Feira de Artesanato do Jequitinhonha, que comemora 25 anos, começa na segunda, dia 5
Cerca de 100 artesãos de 27 municípios estarão reunidos no campus Pampulha; semana será marcada por arte, cultura e homenagens

A partir da próxima segunda-feira, 5 de maio, a Praça de Serviços do campus Pampulha voltará a abrigar a Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha UFMG. O evento, que seguirá até sábado, dia 10, completa 25 anos de existência e homenageará mestres de ofício e ex-coordenadoras. A entrada é gratuita e aberta a toda a população.
Nesta edição comemorativa, a feira vai reunir cerca de 100 artesãos, de 27 municípios e 55 associações do Vale do Jequitinhonha, que vão oferecer amostra significativa da vasta produção de artesanato em tear, bordado, tecelagem, cerâmica, madeira e palha, além de produtos da agricultura familiar da região, localizada no Nordeste de Minas Gerais.
A expectativa é de que cerca de 20 mil pessoas visitem a feira ao longo dos seis dias do evento, que é realizado pela Pró-reitoria de Cultura da UFMG (Procult), por meio do programa Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha.

'Histórias de vida, trajetórias'
De volta ao mês de maio, na semana que antecede o Dia das Mães, a 24ª edição da Feira será recheada com sessões diárias de arte e cultura e tributos aos mestres de ofício Geraldo da Viola, luthier de Capelinha, e Gilson Alves Menezes, de Itaobim, e às ex-coordenadoras Márcia Fonseca Rocha (2001 a 2008), Terezinha Furiati (2009 a 2016) e Cida Moura (2017 e 2018), além da coordenadora do programa Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha, Maria das Dores Nogueira.

A Feira do Jequitinhonha, como é conhecida, chega a um quarto de século como o mais importante espaço de comercialização, em âmbito nacional, para os artesãos do Vale e um importante e longevo projeto de extensão cultural da UFMG. Sérgio Diniz, produtor cultural e coordenador da feira desde 2019, afirma que a comemoração do aniversário é “uma oportunidade de contar a história desse projeto tão importante para os artesãos do Vale e a comunidade da UFMG, inclusive reunindo pessoas que estiveram à frente do evento ao longo dos anos’. Segundo ele, a própria programação cultural foi pensada para “oferecer espetáculos que falem de histórias de vida, de trajetórias”.
Arte e cultura
Diariamente, de segunda a sexta, às 12h30, espetáculos de música, dança e teatro vão ocupar a tenda da Praça de Serviços. Na segunda-feira, 5, o cantor e compositor João de Ana, de Pedra Azul, apresentará o show de seu álbum de estreia Dignidade; terça, dia 6, a Insensata Cia de Teatro encenará o espetáculo Chuá, em que quatro lavadeiras conduzem o público pelo leito de um rio de memórias; na quarta-feira, 7, o grupo de dança Sarandeiros abre a programação do dia, que terá ainda as homenagens, o lançamento do livro Trilhos arrancados, de Marcello Giffoni, e a exibição do filme Estrada natural, de Emerson Penha.
Na quinta, dia 8, a atriz, palhaça e cordelista Bianca Freire vai apresentar o espetáculo 3 contos de amor, em que costura memórias familiares, costumes, expressões regionais e brincadeiras, por meio de cordéis de sua autoria; por fim, no dia 9, sexta-feira, a cantora Neltinha Oliveira, residente em Turmalina, fará show de músicas caipiras, sertanejas e cantigas de roda.

25 anos de valorização da arte do Jequitinhonha
A Feira de Artesanato é vinculada ao Programa Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha, que, criado em 1996, consolidou a presença da Universidade na região que é marcada por características sociais, econômicas e culturais peculiares e profundas desigualdades. “Atuar na região do Vale do Jequitinhonha exigiu de todas as equipes do Programa uma postura de extremo respeito e valorização de sua diversidade étnica e cultural do Vale, dos conhecimentos, saberes e fazeres que as comunidades e suas populações detêm, produzem e disseminam”, conta Marizinha Nogueira, coordenadora do programa. “Apesar da riqueza de um artesanato singular, conhecido em várias regiões do mundo, seus artesãos ainda precisam enfrentar as dificuldades de comercialização e, até mesmo, de acesso à matéria-prima.”

