Iniciativas da UFMG vencem três categorias de prêmio da associação nacional de ciências sociais
Trabalhos de pesquisadores da Fafich abordam a violação de direitos de presidiários, o pensamento internacional brasileiro e a operação Lava Jato
![Imagem: Captura de tela | Youtube Entre os projetos premiados, está o canal de Youtube Eu vi o mundo](https://ufmg.br/thumbor/RgeOj7UhM-CG_Se3NMgkNcYqSzk=/0x0:1750x804/1750x804/https://ufmg.br/storage/0/7/b/f/07bf9e0cfa536424535dbfbee4f182bf_16982463788631_1592638823.png)
Três iniciativas da UFMG foram premiadas na última edição do Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), que está sendo realizado nesta semana na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A UFMG venceu o Prêmio Anpocs Extensão Universitária, com o projeto Cadê os meus direitos?, do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), o Prêmio Anpocs Divulgação Científica em Ciências Sociais, na categoria Docente, com o projeto Eu vi o mundo, e o Prêmio Melhor Obra Científica, com o livro A política no banco dos réus: a operação Lava Jato e a erosão da democracia no Brasil.
Os projetos premiados foram desenvolvidos no âmbito de departamentos da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich).
Conheça as iniciativas premiadas:
Cadê os meus direitos?
O projeto vencedor na categoria Extensão universitária é coordenado pela professora Ludmila Ribeiro, do Departamento de Sociologia da Fafich. Trata-se de uma iniciativa de formação destinada a mulheres cujos companheiros, pais e filhos estão privados de liberdade.
![Raphaella Dias | UFMG Ludmila Ribeiro:](https://ufmg.br/thumbor/iIkEgf85bzmTCbTyvBa4OQZZwbQ=/0x0:2823x1884/712x474/https://ufmg.br/storage/9/c/2/5/9c25de474f0cdd97f3f1063001532db2_16536756996433_727994407.jpg)
"O projeto se materializou em um curso de formação de três meses para que essas mulheres conheçam quais são os direitos dos seus familiares presos. A ideia surgiu de uma demanda delas próprias, que, em outro projeto do Crisp, nos contaram que não conheciam os direitos garantidos por lei a seus familiares presos", explica a professora.
Desde que foi criado em 2022, o curso já formou 360 mulheres de vários estados brasileiros, com financiamento da Organização Mundial de Combate à Tortura (OMCT). As aulas são gravadas e ficam disponíveis no canal do projeto na plataforma YouTube.
"O Cadê os meus direitos? nos possibilita ajudar essas pessoas. Elas tiveram aulas com grandes nomes do direito, e isso dá visibilidade à causa que defendem, relacionada aos direitos dos entes queridos privados de suas liberdades. Existe uma carência de acesso aos direitos. A universidade tem a obrigação de dizer a essas pessoas como elas podem acessar os seus direitos garantidos na lei", conclui Ludmila.
A equipe do Cadê os meus direitos? conta ainda com as pesquisadoras do Crisp Thais Lemos Duarte, Natália Martino, Raquel Quiroga e Maria Eduarda Leão, com a pesquisadora Bárbara Lage, do Instituto de Ciências Penais (ICP), e com Adriana Ribeiro, Maria Teresa Santos e Jennifer Santos, integrantes da Associação de Amigos e Familiares de Pessoas Privadas de Liberdade.
Eu vi o mundo
O melhor projeto de divulgação científica na categoria Docente é um canal hospedado no YouTube criado pelo professor Dawisson Belém Lopes, do Departamento de Ciência Política da Fafich, em parceria com o professor Guilherme Casarões, da Fundação Getúlio Vargas (FG-SP). Eu vi o mundo nasceu da ideia dos professores de levar o conhecimento sobre o pensamento internacional brasileiro para o público não especializado.
![Foto: Foca Lisboa | UFMG Dawisson Lopes:](https://ufmg.br/thumbor/Cm3fZV_kWSzcZHdYq3pk9QWi0nU=/0x0:1862x2852/352x540/https://ufmg.br/storage/8/9/0/7/89079a303a147591fd4df4587556bb82_16679457778393_693538366.jpg)
"O conceito de pensamento internacional brasileiro está relacionado ao tipo de imagem, de ideia e de concepção de mundo que as pessoas têm. Interessava-nos conhecer as ideias de figuras bem posicionadas e influentes da sociedade brasileira em campos como a arte, a cultura e o esporte, para além da política e da diplomacia, no século 21", explica Dawisson.
Para a realização das entrevistas, o professor conta que foi utilizada uma técnica que os historiadores chamam de "prosopografia". Ela possibilita uma abordagem aprofundada do entrevistado e o conhecimento de seu pensamento em certo momento histórico, comparando ideias de pessoas que convivem direta ou indiretamente.
Desde que foi criado em 2021, o canal já entrevistou personalidades como o músico Gilberto Gil e o político Ciro Gomes. Para a escolha dos entrevistados, Dawisson afirma que ele e o professor Casarões consideram a representatividade de pessoas que passaram por diferentes locais do mundo e apresentem distintos perfis socioeconômicos, culturais, raciais e étnicos.
"O prêmio Anpocs significa muito, porque é um reconhecimento da principal sociedade científica de ciências sociais do Brasil. Ele mostra que conseguimos fazer divulgação científica de forma íntegra, chegando a pessoas que não conhecem o método acadêmico e não são especialistas."
![Divulgação / twitter.com/marjoriemarona Os professores Fabio Kerche, da Unirio, e Marjorie Marona da UFMG](https://ufmg.br/thumbor/pBKzkL_7ALpelWifJPXX7_PU4IQ=/0x0:1047x1606/352x540/https://ufmg.br/storage/d/d/f/f/ddffb49b1dd6d9cf6f1cc2c449850b9c_16521287802188_1046853990.jpg)
No banco dos réus
O vencedor do Prêmio Melhor Obra Científica foi o livro A política no banco dos réus: a operação Lava Jato e a erosão da democracia no Brasil, de Marjorie Marona, professora do Departamento de Ciência Política da Fafich, e Fábio Kerche, professor do Departamento de Estudos Políticos da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
Na obra, a dupla analisa, dos pontos de vista institucional, político e midiático, como a atuação da Lava Jato ultrapassou limites constitucionais, fragilizou a democracia e gerou graves consequências econômicas. Para isso, eles destrincham a operação, considerada um dos acontecimentos políticos de maior relevância nos últimos anos no cenário brasileiro, e mostram como as posições se modificaram, principalmente depois que foram descobertas diversas irregularidades nas ações jurídicas.
Em maio do ano passado, a professora Marjorie falou sobre a obra e os desdobramentos da operação Lava Jato em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa. A conversa da professora com a jornalista e apresentadora Luiza Glória pode ser ouvida aqui.