Coberturas especiais

“O bolsonarismo se aproxima da autodestruição”, avaliam professores da Faculdade de Direito

Professor Thomas da Rosa Bustamante, um dos autores de artigo que avalia a ideologia bolsonarista em meio à pandemia, conversou com o programa Conexões

Presidente Bolsonaro, durante pronunciamento à nação, na semana passada
Presidente Bolsonaro, durante pronunciamento à nação, na semana passada Foto: Isac Nóbrega/PR / Fotos públicas / CCBY-NC2.0

“Ou os fatos e a ciência vão destruir o bolsonarismo. Ou o bolsonarismo vai nos destruir”. Essa opinião é do professor Thomas da Rosa de Bustamante, da Faculdade de Direito da UFMG, dada em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, nesta quinta-feira, 26.

Dois dias antes, coincidentemente no mesmo dia em que o presidente Jair Bolsonaro faria discurso contrariando as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do próprio Ministério da Saúde em relação à pandemia do novo coronavírus, foi publicado, no International Journal of Constitutional Law, o artigo Bolsonarism and COVID-19: Truth Strikes Back, de autoria de Thomas Bustamante e do colega Emilio Peluso Neder Meyer, também professor da Faculdade de Direito da UFMG.

"Parece que a gente previu o que ele ia dizer. E dava muito claramente para prever. Porque é da própria natureza do bolsonarismo a ideia de negar a ciência, de trazer a opinião para o mesmo status da ciência”, afirmou Bustamante.

Para o professor, o bolsonarismo, ideologia capitaneada por Jair Bolsonaro, não se restringe à figura do presidente. “É uma ideologia política, que combina dois ingredientes que estão sendo muito tratados na literatura recente”, destacou. 

Um desses elementos é o “iliberalismo”, "que faz com que as instituições liberais se comportem de uma maneira não liberal". Aliada a ele, segundo o professor, está o populismo, que “é a ideia de que você contrapõe o povo - entendido como uma massa unificada e indiferenciada, à qual o líder tem acesso direto - e algum inimigo, algum outro grupo".

"A ideia básica do bolsonarismo é que você pode governar sem ter que responder pelos seus erros. A ideia de que você pode acreditar no que quiser e de que o que importa é o discurso, um discurso que coloque em evidência as ideias do Bolsonaro”, resumiu Bustamante.

Thomas Bustamante destacou também, durante a entrevista, que não é possível pensar numa coerência entre a ideologia bolsonarista e a atuação do presidente neste momento. "Porque ela é constitutivamente incoerente. Ela só funciona se for incoerente. Ela não raciocina com base na racionalidade. O cálculo estratégico para essa ideologia se manter no poder é a capacidade de mobilizar as paixões de seus seguidores", afirmou.

O professor lembrou ainda que outros líderes mundiais tiveram discurso inicial, de defesa da economia e contrário às medidas de isolamento, próximo ao de Bolsonaro. Entre eles, estão o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, diagnosticado com o coronavírus.

"Eles mesmos voltaram atrás e adotaram uma política de confinamento. O Bolsonaro, não. Ele insiste. Ele está levando a sua ideologia ao extremo. Está fazendo uma aposta muito alta e, de repente, a classe política inteira percebeu que não dá para segui-lo neste momento”, destacou.

Ouça a conversa com Luíza Glória

Produção de Arthur Bugre