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Representatividade LGBT nas eleições municipais de 2020

Gui Mohallem, artista visual e ativista no #VoteLGBT, comenta a representatividade LGBT na política e nas eleições deste ano

Duda Salabert, sua esposa Raíssa e sua filha Sol.
Duda Salabert, sua esposa Raíssa e sua filha Sol. Foto de arquivo pessoal disponível no Facebook da vereadora Duda Salabert.

A primeira vereadora trans da história do legislativo em Belo Horizonte foi eleita. Duda Salabert, do PDT, foi a candidata com o maior número de votos na história da nossa Câmara Municipal. A primeira trans a se eleger para a câmara municipal de Aracaju, Linda Brasil, do Psol, também foi a mais votada entre todos os eleitos na capital sergipana. Dois transexuais estão entre os dez vereadores mais votados da cidade de São Paulo: Thammy Miranda, do PL e Erika Hilton, do PSOL. Esses são alguns exemplos das mais de 60 eleições de representantes LGBT em todo o Brasil, um marco histórico em toda a política brasileira. O Conexões recebeu nesta terça, dia 17, Gui Mohallem, que é artista visual, ativista e membro do coletivo #VoteLGBT para comentar a representatividade LGBT na política e nas eleições 2020. O #VoteLGBT é um coletivo que desde 2014 busca aumentar a representatividade LGBT+ em todos os espaços, principalmente na política. 

O Vote LGBT mapeou 454 candidaturas LGBT nas eleições municipais 2020 em todo o país. Em 2016, ano das últimas eleições municipais, foram 256 candidatos, esses mapeados pela ONG Aliança Nacional LGBTI+. É um aumento progressivo observado ao longo dos anos. Gui Mohallem relaciona esse aumento de candidaturas trans principalmente com a possibilidade do uso do nome social no título de eleitor desde 2018. Dessa forma, elas não são expostas a esse tipo de violência que é ter o nome de registro divulgado. Essa foi a primeira eleição municipal desde então.

Por outro lado, os números de candidaturas não são exatos porque não existe uma relação oficial desses dados. O que existe são mapeamentos. Se por um lado pode ser interessante que os dados de identidade LGBT sejam fornecidos na candidatura, Gui Mohallen alerta também sobre o risco de essas pessoas terem os dados divulgados em um órgão nacional. A falta de uma relação oficial desses dados pode enfraquecer essas candidaturas por não permitir a possibilidade de haver recursos direcionados, mas, o artista visual relembra que as candidaturas eleitas venceram apesar da falta de recursos e do apoio dos partidos.

É muito importante que a diversidade ocupe o espaço da política. “Com o resultado das eleições, mostra-se a força que temos como articulação. As paradas LGBT são as maiores manifestações políticas do mundo. 80% das pessoas que estão lá são por motivos políticos. A gente está começando a entender a importância desse processo de votar em corpos que também nos representam ou que também materializam lutas interseccionais (mulheres, negras, LGBTs). Porque elas não trazem apenas pautas relacionadas à gente, mas outras muito interessantes ligadas à educação, à saúde, ao cuidado, ao uso da cidade. É por isso que essas candidaturas são eleitas. Elas pensam a cidade, elas são os corpos que foram excluídos da cidade por muito tempo”, reflete o ativista.

“A gente é mulher, a maior parte da gente é negra. Por que quem lidera é um grupo que representa 20% da população? Quem desenha as leis, quem gerencia os nossos corpos, os nossos trânsitos, são homens brancos, héteros, cis que representam só essa parcela da população. Não faz sentido. Isso é uma mudança de caráter geológico. A Ventura Profana, que é uma artista trans, fala que está pensando o mundo para daqui a 100 anos. Não importa os resultados das eleições específicas, mas que estamos construindo uma coisa para o futuro”, pontua Gui Mohallem.

Ouça a conversa com Luíza Glória


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Produção: Paula Alkimin e Luíza Glória
Publicação: Isadora Oliveira, sob orientação de Luíza Glória