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O momento vivo no set

Livro de professor da EBA investiga a realização cinematográfica por meio do encontro entre ator e câmera

Da preparação à tela, o principal momento de feitura de um filme ocorre no set. No encontro entre o olhar do realizador, o ator e a câmera é que o filme se estabelece como gesto de investigação criativa e transformadora, emergindo entre a imaterialidade da ideia e a objetividade dos métodos de encenação. Esse é o argumento central do livro O ator e a câmera: investigações sobre o encontro no jogo do filme, resultado da junção da extensa bagagem do cineasta Rafael Conde como realizador de filmes – documentais e de ficção – com sua experiência de professor da Escola de Belas Artes. Recém-lançada, a obra foi originalmente apresentada como tese de doutorado na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), em 2013. 

Conde: olhar diferenciado do artista
Conde: olhar diferenciado do artista Raphaella Dias | UFMG

Segundo Conde, não se trata de um manual de preparação de ator para o cinema, mas uma oportunidade de chamar a atenção dos que se interessam pela realização de filmes para as questões intrínsecas ao trabalho de atuação e, de modo inverso, destacar as questões envolvidas na realização para o ator que disponibiliza seu trabalho para o filme. O professor conta que, além de manter um grupo de pesquisa sobre o tema, ministra, desde 2014, uma disciplina eletiva para estudantes de graduação do Teatro e do Cinema, intitulada Ator e jogo de câmera, em que são feitos exercícios de produção de quatro tipos de trabalhos: um filme paisagem, um filme de decupagem clássica, um filme em fluxo e um exercício livre, em que os alunos podem realizar experimentos cinematográficos. Tanto no livro quanto na disciplina, sua preocupação é traçar uma visão das duas instâncias: “Há uma tentativa de mostrar o olhar diferenciado do artista, ou seja, como isso se coloca sobre o ator e sobre a cena, levando em consideração o trabalho de câmera”, destaca. 

No livro, Rafael Conde investiga o fazer cinematográfico operado pelos modos particulares que cada encenador seleciona e monta cenas e lida com a repetição e o acúmulo delas. Conceitos como presença, rastro e espaço também são abordados para tratar das aproximações e tensionamentos entre a encenação fílmica e teatral, de modo a testar a presença do ator – ou sua ausência – como elo principal das duas práticas.

Filmografia

Como diretor, Conde iniciou sua carreira nos anos de 1980, realizando filmes de curta-metragem em câmera Super-8. Seu trabalho de estreia é o documental Uakti – oficina instrumental, de 1987, sobre a história do célebre grupo musical mineiro. Dois anos depois, ele dirigiu Musika, um pequeno experimento sobre a relação entre cinema, som e cidade, que tinha, no elenco, os atores Bete Coelho e Antônio Abujamra. Além de quatro outros curtas-metragens, a filmografia de Rafael Conde reúne os longas Samba-canção (2002) e Fronteira (2007), este último uma adaptação do livro A menina morta, do romancista fluminense Cornélio Penna. Dirigiu documentários e programas jornalísticos para a Rede Minas de Televisão e coordenou o Cine Humberto Mauro e o Setor de Cinema da Fundação Clóvis Salgado.

Alexandre Cioletti e Débora Gomez, em 'Fronteira', filme dirigido por Rafael Conde
Alexandre Cioletti e Débora Gomez, em 'Fronteira', filme dirigido por Rafael Conde Bianca Aun

Livro: O ator e a câmera: investigações sobre o encontro no jogo do filme
Autor: Rafael Conde
Edição: Editora UFMG
274 páginas (nosite da Editora UFMG, o livro está sendo vendido a R$ 51,30)

Renata Valentim