Cerveja sem fraude, cachaça sem impureza

Cardápio mais responsável e saudável

Restaurantes universitários passam a servir refeições com hortifrutigranjeiros adquiridos de produtores familiares

Salada de acelga (em primeiro plano), um dos itens fornecidos por agricultores locais
Salada de acelga (em primeiro plano), um dos itens fornecidos por agricultores locais Foca Lisboa/ UFMG


Desde o último dia 17, a agricultura familiar, -responsável por cerca de 70% dos alimentos que compõem a mesa do brasileiro, fornece à UFMG produtos consumidos nos restaurantes universitários do campus Pampulha. Em Montes Claros, as hortaliças cultivadas por pequenos agricultores compõem o cardápio do bandejão do Instituto de Ciências Agrárias (ICA) há cerca de dois meses.

“Ao oferecer essa oportunidade ao pequeno produtor, colaboramos para que ele se fixe na terra”

Trata-se de iniciativa de responsabilidade social da Fundação Universitária Mendes Pimentel (Fump), encarregada de executar as políticas de assistência estudantil da UFMG. De acordo com o gerente dos setoriais I e II de Belo Horizonte, Marco Antônio Schaefer, a valorização da agricultura familiar e o incentivo aos produtores locais são os motivos que justificam a iniciativa: “Ao oferecer essa oportunidade ao pequeno produtor, que é prejudicado pela concorrência, colaboramos para que ele se fixe na terra”.

As verduras, legumes e frutas cultivados por produtores locais se destacam por sua qualidade. “Produtos sensíveis ao clima que viajam grandes distâncias até chegar aos sacolões tendem a ser mais perecíveis. Com as hortaliças fornecidas por produtores locais, isso não acontece: no mesmo dia em que a fornecedora colhe, ela entrega. O produto é muito fresco, dura muito mais. Quase não há perdas”, garante Talita Borborema, nutricionista do Restaurante Universitário de Montes Claros.  Edilaine Ruas, supervisora do setor de suprimentos da Fump em BH, atesta: “A qualidade é incomparável”.

O programa de alimentação da UFMG tem capacidade para fornecer, nos cinco restaurantes universitários, 12.350 refeições por dia – almoço, jantar e café da manhã. Nos setoriais I e II, são 8.250 refeições diárias; no campus regional de Montes Claros, 1.400. No almoço, são oferecidas três opções proteicas, guarnição, três acompanhamentos, um trio de saladas, molho e refresco; na sobremesa, doce ou fruta.

Prática alinhada ao ensino

No campus regional de Montes Claros, onde funciona o Instituto de Ciências Agrárias (ICA), oferecer oportunidade aos agricultores da região já era uma demanda de alunos e professores. “Ao comprar da agricultura familiar, a Universidade se alinha não só às políticas públicas, mas também aos estudos que nós mesmos desenvolvemos. Valorizar a produção regional é importante tanto pelo aspecto nutricional quanto para fortalecer uma identidade e uma ideia de pertencimento cultural e social”, explica a professora Flávia Maria Galizoni, do ICA, que desenvolve projetos de ensino, pesquisa e extensão relacionados à agricultura familiar. Para a nutricionista Talita Borborema, os produtores locais sentem prazer em fornecer produtos para a Universidade. “Eles têm toda disponibilidade. É um sentimento de orgulho, de valorização por fornecerem grandes volumes”, conta. 

Cerca de 100 quilogramas de folhosos são entregues semanalmente pela Associação dos Produtores Unidos pela Agricultura Familiar (Asprunaf). Antes da parceria, os folhosos eram adquiridos de sacolões e vinham de diversas regiões, dependendo da oferta e demanda, inclusive de estados distantes como o Rio Grande do Sul. Em relação às frutas e legumes, um dos principais fornecedores é a Cooperativa de Agricultores Familiares de Matheus Leme e região (Comale). Somente na semana do dia 17 de outubro, cerca de 380 quilogramas de alimentos produzidos por agricultores dessa cooperativa chegaram aos setoriais I e II, divididos em três itens: mandioca, banana e acelga.

Parceria técnica 

Os restaurantes setoriais I e II, no campus Pampulha, contam com a parceria da Emater-MG, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais, para adquirir hortifrutigranjeiros de pequenos agricultores. A Emater trabalha com produtores de agricultura familiar, promovendo inclusão social e garantindo segurança alimentar e nutricional.

De acordo com Edilaine Ruas, a Emater é responsável pela mediação da entrega de produtos. A parceira recebe as previsões de consumo de gêneros e faz uma avaliação dos produtores capazes de atender às necessidades dos restaurantes universitários em relação a quantidade, qualidade e prazos de entrega na região metropolitana. 

Tanto em Montes Claros quanto em Belo Horizonte, a expectativa é de que, a partir dessa primeira experiência, os RUs passem a absorver mais produtos oriundos da agricultura familiar. “A proposta é começar com poucos produtos e ampliar o volume de compras à medida que conseguirmos formar um bom grupo de produtores para nos atender em todos os itens de hortifrutigranjeiros consumidos nos RUs”, conta Edilaine. Essa ampliação incluirá os restaurantes do campus Saúde e da Faculdade de Direito.

Beatriz Cordeiro Lopes