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David Lynch lotou auditório da Reitoria em conferência da série 'Sentimentos do mundo'

Cineasta, que morreu nesta quinta-feira, esteve na UFMG em 2008; estudantes formaram filas para ouvir as ideias do diretor norte-americano

À espera do evento, as pessoas fizeram fila que contornou o espelho d'água na parte externa do prédio da Reitoria
À espera do evento, as pessoas fizeram fila que contornou o espelho d'água na parte externa do prédio da Reitoria Foto: Filipe Chaves

O cineasta David Lynch, que faleceu nesta quinta-feira, dia 16, aos 78 anos, esteve na UFMG em 2008 para o lançamento do seu livro Em Águas profundas: criatividade e meditação. Diretor de Veludo Azul e Cidade dos Sonhos, que renderam indicações ao Oscar de melhor diretor, da primeira adaptação da obra Duna e da famosa série Twin Peaks, Lynch falou para mais de 700 estudantes da UFMG, que formaram filas imensas três horas antes do evento para conseguir um lugar para assistir à palestra.

Na ocasião, Lynch conversou com o público no auditório da Reitoria, respondendo perguntas sobre as suas obras, seu processo criativo e sobre meditação, hábito que costumava praticar. A palestra fez parte da série Sentimentos do mundo, que integrava as comemorações dos 80 anos da UFMG. 

Em sua fala, David Lynch destacou que o ponto central de seu trabalho eram as ideias. Ele disse que o artista deveria encontrar a ideia que o inspirasse e que guiasse o seu processo criativo. Para ele, o mundo era cheio de idéias e cada pessoa, com o seu modo de enxergá-lo, encontrava o ponto que poderia dar o rumo de seu trabalho.

Cercado de estudantes entusiasmados, o diretor reafirmou sua paixão pela tela grande do cinema que, segundo ele, com o som, a luz baixa e o ambiente silencioso, criava um universo paralelo, um mundo novo para onde o espectador se mudava durante a exibição. O diretor, que receberia 11 anos depois (2019) um Oscar honorário pelo conjunto de sua  obra, acreditava, contudo, que a tecnologia digital já havia superado a película. 

“O digital é mais bonito, moderno. O formato antigo produziu muitas coisas espetaculares, de que eu gosto muito, mas ficou ultrapassado. Se eu tivesse que trabalhar com ele de novo, preferiria me matar”, brincou David Lynch, pouco antes de se despedir da plateia.

Maria Esther Maciel, David Lynch, Sandra Regina Goulart Almeida e Heitor Capuzzo em mesa em 2008
Maria Esther Maciel, David Lynch, Sandra Regina Goulart Almeida e Heitor Capuzzo no auditório da reitoriaFoto: Filipe Chaves

Também participaram do evento a professora Maria Esther Maciel, da Faculdade de Letras (Fale), e o professor Heitor Capuzzo, da Escola de Belas Artes (Eba). Segundo Maria Esther, o diretor trabalhava com a estética do pesadelo, dos sonhos confusos e usava elementos como cores saturadas e ângulos fantásticos no seu processo criativo. A professora fez, ainda, um resgate histórico dos filmes de Lynch, citando seus primeiros curtas de animação, datados de 1966, culminando com O homem elefante, de 1980, um dos grandes sucessos de Lynch, indicado a oito Oscars.