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Parkinson amenizado

Pesquisa da Faculdade de Medicina mostra que sintomas da doença podem ser minimizados com estimulação de região cerebral

Magno: manipulação de áreas superficiais já é suficiente para provocar avanços
Alexandre Magno: manipulação de áreas superficiais já é suficiente para provocar avanços Carol Moreno | Faculdade de Medicina

A estimulação de um subgrupo de neurônios localizados na superfície do cérebro, na região do córtex motor secundário, ameniza sintomas da Doença de Parkinson. A descoberta feita por pesquisadores da Faculdade de Medicina representa um importante passo para o tratamento mais eficaz da doença, podendo resultar em melhorias na função motora e cognitiva.

O estudo foi publicado em fevereiro no Journal of ­Neuroscience, periódico da Sociedade Americana de Neurociência. Os testes foram feitos em camundongos com a doença, que tiveram áreas específicas do cérebro estimuladas pela técnica Optogenética. “Com ela, é possível modular apenas as células que estão ‘doentes’, por meio do uso de luz e de procedimentos de engenharia genética”, afirma o biomédico, neurocientista e residente de pós-doutorado Luiz Alexandre Viana Magno, do Programa de Pós-graduação em Medicina Molecular da Faculdade de Medicina.

Segundo o pesquisador, atualmente existem duas formas principais de tratar a Doença de Parkinson: medicamentos ou procedimento cirúrgico. A primeira modalidade deixa de fazer efeito após alguns anos de uso. Assim, a alternativa para alguns pacientes que não melhoram com o medicamento é a realização de um procedimento cirúrgico que emprega a estimulação elétrica para corrigir as áreas cerebrais com atividade alterada.

No entanto, o procedimento cirúrgico é de alto risco, pois impõe a necessidade de implantar eletrodos em áreas profundas do cérebro afetadas pela doença. Além disso, o emprego de corrente elétrica não consegue direcionar os estímulos para células específicas, que afetam todas as células próximas ao implante, mesmo as saudáveis.

Por isso, o objetivo da pesquisa foi investigar o potencial terapêutico da estimulação em regiões superficiais do cérebro, desde que elas se conectassem com as áreas profundas disfuncionais. “Descobrimos que a manipulação da atividade de áreas superficiais é suficiente para provocar a melhora. Essa observação indica que futuramente o procedimento cirúrgico será simplificado e diminuirá os riscos decorrentes da manipulação de áreas profundas do cérebro. Além disso, nossa técnica só afeta o tipo de neurônio envolvido na doença”, completa Alexandre Magno.

Procedimentos

A técnica de estimulação cerebral batizada de optogenética foi descrita recentemente por cientistas da Universidade de Stanford (EUA) e usada pela primeira vez para fins terapêuticos, na América Latina, no Laboratório de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina.

Para ativar os neurônios, foi realizado um procedimento cirúrgico nos camundongos, que se constitui de uma injeção cerebral de um DNA que codifica a produção de opsinas. Essas proteínas, quando estimuladas com luz, ativam os neurônios. Três semanas depois, outro procedimento foi realizado para a implantação de uma fibra ótica, que possibilita a liberação precisa de luz na região cerebral indicada. Os padrões da fotoestimulação são controlados por computador, o que propicia, em tempo real, a possibilidade de eventuais reajustes.

“Observamos que o efeito terapêutico da optogenética é instantâneo. Na primeira sessão, os animais recuperavam ou pelo menos melhoravam a sua atividade motora. Chegamos até mesmo a observar que o procedimento também proporcionou diminuição do déficit de memória, algo que nenhum outro procedimento dessa natureza foi capaz de conseguir”, avalia o pesquisador.

Transporte sem vírus

De acordo com Alexandre Magno, o desafio agora é encontrar formas de transportar o DNA para o cérebro sem a utilização de vírus, uma vez que esses organismos podem sofrer mutações e causar doenças. “Esperamos que, nos próximos cinco anos, surjam alternativas para essa limitação, para que o processo chegue com segurança aos pacientes com Parkinson”, antevê.

Magno ressalta que a pesquisa é um ponto de partida para outros estudos. “Pode ser que a gente consiga encontrar outras áreas cerebrais, também localizadas na superfície do cérebro, que, quando estimuladas, proporcionem benefícios terapêuticos ainda maiores do que aqueles que nós observamos até o momento”, antecipa o pesquisador.

[Matéria publicada no Portal UFMG em 22/2/2019].

Karla Scarmigliat / Jornalista da Faculdade de Medicina