Quadrilátero dos anfíbios
Plataforma on-line desenvolvida pela UFMG e UFV ajuda a mapear a diversidade desses animais com ferramentas interativas
Conhecido por suas imensas jazidas de minério de ferro, o Quadrilátero Ferrífero (QF) em Minas Gerais também se destaca por outra riqueza natural: a região reúne mais de 90 espécies de anfíbios, incluindo seis endêmicas (restritas ao local) e outras duas classificadas como ameaçadas – o QF concentra quase 10% das espécies de anfíbios do Brasil, apesar de ocupar menos de 0,1% do território nacional.
Para mapear essa biodiversidade, pesquisadores da UFMG e da Universidade Federal de Viçosa (UFV) desenvolveram uma ferramenta on-line que pode ampliar o alcance dos estudos de taxonomia de anfíbios. Trata-se do projeto Anfíbios do Quadrilátero Ferrífero (AQF), resultado de 10 anos de trabalho do Laboratório de Herpetologia da UFMG e que hoje também envolve o Sagarana Lab, da UFV.
Financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) e pela Vale, Anfíbios do Quadrilátero Ferrífero é uma ferramenta que pode ajudar a melhorar os estudos destinados à concessão de licenças ambientais. “No Quadrilátero Ferrífero, há uma demanda muito grande por estudos de empreendimentos de mineração e imobiliários”, afirma o pesquisador associado do Laboratório de Herpetologia Tiago Pezzuti.
O projeto foi lançado em setembro em workshops para biólogos, graduandos de áreas diversas, profissionais de consultoria ambiental e técnicos da Vale. O site, interativo, reúne fotografias dos animais em seus ambientes de ocorrência natural e dos espécimes em coleção – os anfíbios fazem parte da Coleção Herpetológica da UFMG –, além de uma galeria de áudios que possibilitam identificar os anfíbios pela sua vocalização. A plataforma também fornece uma ferramenta de chaves de identificação interativas, uma para adultos e outra para girinos, o que favorece a identificação de espécies por meio de suas características morfológicas e de coloração.
O professor Felipe Leite, da UFV, acredita que a ferramenta pode se transformar em referência para estudos de taxonomia de outros animais. A abordagem, em especial com as chaves de identificação e a lista pública e atualizável de espécies, pode ser replicada com sucesso para quaisquer outros grupos.
Mais perto
Para o professor Paulo Garcia, do ICB, o projeto encurta a distância entre a taxonomia, uma ciência básica, e possíveis aplicações. “Temos um aparato tecnológico, que é o site, sustentado por parâmetros de trabalhos básicos, como a própria coleção, que é a principal referência do projeto”, diz Garcia.
Garcia considera o projeto uma forma de divulgação científica. “Chaves, vídeos, sites e outras formas de falar com o público são muito importantes. A gente está aprendendo a divulgar melhor os resultados de uma pesquisa básica, já que o site, um instrumento aplicado, exige isso”, afirma. Ele acredita que o AQF pode ser um bom suporte para aulas de biologia e educação ambiental.
Na visão de Tiago Pezzuti, as chaves de girinos são o diferencial da ferramenta, já que a fase larval dos anfíbios carecia de dados taxonômicos disponibilizados. “Antes dessa ferramenta, poucas pessoas no país conseguiam identificar os girinos; agora, esse conhecimento está aberto a um público bem mais amplo”, complementa Felipe Leite.
Pezzuti destaca, ainda, que o AQF auxilia na padronização dos estudos e na classificação de anfíbios. Colaborativa, a plataforma possibilita que novas espécies sejam adicionadas diretamente à base de dados, tornando-se acessíveis a todos. “Padronizar a identificação de espécies animais é importante para melhorar a qualidade dos estudos ambientais feitos da região, sejam acadêmicos ou de consultoria. Mais do que isso, identificar e catalogar espécies é um grande passo para conhecer e proteger a biodiversidade da região”, avalia o pesquisador.