Contexto e resultado
Relação entre a eficácia dos processos escolares e desempenho estudantil é tema de dissertação premiada desenvolvida no Cedeplar
Escolas que oferecem oportunidades de formação continuada aos professores e programas de reforço escolar aos estudantes de pior desempenho são aquelas em que o aprendizado é mais satisfatório. O desempenho estudantil, de maneira geral, também é favorecido quando há participação da família na vida escolar – esse envolvimento é capaz, inclusive, de compensar possíveis desvantagens que tiveram origem no baixo nível socioeconômico ou na pouca escolaridade dos pais.
Essas são algumas das conclusões da dissertação O processo importa: relações entre processos escolares eficazes e o desempenho de alunos de escolas públicas em Minas Gerais, de autoria da economista Ana Luíza Farage Silva. Defendido há dois anos, no Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da Faculdade de Ciências Econômicas (Face), o trabalho foi recentemente contemplado com R$ 10 mil pelo primeiro lugar conquistado na categoria Dissertação de mestrado do Prêmio BNB de Economia Regional, promovido pelo Banco do Nordeste.
Com base na literatura sobre eficácia escolar, a dissertação investiga e compara o contexto e as tipologias de processos escolares aos quais os alunos de diferentes coortes de Minas Gerais estiveram expostos em 2007 e 2015.
“A origem socioeconômica é um dos principais determinantes do desempenho escolar, mas é possível que a escola atue para diminuir as desigualdades, gerando oportunidades e estabelecendo ações específicas para o aprendizado dos alunos de pior desempenho”, comenta Ana Luíza, sobre algumas das questões que nortearam sua pesquisa.
Com base na literatura sobre eficácia escolar, a dissertação investiga e compara o contexto e as tipologias de processos escolares aos quais os alunos de diferentes coortes de Minas Gerais estiveram expostos em 2007 e 2015. “Busquei discriminar quais processos têm mais potencial para contrabalancear a influência negativa das variáveis socioeconômicas”, explica a autora, que se ancorou em dados de 2007 e de 2015 da Prova Brasil [avaliação censitária das escolas públicas das redes municipais, estaduais e federal, cujo objetivo é medir a qualidade do ensino].
O papel da família
Ana Luíza identificou o envolvimento da família na vida escolar e a promoção de oportunidades de desenvolvimento do professor entre os processos mais benéficos para os alunos. “O enfoque intenso no aprendizado é representado pela consistência do dever de casa. Isso inclui a frequência da realização da tarefa pelo estudante e da correção da atividade pelo professor”, acrescenta.
Quanto ao contexto das escolas públicas mineiras, a pesquisadora apurou que, apesar da existência de problemas relativos à falta de professores, depredação e violência, as instituições têm aumentado as oportunidades de capacitação dos docentes e apostado em programas de monitoramento, a fim de reforçar a aprendizagem e reduzir a reprovação, movimento que foi acompanhado pelo aumento da expectativa dos docentes em relação à probabilidade de conclusão do ensino médio pelos estudantes.
É preciso encontrar soluções baseadas no reforço escolar, em vez da reprovação, para lidar com a defasagem de aprendizado.
“Alunos que repetem o ano têm evolução menor em comparação com estudantes que passam, mesmo com nota insuficiente”, informa a pesquisadora, fundamentada na literatura sobre o tema. Segundo Ana Luíza, é preciso encontrar soluções baseadas no reforço escolar, em vez da reprovação, para lidar com a defasagem de aprendizado. “A penalização com mais um ano de exposição às mesmas condições de ensino não garante melhoria no desempenho”, completa.
A economista enfatiza que, depois de identificadas as boas práticas, é preciso encontrar maneiras eficazes de incorporá-las ao cotidiano das escolas e configurar uma rede de compartilhamento de experiências, o que favorece um ciclo virtuoso de melhoria das políticas em educação. “É fundamental promover mudanças estruturais nas escolas, a fim de que as desigualdades percam força determinística. A qualidade da educação pode ser melhorada por meio do aprimoramento dos processos e interações cotidianas, e não apenas investindo na alocação de recursos físicos”, afirma. No seu entendimento, a premissa de que filhos de famílias mais ricas e escolarizadas têm desempenho superior também reforça a necessidade de políticas que reduzam a pobreza e a desigualdade.
Os resultados do estudo, segundo Ana Luíza, podem fomentar outras reflexões sobre os processos escolares relacionados ao ensino integral e inspirar a expansão da investigação. “A interpretação das mudanças ocorridas ao longo do tempo, à luz das políticas educacionais adotadas, ajuda a identificar projetos esgotados e vislumbrar iniciativas promissoras”, observa.