Arte e Cultura

'Performers' benzem Palácio da Liberdade e desafiam hegemonia do automóvel

Pedestres se postaram na faixa e ofereceram resistência simbólica aos veículos que trafegavam pela Praça da Liberdade
Pedestres se postaram na faixa e ofereceram resistência simbólica aos veículos que trafegavam pela Praça da Liberdade Ferdinando Marcos / UFMG

Munidos de ramos de manjericão e espada-de-são jorge, plantas que, na visão popular neutralizam energias negativas, os participantes da oficina Quem tem medo da performance rumaram para a entrada do Palácio da Liberdade e benzeram a sede histórica do governo de Minas Gerais.

Crítica explícita ao momento político vivido pelo país, o ato dividiu os curiosos que passavam pelo local na tarde da última quarta-feira, 20. Uns, intrigados, bradavam: “É macumba”. Outros, em apoio, retrucavam: “Tem que benzer mesmo”. As reações extremadas não surpreenderam a artista Christina Fornaciari, doutora em Performance e idealizadora da atividade.

Alunos usaram ramos para neutralizar as energias negativas que emanam do universo da política
Alunos usaram ramos para neutralizar as energias negativas que emanam do universo da política Ferdinando Marcos / UFMG

Em outro momento, Christina reuniu os participantes e propôs uma ação de resistência à supremacia dos veículos. Assim que o sinal verde de um dos semáforos na Praça da Liberdade era acionado para os transeuntes, os participantes da prática levavam cadeiras para a faixa de pedestres e lá permaneciam até que o sinal abrisse para os veículos. Logo na primeira execução do ato, um carro que ocupava a faixa foi cercado por cadeiras para o constrangimento da motorista que tentava justificar a irregularidade.

Para todos
“Conseguimos reunir de crianças a pessoas de terceira idade, além de médicos, professores, mochileiros, enfim, todos que passam e se interessam. Essa é a característica fundamental da aula aberta, na qual é possível alcançar grupos de pessoas com interesses mais amplos”, afirmou a artista.

A professora Augusta Oliveira, que nunca havia mantido contato com a prática da performance, destacou a potência política da atividade: “Chamamos a atenção de todos que passaram perto de nós. É muito bacana ver nosso ato despertando reações no outro”, disse. Perguntada sobre a sensação de se sentar na cadeira na frente dos carros, a professora sorriu e comentou: “Foi fantástico.

Quando chegar em casa vou pensar mais a respeito. Por enquanto, ainda estou em estado de euforia".

Fornaciari assentiu: “Estamos propondo um tipo de arte que, por natureza, gera reflexão, mas o objetivo principal é trazer alegria, que liberta e funciona como motor da ação”.

Christina Fornaciari, à esquerda: alegria como motor da ação
Christina Fornaciari, à esquerda: alegria como motor da ação Ferdinando Marcos / UFMG

Ferdinando Marcos