De mãos dadas

Em defesa da democracia

Semana de Saúde Mental, que começa nesta segunda, propõe reflexões sobre conquistas como o SUS e a Reforma Psiquiátrica

De mãos dadas pela democracia é o tema da Semana de Saúde Mental e Inclusão da UFMG, que tem início nesta segunda-feira, 13, e prossegue até a próxima sexta-feira, 17 de maio, véspera do Dia Nacional de Luta Antimanicomial. Palestras, oficinas, rodas de conversa, apresentação de pôsteres e atividades culturais serão realizadas nos campi de Belo Horizonte e Montes Claros e em Brumadinho.

“A proposta da Semana orienta-se pelas políticas históricas, nos níveis municipal, estadual e federal, em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial, que reúnem valores que se associam aos da própria Universidade, como gratuidade, qualidade, inclusão e reconhecimento da diversidade”, observa a pró-reitora de Extensão e coordenadora da Rede Saúde Mental da UFMG, professora Claudia Mayorga.

“Neste momento de ataque à universidade pública, ao SUS e à política de saúde mental, com discursos e posições que defendem o retorno de manicômios e tratamentos com eletrochoque, a universidade pública vincula-se ao movimento de defesa de valores como inclusão, diversidade e construção coletiva de uma sociedade melhor, mais justa e igualitária, que não isole quem tem algum tipo de sofrimento mental”, acrescenta a professora.

A realização da Semana, na avaliação da pró-reitora, é o momento para a Rede de Saúde Mental, que também tem a função de formação continuada, refletir sobre os desafios e as propostas elaboradas, durante o ano, pelos diversos atores que a integram, oriundos de múltiplas áreas do conhecimento: coletivos, representantes de servidores técnico-administrativos, docentes, alunos, além do Conselho Regional de Psicologia e de usuários da rede pública de saúde mental e seus familiares.

“Nesses sete anos de construção da política de saúde mental na UFMG, podemos dizer que a comunidade acadêmica abraçou o tema. Entendemos que há muito por construir e fortalecer, mas tivemos importantes conquistas, como a instituição da Comissão Permanente de Saúde Mental, os 12 espaços acadêmicos de escuta e acolhimento e outros que estão se constituindo, além de iniciativas desenvolvidas pelos estudantes”, avalia Claudia Mayorga.

Um fator destacado pela professora do Departamento de Psicologia é a ampliação da própria ideia de saúde mental na Universidade. “Muitas vezes abordamos saúde mental na perspectiva do diagnóstico médico, de doença e tratamento, de crise e isolamento. Mas temos conseguido desconstruir essa ideia por meio deste grande movimento, que é coletivo, e ampliar a percepção de que saúde mental tem a ver com o fortalecimento de uma universidade acolhedora, solidária, atenta à diversidade e a práticas de convivência saudável e colaborativa”, acrescenta.

Para a professora do Departamento de Enfermagem Aplicada Teresa Kurimoto, que integra a Comissão Permanente de Saúde Mental, falar de saúde mental é falar de democracia. Na sua avaliação, “as políticas públicas que afetam o cotidiano das pessoas e impactam diretamente a condição de cidadania e a capacidade de aquisição de bens básicos trazem mais preocupação e, consequentemente, mais ansiedade, distúrbios do sono, distúrbios alimentares, desencadeando sofrimento intenso e adoecimento."

A expectativa em relação à Semana de Saúde Mental, segundo Kurimoto, é de que ela possibilite à Comissão, instalada em outubro do ano passado, um momento “de diagnóstico de nossas fragilidades e de escuta das oportunidades para a construção, de forma plural, de soluções para os nossos problemas". 

Intervenção artística de estudantes em muro da Face na última edição da Semana
Intervenção artística de estudantes em muro da Face na última edição da Semana Júlia Duarte | UFMG

Programação 

Entre os destaques da programação, a professora Teresa Kurimoto cita o Conversatório, que ocorre na quinta-feira, dia 16, a partir das 17h30, no auditório da Reitoria, campus Pampulha. “Diante dos retrocessos anunciados para a saúde pública e as universidades, é imperioso reunir várias vozes para discutir as relações institucionais nesse tempo em que é preciso permanecer de mãos dadas pela democracia”, analisa.

Kurimoto também destaca a exposição Experimentações sensíveis sobre a loucura do cotidiano, no saguão do CAD 1, que abrigará trabalhos fotográficos dos alunos da disciplina de Formação Livre Diálogos Universitários em Saúde Mental. Ela menciona ainda as oficinas de confecção de fantasia para o desfile da Luta Antimanicomial (dias 14 e 15, às 18h) e a Feira Agroecológica, que reunirá, no dia 16, agricultores familiares e usuários da Associação do Trabalho e Produção Solidária (Suricato), na Praça de Serviços. Em Montes Claros, um dos pontos altos da programação é a roda de conversa Mente e corpo: a busca do equilíbrio.

Em Brumadinho

A Semana também motivou a parceria dos programas Participa UFMG e Polos de Cidadania com a Secretaria de Saúde de Brumadinho, para realização do curso De mãos dadas com o cuidado: cuidando do cuidador. Na quinta-feira, 16, às 10h, será realizada reunião com equipes técnicas do município para organizar cronograma do curso, que será oferecido aos profissionais que dão assistência aos atingidos pelo rompimento da barragem da Vale. 

Teresa Sanches