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UFMG lamenta morte da pesquisadora Flávia Amboss Merçon, vítima do atentado em Aracruz

Ela era doutora pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia e Arqueologia da Fafich e colaboradora do Gesta

Flávia Amboss:
Flávia Amboss: compromisso ético e políticoFoto: Arquivo Gesta

A pesquisadora Flávia Amboss Merçon Leonardo, doutora em Antropologia Social pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia e Arqueologia da UFMG e colaboradora do Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais (Gesta), morreu neste sábado, 26, vítima do atentado em Aracruz, no Espírito Santo, ocorrido na sexta-feira, 25. Flávia, que tinha 38 anos, era professora na Escola Estadual Primo Bitti, uma das duas atacadas a tiros por um adolescente de 16 anos. O corpo da pesquisadora será sepultado na tarde deste domingo, no cemitério Jardim da Paz, no município de Serra, na Região Metropolitana de Vitória. Outras três pessoas morreram no atentado e várias ficaram feridas.

A morte de Flávia Amboss causou consternação entre os colegas que trabalharam com ela no Gesta. “Flávia conviveu conosco nos últimos cinco anos, período em que pudemos desfrutar de sua companhia franca, alegre, sagaz, atenciosa e dedicada”, relataram os integrantes do Grupo em nota publicada em seu site e nas redes sociais. De acordo com o Gesta, Flávia era autora da tese Imprensados no tempo da crise: a gestão das afetações no desastre da Samarco (Vale e BHP Billiton) e a crise como contexto no território tradicionalmente ocupado na foz sul do rio Doce. “Foram anos de dedicação à pesquisa, da graduação ao doutorado, que, para além de refletir o desejo de saber, constituiu um compromisso político e ético de Flávia com os pescadores artesanais e a vida dos afetados pela lama de Fundão na vila de Regência Augusta, no litoral do Espírito Santo”, acrescentou o comunicado.

A reitora Sandra Regina Goulart Almeida também lamentou a morte da professora. “É com muita tristeza que recebemos essa notícia. Flávia era uma pesquisadora fortemente compromissada com a ciência, com a educação e com a justiça social, principalmente em razão de seu envolvimento com as populações afetadas pelo rompimento da barragem de Mariana”, destacou a reitora, ao mencionar o objeto de estudo da pesquisadora. A reitora defendeu que seja feita uma ampla reflexão sobre as causas da violência que vitimou Flávia, outras duas professoras e uma estudante em Aracruz. “Esse ciclo perverso de violência e radicalismo precisa ser rompido com investimentos em educação, em políticas públicas e no fortalecimento de uma cultura da paz”, afirmou Sandra Goulart.

Trajetória
Antes de ingressar no doutorado na UFMG, em 2017, Flávia Amboss havia cursado mestrado em Ciências Sociais na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), instituição na qual fez bacharelado e licenciatura em Ciências Sociais. Sua prática profissional correlacionava ensino, pesquisa e extensão nos seguintes temas: Territorialidades, Conflitos Ambientais, Justiça Ambiental e Ecologia Política, sempre em diálogo com povos tradicionais costeiros e rurais no estado do Espírito Santo.

Desde 2015, Flávia desenvolvia estudos no âmbito da crise desencadeada pelo desastre provocado pelo rompimento da barragem da Samarco em Mariana. Além de colaboradora do Gesta, atuava como pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Populações Pesqueiras e Desenvolvimento no Espírito Santo da Ufes.