Arte e Cultura

Festival de Verão resgata e celebra história das ações da UFMG na área da cultura

Ao longo de quatro dias, evento vai promover debate sobre as memórias e reunir relatos e documentos de mais de seis décadas

Cena do Festival de Inverno de 1999, em Ouro Preto
Cena do Festival de Inverno de 1999, em Ouro Preto Foto: divulgação | UFMG

A história das ações culturais na UFMG atravessa muitas décadas, com atuação de diversos setores e agentes, que movimentam tanto a comunidade interna quanto a externa. Há muito que contar dessa trajetória, muita memória para ser registrada, organizada e divulgada. E a isso que se propõe a 17ª edição do Festival de Verão da UFMG, que terá início na terça-feira, 28.

Atividades como rodas de conversa, oficinas e apresentações artísticas serão dedicadas, sobretudo, à produção e à divulgação dessa memória, com foco principal no período que vai da década de 1960 ao início dos anos 1980. “Ao longo do evento, serão coletados depoimentos em aúdio e produzidos filmes e exposições. Estamos falando dos tempos difíceis de ditadura militar, um dos mais importantes para a produção cultural da UFMG, que foi polo de resistência e articulação de pensadores e artistas”, afirma o pró-reitor de Cultura, Fernando Mencarelli.

Após duas edições realizadas on-line em decorrência das medidas de proteção contra a covid-19, o Festival de Verão UFMG retoma sua programação presencial em diversos espaços da Universidade. O tema do evento é Cultura, memória e democracia: ação cultural na universidade nas décadas de 1960 a 1980. A programação, toda gratuita, está informada no site do evento

A reitora Sandra Regina Goulart Almeida identifica semelhanças entre o período histórico vivido pelo país durante a ditadura militar e os atuais tempos marcados por ameaças autoritárias e de desvalorização da cultura e das políticas públicas. “O resgate da história da cultura na UFMG neste momento importante de retomada e valorização das ações culturais se coaduna com a criação da Procult, que mostra a resiliência da cultura na nossa instituição. Temos um imenso trabalho pela frente. Certamente, a cultura brasileira e, em especial, a que é produzida no ambiente universitário exercerão papel importante nesse processo de reconstrução do país”, afirma a reitora.     

Mencarelli:
Mencarelli: articulação de pensadores e artistasFoto: Foca Lisboa | UFMG

Políticas, artistas e resistência
Em cada um dos quatro dias do Festival de Verão, haverá uma conversa sobre um aspecto diferente do grande tema Cultura e memória: ações e políticas culturais na UFMG, grupos de artistas, cultura e conhecimento, resistência e retomada. Desses encontros participarão nomes como a deputada federal Célia Xakriabá, doutoranda em Antropologia Social pela UFMG, Geraldo Moreira Guedes, pró-reitor de Extensão da Universidade de 1985 a 1990, Eduardo Moreira, do Grupo Galpão (formado durante o Festival de Inverno, em 1982), Arnaldo Alvarenga, professor das graduações em Teatro e Dança da Escola de Belas Artes, Evandro Lemos e Lúcia Pimentel, professores da UFMG e curadores desta edição do Festival de Verão.

Um dos pontos fortes da programação da 17ª edição do Festival de Verão é a restauração de imagens de ações culturais desenvolvidas no período da ditadura, coordenada pela professora Jussara Vitória, da EBA. Esse trabalho resultará na produção de documentário. “Esperamos que o resultado dessa produção de registros sobre a memória das ações na Universidade possa contribuir para a construção de uma democracia fortalecida, de uma política nacional e universitária que reconheça a importância estratégica da cultura”, comenta Fernando Mencarelli.

O pró-reitor salienta que a UFMG é um dos principais produtores de cultura de Minas Gerais, com marcas como a longevidade, a diversidade, o amplo alcance de público e uma boa distribuição no território. “A Universidade também é, historicamente, uma importante mediadora. Temos grupos antigos, como o coral Ars Nova e o grupo de dança Sarandeiros, e o Festival de Inverno da UFMG, com quase 60 anos de existência. Foi pioneiro como evento multiartístico, inaugurou uma forma de trabalhar arte e cultura, dentro e fora da Universidade”, afirma.

Eduardo Moreira:
Eduardo Moreira, do Galpão, é um dos artistas ligados à história da cultura na UFMG Foto: acervo do Grupo Galpão

Ele enfatiza também que a UFMG produz eventos formativos e difunde produção cultural de ponta. Nos últimos tempos, aumentou a participação da instituição na elaboração de políticas públicas, em parcerias com o estado e as cidades de Belo Horizonte e Contagem, e intensificou-se a atuação da Universidade em regiões como o Vale do Jequitinhonha.

