Opinião

Programa que pesquisa biodiversidade brasileira lança sua agenda científica

Em artigo, Geraldo Wilson Fernandes, do ICB, coordenador do PPBio, apresenta ações e objetivos recém-estabelecidos; iniciativa reúne cerca de 60 instituições

O gavião-real habita a floresta amazônica amazônica e outras formações florestais
O gavião-real habita a floresta amazônica e outras formações florestais William Magnuson | Divulgação

O Programa Brasileiro de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio), criado em 2004 pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, visa principalmente à ampliação do conhecimento sobre a biodiversidade brasileira. Coordenado na UFMG, o PPBio é composto de cerca de 60 instituições de ensino e pesquisa, organizadas em sub-redes que abrangem todos os biomas presentes em território nacional: Amazônia, Caatinga, Campos Sulinos, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal.

Além de obter informações básicas sobre a biodiversidade, o programa também gera conhecimento com base nessas informações – por exemplo, por meio da compreensão de processos ecológicos que afetam e são afetados pelos padrões de distribuição da biodiversidade. Com base nesse novo conhecimento, são elaborados documentos norteadores de políticas públicas que afetam a biodiversidade e estão relacionados a atividades como o uso sustentável dos recursos, a proteção de recursos naturais e a educação ambiental.

Cadeia de conhecimento do PPBio
Cadeia de conhecimento do PPBio PPBio

Agenda Científica apresenta em detalhes os objetivos, as metas e linhas de ação do programa. Os três objetivos e suas respectivas metas são direta ou indiretamente relacionados aos temas discutidos durante a 26ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre o Clima (COP26), realizada em Glasgow, na Escócia.

O primeiro objetivo do PPBio é “assegurar a conservação da biodiversidade, a integridade e a funcionalidade dos habitats e ecossistemas” – e uma das metas vinculadas a ele é “aumentar o entendimento das causas e mecanismos de mudança e pressão sobre a biodiversidade e ecossistemas”. O segundo objetivo é “assegurar a manutenção e a provisão dos serviços ecossistêmicos”. O terceiro é “promover ações de adaptação e mitigação da pressão das atividades antrópicas sobre a biodiversidade e os ecossistemas”.

Para esse último objetivo é estabelecida a meta que se relaciona de maneira mais direta ao tema da COP26: “entender os efeitos das mudanças climáticas, mudanças no uso da terra, poluição, sobre-exploração e invasão de espécies não nativas, bem como desenvolver estratégias de mitigação”.

Diante do contexto atual, discutido na conferência de Glasgow, marcado pelas mudanças climáticas e pela ocorrência mais frequente de eventos adversos (secas, incêndios, enchentes, entre outros), o conhecimento sobre a biodiversidade é mais que fundamental. O conhecimento gerado pelo PPBio possibilita entender a real situação da conservação da biodiversidade brasileira, os fatores que ameaçam a sua continuidade, as lacunas do conhecimento e uma série de consequências da perda dessa biodiversidade nas escalas local, regional, nacional e até global.

Vale ressaltar que o Brasil, país que abriga a maior diversidade de espécies de plantas e animais do planeta, tem papel central nos temas relativos à conservação e provisão de serviços ecossistêmicos que ultrapassam os limites do território nacional. Esse protagonismo do Brasil é limitado pela falta de conhecimento sobre nossa biodiversidade, e, por isso, o PPBio desempenha papel tão importante. O programa busca essas informações por meio de uma rede que abrange todo o país.

Geraldo Wilson Fernandes | professor do ICB-UFMG e coordenador do PPBio