Atual e interdisciplinar

Sublime!

Coletânea reúne ensaios sobre conceitos fundamentais para a compreensão das implicações estéticas da contemporaneidade

Correntes no vocabulário cotidiano, as palavras “trágico”, “sublime” e “melancolia” remetem a conceitos forjados pelo idealismo alemão no fim do século 18, uma das mais influentes correntes filosóficas da história do pensamento ocidental. Aquele era o tempo em que se iniciava a discussão da Estética como disciplina, o que estabeleceria as bases para as aplicações das reflexões dessa área em outros campos, que não apenas o artístico – o campo político, por exemplo.

Com foco na pertinência da mobilização desses conceitos para as reflexões filosóficas contemporâneas – e, transdisciplinarmente, para reflexões nos demais campos das ciências humanas e sociais aplicadas –, professores da UFMG e de outras universidades organizaram a coletânea O trágico, o sublime e a melancolia, série de ensaios de dezenas de pesquisadores sobre os temas, reunidos em dois volumes.

A coletânea foi organizada por Debora Pazetto, professora do Cefet-MG, Rachel Costa, docente da Uemg que recentemente atuou como substituta na Escola de Belas-Artes da UFMG, e Verlaine Freitas, da Fafich. Os três são doutores em estética e filosofia da arte pela própria UFMG. E o livro é um desdobramento do 12º Congresso Internacional de Estética, realizado na Universidade no fim de 2015. Além das reflexões dedicadas aos três conceitos, os temas aparecem relacionados no segundo volume, por meio de discussões de teoria crítica.

Cinco professores da UFMG contribuem com artigos para a coletânea. Virgínia Figueiredo, da Faculdade de Letras, discute, no primeiro volume, A origem do trágico, segundo Schiller. “A autora não somente defende a vigência ou a atualidade estética do conceito de trágico, mas também explora a fecunda contribuição desse mesmo conceito aos pensamentos sobre a vida, sobre a existência e até mesmo sobre a história”, afirmam os organizadores no prefácio.

Rodrigo Duarte, do Departamento de Filosofia, faz uma abordagem politizada do conceito em Tragédia da cultura ao quadrado. O professor propõe um diálogo entre o filósofo tcheco-brasileiro Vilém Flusser e o sociólogo alemão Georg Simmel – na medida da sua noção de cultura como processo dialético – para pensar, com eles, a colonização cultural dos intelectuais brasileiros. Suas reflexões passam pela ideia de que, para além dos espectros político e econômico, a alienação do brasileiro também é cultural, dado o passado de colonização. “A visão de cultura que impera no Brasil é a de origem europeia, tradicionalmente corroborada não apenas pelos extratos econômica e politicamente dominantes, mas também pelas elites cultural e acadêmica”, destaca Rodrigo.

Radicalização do ‘novo’

Em O novo, o absurdo e o sublime, Verlaine Freitas mostra como a arte moderna radicalizou a ideia de “novo”, em contraponto à de tradição. “As grandes obras contemporâneas foram aquelas que arriscaram uma crítica tão radical que se expuseram programaticamente a flertar com o absurdo, com a ausência de sentido, com a incompreensibilidade total. Nesse momento, a suprema elevação artística pretendida pela modernidade se assemelha ao sublime, marcado precisamente por uma determinação negativa do absoluto, o qual pode redundar naquilo que nem mesmo chega a ser artisticamente relevante”, registram os organizadores.

Rachel Costa assina o ensaio A sublime imaterialidade da arte contemporânea. Nele, a professora discute o conceito de representação na arte contemporânea, com base no trabalho que o filósofo francês Jean-François Lyotard realiza com o conceito de sublime. Aqui, a discussão passa pela insubordinação da arte contemporânea à ideia de representação, que a leva ao trânsito entre as perspectivas de arte e não-arte, provocando, em última instância, a experiência do sublime.

Por fim, Fábio Roberto Rodrigues Belo, do Departamento de Psicologia, assina – junto com Michelle Aguilar Dias Santos e Alice Portugal Ferreira – o ensaio A sublimação da carne: análise da série ‘Charques’, de Adriana Varejão. O trio examina as hipóteses do psicanalista francês Jean Laplanche sobre a sublimação, tendo como objeto a série produzida pela artista carioca.

Reprodução: O trágico, o sublime e a melancolia - Debora Pazetto, Rachel Costa e Verlaine Freitas
Reprodução: O trágico, o sublime e a melancolia - Debora Pazetto, Rachel Costa e Verlaine Freitas
Reprodução: O trágico, o sublime e a melancolia - Debora Pazetto, Rachel Costa e Verlaine Freitas Reprodução

Livro: O trágico, o sublime e a melancolia (dois volumes)
Organizadores: Debora Pazetto, Rachel Costa e Verlaine Freitas
Relicário Edições
300 e 288 páginas / R$ 40 (cada) ou R$ 68 (os dois)

Ewerton Martins Ribeiro