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Brasil está ‘fora do radar’ das lideranças internacionais, diz Dawisson Lopes, do DCP

Em Nova Délhi, Dawisson Lopes falou sobre fragilidade institucional na América Latina
Em Nova Délhi, Dawisson Lopes falou sobre fragilidade institucional na América Latina Divulgação / Fórum Asiático sobre Governança Global

O Brasil e a América Latina “saíram completamente do radar das lideranças mundiais” no que se refere à governança global, na avaliação do professor Dawisson Lopes, do Departamento de Ciência Política (DCP). Essa foi uma das impressões mais fortes que ele trouxe de Nova Délhi, na Índia, onde participou, neste mês, do Fórum Asiático sobre Governança Global, que pôs em debate democracia, diversidade e desenvolvimento.

“A América Latina não esteve representada entre dirigentes de países e organismos multilaterais e não foi tema proposto para os debates. Está invisível. Parece que fomos dispensados de funções relacionadas à governança global”, afirma Lopes, um dos 40 jovens líderes, de 26 países, participantes do evento. Foram dez dias de programação intensa, os três últimos dedicados a encontros com membros de cúpulas de países como Canadá e Grã-Bretanha e organizações como as Nações Unidas.

Também chamaram a atenção do professor, que é um dos coordenadores do Centro de Estudos da Ásia Oriental, da UFMG, a perplexidade unânime com relação à eleição de Donald Trump – “ninguém sabe o que pensar e o que planejar sobre os novos Estados Unidos” – e a disposição da Índia para conquistar um lugar na mesa das grandes potências.

“O país mostrou autoestima elevada e confirmou que desponta com força no campo da ciência e tecnologia, especialmente a TI. Apesar da pobreza de boa parte da população, é o país que mais cresce”, conta Dawisson Lopes, que debateu com diplomatas, políticos e representantes de ONGs, bancos públicos e privados. Entre os acadêmicos presentes, ele era o único professor-pesquisador – os outros são vinculados a consultorias e governos.

Populismos
Em breve apresentação sobre a instabilidade institucional da América Latina, Dawisson Lopes tratou de experiências populistas no continente, à direita e à esquerda do espectro político. Ele mostrou que o fenômeno é tratado, por vezes, de forma caricatural por publicações internacionais.

“Revistas do mundo anglo-saxão têm afirmado que o populismo perde força na América Latina, mas o associam exclusivamente à esquerda e à centro-esquerda. Defendi que há populistas para todos os gostos e mencionei os casos de Peña Nieto, no México, Mauricio Macri, na Argentina, e Michel Temer, no Brasil.”

O pesquisador ressaltou também, em sua exposição, que as instituições estão sendo desafiadas na América Latina. “E elas têm fraquejado. Basta lembrar das recentes deposições de presidentes no Brasil, no Paraguai e em Honduras”, completou Lopes.

Dawisson Lopes passa a integrar uma rede que já conta com cerca de 1300 pessoas, com encontro marcado daqui a três anos, em Londres. E recebeu a incumbência de indicar o representante brasileiro para a próxima edição do fórum, em 2018. Essa indicação pode ser acatada ou não pelos organizadores. O Fórum é promovido pelo governo indiano, com apoio do Parlamento do país e do jornal alemão Die Zeit.