O mundo ouve menos

Entre o humano e o virtual

Em cartaz no Centro Cultural UFMG, mostra 'Recodificações', de Pedro Veneroso, realça sistemas complexos e algoritmos

Obra Tempo: cor, que integra a mostra Recodificações
Obra 'Tempo: cor', que integra a mostra Recodificações Sara Não Tem Nome


A tecnologia tem ampliado consideravelmente a sua influência no cotidiano. Atualmente, os mecanismos que operam nas redes sociais e nos aplicativos vêm sendo utilizados também na arte concreta e conceitual contemporâneas. O artista Pedro Veneroso também bebe nessa fonte, como comprova a mostra Recodificações, focada nas novas formas de interação entre arte e tecnologia. A exposição pode ser visitada na Grande Galeria do Centro Cultural UFMG.

Em 'Recodificações', Veneroso expõe instalações e poemas concretos que evidenciam a relação entre homem e máquina no presente. 

“Permanentemente, a arte está atrelada à ciência e à tecnologia. Já na pré-história, as pinturas rupestres materializavam técnicas inventadas pela humanidade de então. Da Vinci se envolvia no campo da engenharia e da matemática. E agora a tendência é que computadores e aparelhos eletrônicos passem a permear processos artísticos de maneira contínua”, diz o artista, que baseia sua exposição nos mecanismos utilizados por redes e algoritmos.

Em Recodificações, Veneroso expõe instalações e poemas concretos que evidenciam a relação entre homem e máquina no presente. Ele não economiza no uso de vídeos, fotografias e da chamada net art, projeto desenvolvido para visualização e interação na web.

Formada por 15 obras distribuídas em cinco salas, a exposição apresenta duas peças inéditas do artista: a série fotográfica Contagem binária, que se propõe a estabelecer a contagem de 0 a 31 nos dedos de uma mão, e a instalação Estado das coisas, de caráter experimental. “Trata-se de um protótipo que visa explorar a relação provocada entre o mundo e as interfaces nos sistemas complexos de programação implicados nas redes sociais”, conta Veneroso. A obra não foi finalizada, fato que embute uma intenção política do artista. “O objetivo é fazer que, em breve, a obra incorpore publicações em redes sociais com críticas, por exemplo, à política, à corrupção e ao desmatamento. Com base nesses comentários, colheremos respostas do software, tudo isso em rotação, como uma bússola descompassada”, detalha. 


Inspirações

Mais imersiva, a instalação Tempo: cor reconfigura a relação do sujeito com o passar das horas. As cores projetadas representam a passagem do tempo por meio de um conjunto de relógios em uma das salas.

Graduado em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes e mestre em Estudos Literários pela Faculdade de Letras, Veneroso atribui à sua formação na UFMG grande parte das suas inspirações que associam o humano, o tempo e os códigos. “Muito desse trabalho foi impulsionado pelo mestrado na Faculdade de Letras. A partir dele, vislumbrei obras que exploram os sistemas complexos e o histórico das relações entre o humano e o virtual.” 

Daí também pode ter vindo a inspiração para a obra Gogoame, nome que em japonês significa chuva à tarde. Por meio de uma projeção, um texto abstrato elabora novas combinações de letras que podem formar palavras ou frases. Seja na forma de letras, fotografias ou softwares, Recodificações vale-se de códigos e sistemas para explicitar as relações do ser humano contemporâneo e, sobretudo, para interpretá-las. 

Exposição: Recodificações
Artista: Pedro Veneroso
Local: Grande Galeria do Centro Cultural UFMG (Avenida Santos Dumont, 174, Centro – Belo Horizonte)
Até 12 de janeiro de 2020
Visitação de terça a sexta, das 10h às 21h, e aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h

Daniel Silveira