Pesquisa e Inovação

Kit diagnóstico para covid-19 criado na UFMG é mais barato e favorece testagem em massa

Método, cuja patente foi depositada recentemente, usa plataforma consagrada em laboratórios de análises clínicas

Pesquisadora trabalha com o kit de testagem em laboratório do ICB
Pesquisadora trabalha com o kit de testagem em laboratório do ICB Arquivo pessoal

Grupo de pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, em parceria com outras instituições, acaba de depositar a patente de um teste de baixo custo e alto desempenho para o diagnóstico do Sars-CoV-2. O exame custa menos de R$ 1 por paciente, o que possibilitará que o Sistema Único de Saúde (SUS) realize testagem em massa, monitorando a população e adotando medidas sanitárias mais assertivas de controle da pandemia. O teste, que se vale de plataforma já consagrada em laboratórios de análise, é realizado com amostra sanguínea. O resultado sai em apenas duas horas.

Segundo o professor Rodolfo Cordeiro Giunchetti, do Departamento de Morfologia do ICB e coordenador da pesquisa que deu origem ao kit de diagnóstico, a tecnologia desenvolvida é baseada na detecção de anticorpos. “Se a pessoa já entrou em contato com o Sars-CoV-2, seu organismo produz anticorpos. O nosso kit avalia três tipos de anticorpos (IgG, IgA e IgM), possibilita uma varredura na população e pode ser aplicado em larga escala. Será possível realizar milhares de exames em um dia”, explica.

Giunchetti acrescenta que uma das vantagens da nova tecnologia é que ela pode ser produzida integralmente no Brasil, levando em conta que a área de biotecnologia no país é incipiente e depende muito da importação de insumos. “É extremamente positivo para o país fabricar um produto cujos insumos possam todos ser feitos aqui”, avalia o professor.

Capital intelectual
Ao longo da pandemia, o grupo de pesquisa liderado por Giunchetti desenvolveu mais de 20 testes de diagnóstico para a covid-19. Segundo ele, cinco patentes foram depositadas, incluindo esta última, e outras cinco estão em processo de depósito. O grande número de tecnologias desenvolvidas pela UFMG é, como salienta o professor, uma prova do capital intelectual diferenciado existente na instituição.

Giunchetti: precisamos reter os talentos formandos em nossas instituições de ensino
Giunchetti: necessidade de reter talentos formados nas instituições de ensino brasileirasArquivo pessoal

“Os pesquisadores e professores das universidades públicas brasileiras conseguem resolver problemas de qualquer área do conhecimento. Temos um conjunto de especialistas com capacidade incrível de desenvolver tecnologia. Está cada vez mais claro que necessitamos de políticas públicas que fomentem o desenvolvimento tecnológico, visto que isso geraria dinheiro para o país e frearia a fuga de cérebros. O Brasil precisa aproveitar a mão de obra altamente qualificada que forma, estimulando a geração de conhecimento e movimentando a economia", analisa.

O desenvolvimento do teste foi co-coordenado do professor Alexsandro Galdino, da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), e contou com a parceria da Federal de Lavras (Ufla), da Federal da Integração Latino-americana (Unila) e da Fundação de Ensino e Tecnologia de Alfenas (Unifenas).

Rodolfo Giunchetti acrescenta que, como a Universidade não pode produzir e comercializar as tecnologias que desenvolve, a transferência para indústrias de biotecnologia é essencial para que os produtos cheguem ao mercado. No caso do último teste para diagnóstico da covid-19 criado pelos pesquisadores, ele revela, o grupo já está em contato com empresas brasileiras para a produção industrial do kit. “Depois dessa etapa, o teste chegará rapidamente ao mercado e poderá melhorar a atuação do SUS no combate à pandemia", conclui o professor do ICB.

Luana Macieira