses.

Reprodução

Uma das principais conclusões da pesquisa, segundo Regina Horta Duarte, é de que, nessa época, iniciava-se a construção de representações sobre o mineiro que comporiam no “mito da mineiridade”, que atribui um caráter conservador aos seus habitantes, e persiste até os dias atuais, em diversas esferas. “Os artistas, por sua vez, representavam a contramão de tudo isso, principalmente porque o circo não tinha intenções educativas, mas prezava pela diversão pura, pela experiência de prazer e alegria. Assim, no contexto dos primórdios da invenção da ‘mineiridade’, o circo era elemento dissonante”, observa a historiadora.

Para a pesquisadora, embora o formato do circo tenha-se transformado ao longo das últimas décadas, o interesse por essa arte se mantém e se adapta às tendências da sociedade contemporânea.“O circo se reinventou de muitas maneiras e segue emocionando o público”, analisa.

Muitos aspectos que configuraram o circo antes do século 20, como avalia a autora, seriam completamente inviáveis nos dias atuais. “O espetáculo dialogava com a realidade daquela época. Hoje, por exemplo, os números de animais selvagens no picadeiro são alvo de críticas e proibições, pois ferem os direitos dos animais. A sensibilidade do público muda conforme os parâmetros éticos de cada época”, argumenta a professora.

Espetáculos de grande sofisticação cênica, como o Cirque du Soleil, e a combinação de apresentações circenses com outras performances, como a orquestra, são, no entendimento da historiadora, adaptações que geram mais fascínio entre as novas gerações. 

A forma de transmissão do conhecimento também “mudou completamente, mas não é melhor nem pior”, na avaliação da professora. “Antes, as tradições eram passadas oral e gestualmente, de geração em geração, de modo que as companhias se autoalimentavam. Hoje os artistas se formam predominantemente em escolas especializadas. Mas o caráter fantasioso e lúdico permanece”, conclui Regina Horta Duarte.

Obra: Noites circenses: espetáculos de circo e teatro em Minas Gerais no século XIX
Autora: Regina Horta Duarte
Editora: Fino Traço
Nº de páginas: 248
Preço: R$ 35, no site da editora (oferta de lançamento por tempo limitado: www.finotracoeditora.com.br), e R$ 50, nas livrarias

Matheus Espíndola