A ideia de promover um evento que pudesse pôr os artesãos do Vale do Jequitinhonha em evidência na capital mineira surgiu em setembro de 2000, durante uma edição da Semana do Conhecimento UFMG. No ano seguinte, ficou decidido que era melhor realizar a Feira na semana que antecede o Dia das Mães, data comercialmente mais favorável.
Márcia Fonseca Rocha, coordenadora da feira entre 2001 e 2008, relembra que estar à frente da Feira do Jequitinhonha durante suas primeiras edições foi “uma experiência riquíssima”. O artesanato, segundo ela, é resultado de um trabalho de pessoas sensíveis e criativas. “Muito mais do que expor e vender os mais variados tipos de peças, gerando renda para as famílias do Vale, a Feira se tornou um espaço de troca entre o conhecimento acadêmico e a sabedoria popular.”
Em 2003, foi realizado um diagnóstico da produção do Vale por meio de entrevistas com os artesãos presentes. Também foram criadas publicações para orientá-los a se organizar em cooperativas e associações, uma demanda deles próprios. “Lançamos o Guia para as associações, um roteiro de como criar e manter uma entidade do gênero. Isso tudo foi agregando e fortalecendo a relação da UFMG com os artesãos do Vale”, conta Terezinha Furiatti, que coordenou a Feira de 2009 a 2016.
Dimensões simbólicas e práticas
Desde então, sempre com a intenção de promover o diálogo entre os saberes acadêmicos e populares, artesãos têm ministrado oficinas diversas como as de cerâmica, trançado em taboa, bordado, tecelagem, na Escola de Belas Artes e no Centro Pedagógico da UFMG.
“Compreendo a Feira como uma verdadeira tecnologia social. Um espaço onde se articulam dimensões simbólicas e práticas: valores comunitários, metodologias tradicionais, processos de resolução de problemas e formas plurais de pertencimento e expressão. É um território de circulação de saberes orientados ao bem comum, que reafirma, ano após ano, a vitalidade e a importância da arte popular como instrumento de transformação”, enfatiza a professora Cida Moura, que coordenou a feira em 2017 e 2018.
Nos anos de 2020 e 2021, em razão da pandemia de covid-19, o Polo Jequitinhonha realizou uma mostra virtual em seu site e tirou partido também da divulgação em redes sociais. Em 2022, a feira ocorreu em setembro, em formato presencial. Em 2023, voltou ao seu período tradicional, nos primeiros dias de maio. No ano seguinte, a feira foi mais uma vez realizada de forma atípica em setembro, em razão de greve dos servidores técnico-administrativos.
24ª Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha UFMG
5 a 10 de maio
Praça de Serviços do campus Pampulha (Avenida Antônio Carlos, 6.627 – Pampulha, BH)
Segunda a sexta-feira, das 9h às 18h; sábado, das 9h às 14h

Programação cultural
Todos os eventos, com acesso gratuito para todos os públicos, serão realizados na Praça de Serviços, no campus Pampulha.
Segunda, 5 de maio, às 12h30
Dignidade – show de João de Ana, acompanhado de Marcelo Fonseca (violino e vocais)
Terça, 6 de maio, às 12h30
Chuá! – espetáculo da Insensata Cia de Teatro
Quarta, 7 de maio
12h30 – Grupo de dança Sarandeiros, da UFMG
16h30 – Homenagens aos mestres e às ex-coordenadoras da Feira
17h30 – Lançamento do livro Trilhos arrancados, de Marcello Giffoni, e exibição do filme Estrada natural, de Emerson Penha
Quinta, 8 de maio, às 12h30
3 contos de amor – espetáculo teatral de Bianca Freire
Sexta, 9 de maio, às 12h30
Neltinha Oliveira – show musical

Foto: Gabriel Lisboa | UFMG