“A presença da UFMG no cenário da cultura se fortalece ainda com a participação no Fórum de Gestão Cultural das Instituições de Ensino Superior, que promove a integração das políticas desenvolvidas pelas universidades”, diz Mencarelli, que destaca também a preocupação da administração com a gestão do patrimônio da UFMG – composto de bens tombados e vasto acervo artístico – e a participação ativa em políticas locais e nacionais relacionadas ao patrimônio.

Depoimentos e objetos

Uma das preocupações principais da curadoria do festival é reunir memórias – seja na forma de depoimentos ou de materiais diversos – de quem viveu de alguma forma a história da produção cultural na UFMG. Na Cabine da memória, instalada no Conservatório UFMG, serão gravados áudios e vídeos por pessoas convidadas e por outras que se apresentem espontaneamente. Na oficina Expor as memórias – que terá atividades todos os dias, pela manhã, no Centro Cultural UFMG, serão coletados objetos (fotos, registros gráficos etc.) e relatos de lembranças (próprias ou de pessoas próximas) para compor uma exposição. O processo da oficina será documentado, e uma mostra virtual será produzida para as plataformas da Pró-reitoria de Cultura.

Lúcia Pimentel:
Lúcia Pimentel: memórias afetivasFoto: acervo pessoal

A professora Lucia Gouvêa Pimentel, da Escola de Belas Artes, uma das curadoras do Festival de Verão, lembra que há pouquíssimo material remanescente e organizado das décadas de 1960 e 1970, daí a importância de convocar as pessoas que tiveram alguma participação nos eventos promovidos pela Universidade. “Nossa intenção é reunir material para uma ‘linha do tempo’, mas também memórias afetivas. Estamos falando de um tempo em que as produções não partiam de políticas culturais concebidas de forma consistente, como é hoje, mas eram motivadas, em grande parte, pela ideia de resistência e resiliência”, diz a professora aposentada, que ainda atua no Programa de Pós-graduação em Artes.

Com atuação intensa nas produções da UFMG ao longo das décadas – ela coordenou projetos como as Jornadas Culturais, promovidas em diferentes municípios de Minas –, Lúcia destaca que a UFMG é, tradicionalmente, uma das universidades que mais investem em ações culturais e que “resgatar memórias é fundamental também para a definição de políticas para o presente e para o futuro, adequadas ao mundo em que vivemos”. A experiência na área de Relações Internacionais da UFMG, nos anos 2010, mostrou a Lúcia Pimentel que o investimento de uma instituição como a UFMG na cultura pode ser um relevante fator de atração de universidades estrangeiras interessadas em cooperação.

Evandro Lemos:
Evandro Lemos: restauração de peças audiovisuaisFoto: acervo pessoal

Antigas produções e novos processos
Outra vertente essencial do evento deste ano é a da pesquisa, recuperação e divulgação de filmes e outros produtos audiovisuais. A criação do Colégio Universitário, a construção do campus Pampulha e os movimentos da reforma universitária são temas de algumas das peças que contam a história da UFMG.

“Encontramos várias obras, algumas estão sendo restauradas. Quatro filmes sobre o Festival de Inverno serão exibidos em sessões comentadas. Todo esse material dá a dimensão da importância da cultura para a UFMG”, afirma o outro curador do festival, professor Evandro Lemos, colega de Lucia Pimentel na EBA e no grupo de pessoas com forte participação histórica nas iniciativas culturais da UFMG.

“Vamos reviver antigas produções e, ao mesmo tempo, alimentar novos processos de produção e novas linhas para políticas de ação cultural”, conclui Lemos, que foi pró-reitor de Extensão por dois mandatos e diretor por oito anos do antigo Centro Audiovisual, responsável pela produção de eventos e material didático audiovisual.

Abertura e oficinas
O evento será aberto no dia 28 de fevereiro (terça-feira), às 18h30, no auditório do Conservatório da UFMG (Avenida Afonso Pena, 1.534, Centro). Haverá roda de conversa sobre Cultura e memória e uma apresentação de alunos do Teatro Universitário da UFMG. Os locais de realização das atividades do Festival são o Centro Cultural UFMG, o Conservatório UFMG e o Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG.

As oficinas do festival de Verão recebem pré-inscrição por meio de formulário, que ficará aberto até as 20h do dia 27 de fevereiro, segunda-feira. Para confirmar a pré-inscrição, o participante deverá comparecer ao local de realização até 30 minutos antes do início da atividade.

As oficinas são gratuitas, e as vagas são limitadas – o preenchimento será por ordem de recebimento das pré-inscrições. Em caso de dúvidas, cancelamentos ou outras questões, é preciso fazer contato pelo telefone (31)3409-8300, de segunda a sexta, das 10h às 12h30 e das 13h30 às 19h.

Serão emitidos certificados de participação para os alunos que, devidamente inscritos nas oficinas, obtiverem no mínimo 75% de participação. Também valerão certificados as sessões comentadas de filmes e os encontros sobre cultura e memória.

Itamar Rigueira Jr., com Assessoria de Comunicação da Procult