BH: uma narrativa espacial

Pelo direito de matar a fome

Livro organizado por professora da UFMG propõe diretrizes legislativas no campo do direito agroalimentar

Livro destaca busca pela igualdade no consumo de alimentos
Comércio de alimentos: livro aborda as raízes internacionais do direito à alimentação e sua aplicação no BrasilRovena Rosa / Agência Brasil

A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que uma em cada nove pessoas passam fome no mundo – entre os 821 milhões que se encontram nessa situação, cinco milhões moram no Brasil. Apesar de já existir um conjunto de políticas relacionadas à segurança alimentar, os cursos de Direito não contemplam o chamado Direito Agroalimentar nos seus currículos. O recém-publicado livro Elaboração legislativa em direito agroalimentarorganizado pela professora Fabiana de Menezes Soares, da Faculdade de Direito da UFMG, representa um importante passo para preencher essa lacuna.

A coletânea começou a ser organizada como parte das atividades de Fabiana de Menezes na residência de pesquisa que desenvolveu, em 2017 e 2018, no Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (IEAT), por meio de um projeto na área de agroalimentação. “O período no IEAT foi fundamental para que pudesse me aprofundar no assunto, de forma transversal. A intenção era investigar essa normatividade e compreender os aspectos transdisciplinares de um contexto mais amplo que se refere à alimentação”, explica a professora.

Apesar de sua dimensão internacional, o direito agroalimentar ainda é pouco presente nos currículos das escolas de direito e afins.

Os temas dos capítulos abordam questões que tocam a realidade do Brasil, como o histórico da legislação em matéria de agropecuária no período colonial e imperial, os desafios no processo de harmonização de padrões, o direito à alimentação, os desafios à regulamentação e a agricultura familiar. Três dimensões – saúde animal, sanidade vegetal e segurança alimentar – são trabalhadas. “Logo no primeiro capítulo, mostramos como era diferente o acesso à comida séculos atrás. A busca pela igualdade não era nem cogitada”, relata Fabiana.

Apesar de sua dimensão internacional, o direito agroalimentar ainda é pouco presente nos currículos das escolas de direito e afins. “O objetivo da obra é difundir a importância de uma elaboração legislativa em conformidade com a Constituição e que respeite o direito à alimentação. É preciso dar transparência aos processos que nos levam a compreender o que de fato comemos e por que comemos determinados produtos. A alimentação vai muito além do mero ato nutricional e possui dimensões políticas, sociais e econômicas que ultrapassam as fronteiras nacionais”, analisa a organizadora.

Segundo ela, o Direito tem a incumbência de sistematizar e promover a maximização da garantia à alimentação. “Os produtos  dependem de uma logística, existe toda uma tutela no que diz respeito à qualidade. As pessoas precisam ter direito a um alimento que seja saudável, econômico e que chegue ao destino pronto para cumprir a sua função nutricional”, defende a professora.

Codex Alimentarius

Conceito trabalhado no livro, o Codex Alimentarius é um conjunto de normativas elaboradas pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) que impacta as legislações da esfera federal. “É com base no Codex que se concretiza o direito fundamental à alimentação por meio da integração de um sistema comercial de conjuntos agrícolas. Buscamos mostrar a origem internacional desse direito e como ele é concretizado no Brasil”, esclarece Fabiana.

Além do Codex, outro conceito apresentado na obra é o de “legística”, domínio do conhecimento que trabalha com a qualidade da regulação. “Na metodologia da legística, precisamos entender o cenário completo para pensar a legislação. Foi feito um trabalho de compreensão do panorama nacional, como as normas são feitas e quais as linhas de persuasão, ou seja, aquilo que provoca mudanças de natureza legislativa”, explica a professora.


Trajetória

Fabiana de Menezes é professora do Departamento de Direito do Trabalho e Introdução ao Estudo de Direito. É graduada, mestra e doutora em Direito pela UFMG. Fez doutorado-sanduíche na Universidade de Gênova e dedica-se aos seguintes temas: direito administrativo, teoria da legislação e acesso à informação. Na UFMG, coordena, desde 2006, o Observatório para Qualidade da Lei, projeto de pesquisa vinculado ao Programa de Pós-graduação em Direito.

Fabiana Menezes também é autora de Ciência, tecnologia e inovação: políticas & leis e Marco regulatório em ciência, tecnologia e inovação. Na UFMG, ela ministra a disciplina Direito Agroalimentar, ofertada como optativa na graduação desde 2016.

Obra: Elaboração legislativa em direito agroalimentar
Organização: Fabiana de Menezes Soares
Autores: Clarissa Tatiana de Assunção Borges, Louise Menegaz de Barros Motta, Fernanda Santana de Souza, Cristiane Silva Kaitel, Caroline Stéphanie Francis dos Santos Maciel, Ana Clara Abrantes Simões, Matheus Vinícius Lage Sales, Pietra Vaz Diógenes da Silva,Oto Valmerson Barbosa Nunes e Fabiana de Menezes Soares
Editora Tribo da Ilha
Páginas: 189

Samuel Resende